Não existe Democracia sem polêmica
Lula não precisa fazer papel de super-homem e caminhar saltitante
Não existe Democracia sem polêmica, sem contraditório, sem críticas. Política não é seita, não deve ser. Observamos como essa devoção religiosa a Bolsonaro, como se ele fosse o Buda, tem feito mal à cabeça de seus seguidores, que rezam até para pneus. Uma horda fanática, obscurantista, recitando o discurso do retrocesso à Idade Média pregado pela ultra-conservadora extrema direita. Daí que louvo a disposição do presidente Lula em estar aberto a críticas, desde que não sejam ofensas nem injúrias, naturalmente.
Levantei, no Brasil 247, a questão de Geraldo Alckmin não ter substituído no cargo o presidente, na sua impossibilidade, que já completa uma semana e, se os médicos tiverem bom senso, se estenderá por mais uma semana de repouso, preservando-o de toda a grande responsabilidade e do imenso stress representados pela função.
Lula não precisa fazer papel de super-homem e caminhar saltitante, demonstrando vigor, como fez Biden em sua campanha, e foi ridículo. Lula é um homem com 78 anos, o que significa vantagens e algumas restrições. As vantagens da experiência, da acuidade, do cérebro a todo vapor, da serenidade quando necessária. As restrições se limitam à capacidade física, que deve ser cultivada regularmente, sem exagero, com sabedoria e acompanhamentos, técnico e médico. Acredito que Lula tem feito isso.
As decisões no episódio da internação de Lula causaram ruídos desnecessários. Não é o paciente Presidente da República quem decide se permanecerá ou não com as rédeas do poder durante seu afastamento. São as famosas “quatro linhas”. Bem, a Constituição não proíbe, mas também não libera. Conta-se com o bom senso, que, a meu ver e de muita gente, não houve.
Não é apenas o eficiente e bem intencionado médico quem decide se o Presidente da República deve ou não embarcar num avião com um hematoma já diagnosticado no crânio. São também o dr. Senso Comum e o dr. Exemplos Anteriores (lembrei-me de Tancredo). Não sou médica neurocirurgiã, sou leiga. Mas, por experiência pessoal familiar, sei o risco que corre um paciente com um coágulo cerebral voar sob a pressão de 10 mil metros de altura. O episódio da queda, cortando as unhas do pé, foi em 19 de outubro.
Um episódio cerebral deve ser rastreado. É o que se costuma fazer, em relação ao que houve antes, durante e depois de detectado o problema. Antes do coágulo, após ter participado da Assembleia Geral da ONU por uma semana em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva bateu pique em Brasília no dia 28 e, ato contínuo, embarcou no domingo, 29 de setembro, para a posse de Claudia Sheinbaum na presidência do México. Isso não era previsto. Dado ao grande esforço que significaria, não só para Lula, mas para qualquer mortal, já fora previsto, com antecedência, que o vice-presidente o representaria naquela cerimônia de posse.
Geraldo Alckmin, como se sabe, estava até de malas prontas para embarcar, quando foi tomada nova decisão de última hora, talvez motivada pelo fato de ser uma mulher a assumir o México, o que Lula verbalizou na frase “as mulheres é que devem ser presidentes”. Isso levou o presidente a se expor a uma viagem com um retorno tumultuado, que o fez passar pela inimaginável tensão de, durante 5 horas, dar voltas aéreas, para retornar ao ponto de partida, e voltar ao Brasil em outro avião. Desconfia-se que uma ave tenha provocado a pane. Quem sabe um urubu, o "Kid preto" da ornitologia, ou uma águia, o "Kid branco". Mas, sei lá!
Esse estado de cansaço físico, após tantas longas viagens aéreas sucessivas, somado à sua apreensão na possibilidade de um desastre, com Janja a bordo alem de vários ministros, assessores etc., não poderia ter gerado um transtorno circulatório, que levaria Lula a sofrer a queda no Alvorada, como aliás sofreu? Poderia sim. Entenderam? Há, sim, a possibilitado de o tombo de Lula no banheiro ter sido a consequência de uma irregularidade cerebral e não o seu motivo.
De lá para cá, Lula fez quantas viagens aéreas?
Depois de, acertadamente, em consequência da queda de 19 de outubro, terem sido canceladas as viagens de Lula a Kazan, na Rússia, para o Encontro do Brics; a Bakul, no Afeganistão, para a Conferência do Clima; a Lima, no Peru, para a reunião da APEC - Cooperação Econômica da Ásia e dos Pacífico, o Presidente do Brasil voltou a viajar, no início deste dezembro, para a cúpula do Mercosul, em Montevideo, participando do seu encerramento na sexta-feira, dia 6 de dezembro, e visitando Pepe Mujica, que condecorou com a Ordem do Cruzeiro do Sul.Lula fez uma viagem aérea de volta, de 7 horas, até Brasília e, no dia 9, segunda-feira, soou o alarme do comportamento distante e vago do presidente. Ele foi internado no mesmo dia, voando para São Paulo e sendo submetido a uma cirurgia na madrugada de segunda-feira.
Na quinta, sofreu outro procedimento cirúrgico. Tudo vapt-vupt, como deve ser em assuntos médicos como esse. Por tudo isso, faz pensar o alto risco que foi, com o coágulo já diagnosticado, o presidente ter sido alçado àquela altura aérea, de Brasília para São Paulo, por motivo perfeitamente dispensável.O Hospital Sírio Libanês de Brasília, foi dito, tem o mesmo equipamento e a mesma eficiência hospitalar do Sírio Libanês de São Paulo.
O cirurgião poderia operá-lo em Brasília? Sim, poderia. Qualquer outro grande neurocirurgião poderia. Qualquer cirurgião, se convocado, cumpriria esse dever cívico e essa obrigação médica. Então, ficou faltando uma explicação razoável para essa inoportuna viagem aérea do Presidente a São Paulo. Nós, o povo brasileiro, que elegeu e ama Lula, e eu me incluo nele, merecemos satisfação. Hoje é dia 15. Lula não é, repito, o super-homem, espero que permitam a ele o sossego, que todo ser humano necessita numa recuperação cirúrgica de tal forma delicada.
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