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      Leonardo Attuch

      Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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      Nearshoring: a palavra decisiva para as relações sino-brasileiras nos próximos anos

      O desenvolvimento compartilhado também passa pela reindustrialização compartilhada

      Lula e a relação Brasil-China (Foto: Ricardo Stuckert / Ilustração)

      O tarifaço anunciado pelo presidente estadunidense Donald Trump, prometendo sobretaxar produtos chineses em  34%, é mais do que uma bravata eleitoral: é a expressão concreta do desencanto do Ocidente com os rumos da globalização. Uma globalização que, embora gestada nos centros financeiros do Atlântico Norte, foi vencida industrialmente pela China, que se consolidou como a maior potência manufatureira do planeta. Esse mal-estar, ainda que em outra chave, também reverbera em países do Sul Global como o Brasil, que se veem diante do desafio de reconstruir suas capacidades industriais diante de um novo cenário geoeconômico.

      Neste contexto de reconfiguração das cadeias produtivas globais, o conceito de nearshoring — isto é, a realocação de centros de produção para regiões mais próximas dos mercados consumidores — surge como uma estratégia decisiva. E é aqui que se encontra a grande oportunidade para o aprofundamento das relações sino-brasileiras nas próximas décadas.

      Brasil e China já são parceiros estratégicos globais no mais alto nível, numa aliança fortalecida pelas afinidades políticas e pela relação amistosa entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping. Trata-se de uma parceria pautada pelo respeito mútuo, pelo multilateralismo e por uma visão compartilhada de desenvolvimento soberano. No entanto, para que essa aliança se torne ainda mais frutífera e equilibrada, é preciso avançar para uma nova etapa: a da industrialização compartilhada, com investimentos chineses em produção local no Brasil.

      Esse movimento já começou a ganhar tração no setor automotivo, com a chegada de gigantes como a BYD, que assumiu a antiga fábrica da Ford na Bahia, a Great Wall Motors, que se estabeleceu em Iracemápolis (SP), e a GAC Motors, que também está se instalando no País. Esses investimentos representam uma inflexão importante: não se trata apenas de importar veículos elétricos e convencionais chineses, mas de produzi-los aqui, gerando empregos, transferência de tecnologia e estímulo a cadeias produtivas locais.

      Mas o potencial do nearshoring não pode se limitar ao setor automotivo. O Brasil precisa mirar setores como eletroeletrônicos, energia renovável, equipamentos médicos, química fina, semicondutores e biotecnologia. Ao oferecer um ambiente institucional estável, um mercado interno robusto e acesso facilitado aos países vizinhos da América do Sul, o Brasil se apresenta como a plataforma ideal para a produção local voltada tanto ao mercado doméstico quanto à exportação para toda a região latino-americana e, em médio prazo, até mesmo para os Estados Unidos e o Canadá.

      Essa estratégia serviria aos interesses de ambos os países: a China diversificaria suas bases industriais em meio ao cerco ocidental e reduziria riscos geopolíticos, enquanto o Brasil daria um salto em sua reindustrialização e retomaria o protagonismo econômico na região.

      O nearshoring, portanto, não é apenas uma tendência global ou uma reação às disputas comerciais. Ele pode — e deve — se tornar a palavra-chave para a nova fase das relações entre Brasil e China: uma relação de confiança, complementaridade e desenvolvimento compartilhado. Se bem conduzida, essa aliança poderá redefinir o mapa da indústria nas Américas e abrir um novo ciclo virtuoso para o Brasil.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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