Militares impedem ordem e progresso
"O governo Bolsonaro usou traje civil, mas foi um governo militar. E tentou se perpetuar por meio de um golpe de estado", diz Alex Solnik
De golpe em golpe, promovem a instabilidade e a fuga de capitais
Aconteceu mais uma vez. O golpe não deu certo, mas eles tentaram de novo.
Os militares não desistem.
Começou em 1889. Eles derrubaram D. Pedro II, mas, ao contrário do que se esperava, não promoveram eleições livres, simplesmente tomaram o lugar do imperador. Trocaram uma ditadura por outra.
Os governos Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto não duraram muito, de tão ruins que foram em todos os sentidos, mas em pouco tempo, os militares voltaram ao poder, em 1910, quando Hermes, o sobrinho de Deodoro, foi eleito. Mais um desastre. Ditadura, censura, prisões, assassinatos, traições. Altíssima instabilidade.
Os militares, mesmo com Hermes da Fonseca punido por seus desmandos, prosseguiram agitando o país, com os 18 do Forte, com a Coluna Prestes, provocando instabilidade política constante. E violência política, tiros, assassinatos.
Até que em 1930 tomaram de novo o poder aos civis. Puseram o presidente para fora do palácio praticamente a pontapés, liderados por Getúlio Vargas, que fundou uma ditadura com roupagem civil, uma falsa impressão, porque não há ditadura civil, toda ditadura é militar, uma ditadura só se sustenta pela força e quem tem tanques e tropas são os militares.
Os mesmos militares que puseram, tiraram Getúlio do poder quando os ventos viraram, em 1946, houve eleição para presidente e pimba! venceu outro militar, o marechal Eurico Gaspar Dutra. Mais um governo do atraso e dos desmandos.
Depois dele veio de novo Getúlio, desta vez eleito, mas o uso do cachimbo faz a boca torta, seus métodos não mudaram em relação aos que pôs em prática no Estado Novo e os dos militares também não, eles exigiram a sua queda definitiva em razão dos escândalos policiais e ele só não caiu porque preferiu se matar.
Os militares seguiram conspirando contra o presidente Juscelino, por duas vezes tentaram cortar suas asas, mas eram grupos minoritários, violentos, de extrema-direita, sequestraram um avião civil, como na “Revolta de Aragarças”, mas não tiveram sucesso.
Quando Jânio renunciou, aí sim, não foi um grupo minoritário, mas o Alto Comando quem falou grosso, não quis de jeito algum aceitar sua substituição institucional pelo vice João Goulart, até fingiu que aceitava por algum tempo, mas em 1964 deu um basta, iniciou uma ditadura diferente, não a ditadura de um homem só, mas de vários generais, “eleitos” dentro dos quartéis. Todos de quatro estrelas.
O Exército, que já era um estado dentro do estado, apoderou-se do estado.
E foram 21 anos de atraso.
Político, moral, científico, intelectual, cultural, industrial e econômico.
O Brasil, apesar de seu PIB, de seu imenso território, de seu celeiro de matérias primas, virou uma República das Bananas.
A ditadura caiu de podre, não foi derrubada, os militares praticamente entregaram o poder, eram uns incompetentes, os escândalos financeiros proliferavam, a inflação disparou, os crimes políticos ficaram públicos apesar da censura.
Pergunte a um investidor graúdo, desses que mexem com bilhões de dólares se ele quer fazer negócios num país onde não se sabe se amanhã vai ser democracia ou ditadura, se vai ter golpe ou não vai ter, não se sabe quem vai mandar.
Democracias são previsíveis, ditaduras são imprevisíveis.
Muito se fala que o Brasil é um exemplo inexplicável de atraso por causa da sua elite, por causa de seus governantes, por causa dos evangélicos, por causa dos entreguistas, dos conservadores, do “império”, mas pouco se inclui os militares no banco dos culpados, com suas constantes intervenções ou tentativas de intervenção que atrapalham investimentos e projetos do próprio país.
Os militares ficaram na muda de 1985 a 2018.
A agitação voltou com Bolsonaro, um ex-capitão expulso não formalmente por ameaçar explodir a distribuidora de água do Rio de Janeiro, eleito pelo voto direto, fez o pior governo da história republicana, mas, como eu já disse, militares estão acostumados com a ditadura dos quartéis, e não com o jogo democrático, ao perder a eleição ele não aceitou a derrota e tramou a sua permanência, contra tudo e contra todos.
Contra, inclusive, o Alto Comando das Forças Armadas, que não aceitou participar da conjura, mas se omitiu, o primeiro general convidado por Bolsonaro para o golpe deveria ter lhe dado voz de prisão.
O governo Bolsonaro usou traje civil, mas foi um governo militar.
E tentou se perpetuar por meio de um golpe de estado. Os militares só pensam em três coisas: armas, golpes e guerras.
Não deu certo porque os generais do Alto Comando não são malucos, sabem muito bem que nenhum país democrático iria reconhecer um governo implantado pela força. O Brasil ficaria isolado.
Não deu certo porque seria uma aberração cometerem o crime de golpe de estado para dar mais poder a um ex-capitão expulso do Exército.
Que teria inclusive mais poder para mandar neles.
O único pretexto que mobiliza os militares para um golpe é a ameaça comunista, mesmo falsa, como foi em 1937 e em 1964, porque a missão dos militares é proteger o país de invasões externas, como seria o comunismo.
Quando Bolsonaro fracassou em obter apoio das Forças Armadas, não se deu por vencido, apelou para o populismo, passou a insuflar uma insurreição popular para forçar o Exército a apoiá-lo.
Jogou seus apoiadores verde-amarelos contra as Forças Armadas.
Acendeu o rastilho de pólvora da insurreição de 8/1 - foi o último cartucho que queimou - e fugiu para os Estados Unidos.
Nunca mais vai queimar cartucho algum.
Mas isso não quer dizer que, um dia, os militares não vão tentar de novo atrapalhar o desenvolvimento do país.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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