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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Na sociedade do espetáculo, uma cadeirada não é nada

'Esse é o princípio que os aproxima de Jair Bolsonaro e Pablo Marçal: nada de lei, nada de regras', escreve a colunista Denise Assis

José Luiz Datena agride Pablo Marçal com cadeira durante debate da TV Cultura com candidatos a prefeito de São Paulo (Foto: Reprodução)

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Há algum tempo tento entender o que nos leva a ter no cenário político pessoas como Jair Bolsonaro e Pablo Marçal, necessariamente nesta ordem. Apelei para o filósofo Guy Debord, que nos legou o seguinte ensinamento:

“Nunca a tirania das imagens e a submissão alienante ao império da mídia foram tão fortes como agora. Nunca os profissionais do espetáculo tiveram tanto poder: invadiram todas as fronteiras e conquistaram todos os domínios – da arte à economia, da vida cotidiana à política -, passando a organizar de forma consciente e sistemática o império da passividade moderna.” (Dobord em: A sociedade do espetáculo: ContraPonto Editora-1997). Explica, mas por aqui há algo além. Voltando no tempo, no ano de 2019, pouco após a vitória de Bolsonaro, quando ele viajou a Nova Iorque e foi recebido na casa do embaixador Sérgio Amaral, em um jantar que reuniu a nata do submundo: Sergio Moro, Olavo de Carvalho e Jair, na mesma mesa, o recém-eleito disse que não havia vindo para construir nada. Sua chegada ao poder era para destruir. O guru e mentor “intelectual” (Rsrsrs), de Bolsonaro, aprovou. Era essa a proposta de suas teorias fascistas. Nada no lugar. Nenhuma instituição funcionando. Tudo refeito à luz das teorias fascistas. Ao Estado, nada. Aos cidadãos tudo que almejassem, fora da política.

Deu certo. Bolsonaro quase conseguiu empastelar os poderes, jogou a população contra o STF e concorreu ativamente para a morte de mais de 400 mil pessoas, segundo cálculos científicos, das 700 mil mortes pela Covid-19. Nada de vacinas, nada de empresas estatais, nada de combate ao desmatamento. Nada de vida. Apenas o poder.

Sua candidatura à presidência era vendida com falas contra “tudo o que está aí”. Só faltava – ao estilo hippie dos anos 70 -, bradar a palavra de ordem: “abaixo o sistema”.

Sua tese, embora viesse de um político tradicional, que há 28 anos transitava pelos corredores da política como deputado, fazendo sabe-se lá o quê, caiu como música nos ouvidos da gente comum, dos integrantes da classe C, que não almoçam Constituição, não se interessam por leis, a não ser quando ela os alcança e acham que o Estado só existe para lhes tungar o pouco que têm.

É disso que o povo gosta. Dos arroubos dos que transitam por todas as camadas, dando a impressão de serem alheios às regras, convenções, legislação.

A ideia de que transgridem e ninguém os pega, concedeu a Bolsonaro, e agora a Pablo Marçal, essa aura de “mito”, de seres superiores, que conseguiram o que eles tentam: andar para as leis e o “sistema” e escapar.

E nesse ponto receberam grande ajuda dos que alongaram os processos contra eles, usaram de todos os subterfúgios para não os punir e deixaram que Bolsonaro, Marçal e seus comparsas seguissem sem ser molestados por essa “chatice” de poderes Judiciário, Legislativo e regras constitucionais. E, a dar-lhes uma mãozinha, lá está o procurador geral da República, Paulo Gonet, que do mesmo campo ideológico, os leva a considerar que o crime compensa. (Só depois das eleições... Só depois do Natal...Só depois do réveillon... Só depois do Carnaval...)

É comum ver os fascistas de amarelo repetirem como a um mantra, o artigo da Constituição: “todo poder emana do povo e em seu nome será exercido”. Para o cidadão médio, bombado, de mais músculos que cérebro, o típico frequentador das hostes do “mito”, esse é o princípio que os aproxima de Jair e de Marçal. Nada de lei, nada de regras, nada de “autoridade”. Eles são o poder. O poder de querer e fazer o que os vier à telha. Por isso, tanto Jair quanto Pablo os representam. Pairam acima das regras do jogo. Nada pega contra eles. Isso, sim, aos olhos da sua gente, é ser herói. E fazem por merecer a idolatria e votos.

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