TV 247 logo
    César Fonseca avatar

    César Fonseca

    Repórter de política e economia, editor do site Independência Sul Americana

    765 artigos

    HOME > blog

    Meta inflacionária irrealista puxa juros e alta dos alimentos

    Os juros altos são os responsáveis pelos aumentos de custos de produção do setor industrial, comercial e de serviços, impactando os preços dos alimentos

    Sede do Banco Central, em Brasília 22/02/2022 REUTERS/Adriano Machado (Foto: ADRIANO MACHADO)

    Os juros altos puxados pelo BC – agora no patamar de 14,25%, um dos mais altos do mundo, conforme decidiu nesta quarta-feira –, para alcançar a meta inflacionária irrealista de 3% ao ano, são os responsáveis maiores pelos aumentos de custos de produção do setor industrial, comercial e de serviços, impactando, principalmente, os preços dos alimentos.

    A meta inflacionária, praticamente impossível de ser alcançada, conforme decisão do Conselho Monetário Nacional(CMN), é o parâmetro principal que leva o mercado financeiro especulativo a cobrar cortes de gastos sociais, em busca do déficit zero, como principal objetivo, por meio do juro alto.

    A lógica orçamentária direcionada para o déficit zero ou superávit primário de 0,5% do PIB, para limitar em 2,5% o crescimento dos gastos, conforme determina o teto de gastos, virou causa central da inflação, afetando os alimentos com a dose de juros elevada em nome da redução do consumo.

    As controvérsias entre os economistas, neste sentido, ampliam-se, porque, fora os que atuam no mercado financeiro, os demais, analistas dos setores industrial, comercial e de serviços, consideram que a inflação sofre choque de oferta e não de consumo.

    Os juros, por isso, precisam diminuir para aumentar a produção de bens e serviços, de modo a aumentar a oferta em relação à demanda para diminuir os preços.

    Com os juros mais altos, como acaba de decidir o BC Independente, os empresários, em vez de aumentarem a produção, apostam no mercado financeiro, onde faturam mais, sem precisar produzir.

    Ao mesmo tempo, diante do aumento de custo de produção, forçado pelo juro Selic extorsivo, os capitalistas, para manter constante sua taxa de lucro, diminuem os estoques e elevam os preços.

    Produzem, dessa forma, queda da procura, de um lado, e aumento da demanda relativa, de outro.

    Cenário protecionista agrava inflação - Os juros altos desequilibram o setor produtivo, o que tende a se acentuar, especialmente no cenário do protecionismo adotada pelo governo americano, que, nesta semana, taxou adicionalmente em 25% as importações americanas do aço brasileiro.

    A produção interna, com redução das exportações de aço, aumenta para o mercado interno, se os juros estivessem favoráveis aos investimentos.

    Como isso não ocorre, diante a insuficiência de consumo, decorrente da renda média baixa, o protecionismo pode induzir as empresas a diminuir a oferta e elevar os preços, para que os lucros se mantenham constantes ou em elevação.

    Ou seja, os setores produtivos, dependentes da oferta dos derivados de aço, aumentarão os preços, forçando inflação, no cenário protecionista, em que vigora juro Selic desproporcionalmente alto.

    O novo quadro econômico internacional muda as expectativas econômicas e exige maior realismo para a política econômica buscar novas acomodações, como, por exemplo, conviver com as taxas de juros em patamar realista.

    Se a média da inflação brasileira, segundo o IBGE, é de cerca de 5,5% a 6% ao ano, nos últimos 20 anos, para um déficit médio de 1,5% a 2% do PIB, continuar com uma projeção inflacionária irrealizável de 3%, como impõe o mercado financeiro, defensor de teto neoliberal de gastos, é apostar em juros cada vez mais altos.

    Do ponto de vista político, essa estratégia representa suicídio eleitoral, porque, invariavelmente, os preços dos alimentos consumidos pela maioria da população continuarão bombando.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

    ❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

    ✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

    iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

    Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

    Relacionados