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    Denise Assis

    Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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    Mídia dança pasodoble com Armínio Fraga, como há 10 anos, na Lava-Jato

    'Armínio Fraga quer dar prosseguimento à campanha do mercado para a substituição de Campos Neto no Banco Central', escreve a colunista Denise Assis

    Armínio Fraga (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil 247)

    Era jogo jogado. Para quem acompanhou cada passo da Lava-Jato de olho no rolo compressor feito pela mídia tradicional, à menor fumaça, procura o fogo. E, dessa vez, sem a menor cerimônia, a movimentação foi escancarada e em ritmo de pasodouble, numa coreografia firmemente conduzida, desavergonhadamente explícita.

    Na sexta-feira, dia 31/05, a articulista escrevia, depois da votação que teve placar 317 X 139, sem pudor, como quem chuta repolho amassado em fim de feira: “Se Lula continuar ignorando que muitos partidos no governo, com cargos e lauta liberação de verbas, não só lhe garantem a governabilidade no Legislativo, como fatalmente lhe darão as costas na campanha daqui a dois anos e meio, corre o risco de chegar a ela tendo que buscar os aliados de 2022 que até aqui não se dignou a ouvir para governar”.

    Não era preciso muito esforço para descobrir ali, nas entrelinhas, de que personagem ela estava falando.

    Mas eis que, no dia seguinte, na sexta-feira, dia 01/06, o desdobramento da estratégia se colocou em marcha, imprimindo o ritmo célere de sempre, e o astro em questão entrou em cena para, usando a própria voz, se colocar como a alternativa indignada, sábia e inevitável, para o Banco Central (ou alguém da turma da PUC). Em seu discurso, reverberou a defesa feita pela colunista da véspera, apresentando as credenciais de um ex-apoiador de ocasião. Na entrevista, o mesmo tom dado desde o título, no artigo da véspera: “Lula precisa resgatar a aliança que o elegeu” ...

    Ele mesmo, Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, se colocava publicamente, dando prosseguimento à campanha para que o mercado desse o rumo na substituição de Roberto Campos no posto de presidente da instituição que Fraga já presidiu, em gestão questionável, como bem demonstrou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Queria de volta os poderes da política monetária à luz do neoliberalismo injusto, que beneficia investidores e arrocha trabalhadores, encolhendo os seus ganhos, para sobrar mais ao rentismo.

    Não bastasse, lá foi Elena Landau, a dama da privatização, para o Estadão, replicar e intensificar a mensagem, tal como fizeram na campanha pela não indicação de Marcos Pochmann para o IBGE. A mesmíssima fórmula: velocidade, cartas abertas e tudo ao mesmo tempo agora, para dar a impressão de que o mundo estava pensando desse jeito! E que todos percebiam, menos o governo, que sua política monetária estava equivocada, que suas cobranças a Roberto Campos eram injustas! Que Lula, sim, estava na rua da amargura, e além de tudo era um ingrato, por não dar uma beiradinha em seu governo, para quem lhe deu apoio no evento de 11 de agosto de 2022, em que Fraga até fez discurso em sua defesa. Hoje, tanto tempo depois, relendo melhor o que disse, sua fala já soava no tom que o trouxe agora de volta à cena:

    “Mas eu falo com toda a convicção (...) que nós não temos um caminho que não o da liberdade, da democracia, da justiça. E é por isso que estamos aqui. É uma situação esdrúxula essa, mas toda a nossa energia, toda a nossa coragem tem que ficar nesse momento concentrada em salvar o que foi conquistado ao longo dos anos e o que é a base do nosso futuro”. Só faltou arrematar: “que é o capital”!

    Na ocasião, Armínio chegou até a falar da indecência da desigualdade social, com ar compungido. Mas, como no ditado baiano: quem não te conhece que te compre. Armínio Fraga estava onde sempre esteve, despendendo toda a energia para salvar o que lhe é mais caro. Não a democracia, mas a posição de guardião dos investidores, dos financistas, do mercado. Que se lixem os trabalhadores, esse indispensável e verdadeiro entrave na engrenagem da economia. Sem eles não há produção, mas com os seus salários o lucro é reduzido. Esse é um “lixo” que o empresariado não consegue varrer para debaixo do tapete. Essa é uma equação que eles não resolvem, mas Lula, com o apoio popular e fechando os ouvidos aos seus protestos, sabe que pode resolver.

    O Brasil tem 203 milhões de habitantes, que precisam comer, vestir e calçar. É um país que, com uma economia azeitada, quase se basta internamente.

    A receita neoliberal de Fraga, repetida para a Folha, é um samba de uma nota só: “Dois erros, porém, o preocupam mais: o desequilíbrio nas contas públicas, que eleva o endividamento brasileiro (a dívida bruta do país calculada pelo BC foi a 76% do PIB em abril, maior índice desde abril de 2022), e a pressão sobre as decisões do Banco Central em relação à taxa básica de juros (Selic), hoje em 10,5% ao ano”.

    O que dizer da dívida pública estadunidense, sua bússola, seu exemplo? De acordo com o portal: tradingeconomics.com, a dívida pública dos EUA (% Pib) em dezembro de 2023, era de 122,30% do PIB. Isso significa que a dívida total dos EUA era mais de 1,2 vezes o tamanho da economia do país. Então, senhor Fraga, pode ir dormir tranquilo. O Brasil está longe disso. E amanhã, quando o PIB for anunciado, refaça as suas avaliações.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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