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    Francisco Calmon

    Ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça; membro da Coordenação do Fórum Direito à Memória, Verdade e Justiça do Espírito Santo. Membro da Frente Brasil Popular do ES

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    O BC é agente inflacionário

    A suposta autonomia do BC é a submissão explícita aos interesses externos e ao capital financeiro. Seu papel é claro: um bunker operacional do rentismo

    Sede do Banco Central, em Brasília 22/02/2022 REUTERS/Adriano Machado (Foto: ADRIANO MACHADO)

    O Banco Central (BC) do Brasil continua a atuar como um agente desconectado das demandas reais do país. Submetido a uma lógica tecnocrática, sem modelo matemático ou algoritmo, mantém sua postura rígida, priorizando o mercado financeiro e sacrificando qualquer possibilidade de avanço social. Não importa com qual diretoria, se coloca em dissonância com a política desenvolvimentista, porque seu papel autônomo é garantir os interesses do mercado.

    O BC é como um pitbull adestrado. Quando a meta inflacionária não é cumprida, condiciona o pitbull a fazer o que aprendeu no adestramento: aumentar os juros e pontualmente intervir no mercado de câmbio.

    Não se pode esperar nada mais, o adestramento foi esse.

    O pleno emprego não pode existir, pois para a cartilha do BC, leva à inflação. Zerar a miséria e o desemprego é um erro fatal para os defensores dessa ortodoxia monetária.

    A situação internacional e nacional é outra, mesmo assim o Conselho Monetário Nacional não reavalia a meta da inflação

    A suposta autonomia do BC (sancionada em 24 de fevereiro de 2021), apresentada como solução para garantir estabilidade econômica, na prática, é a submissão explícita aos interesses externos e ao capital financeiro. Seu papel, sob o manto da autonomia, é claro: um bunker operacional do rentismo

    O resultado é uma política econômica que trata o pleno emprego como um risco para a inflação e a luta contra a miséria como uma ameaça à estabilidade econômica. 

    Essa abordagem rígida cria empecilhos para que o país reveja suas metas de inflação, mesmo quando o cenário nacional e internacional muda de forma expressiva.

    O órgão que estabelece a meta da inflação é o CMN (Conselho Monetário Nacional), quem o compõem são: ministro da Fazenda, Haddad, ministra do Planejamento, Tebet, e o presidente do BC, Galípolo. 

    No entanto, os critérios utilizados para definir essa meta seguem sendo escondidos debaixo do tapete. A transparência é regra constitucional e o bem comum também.

    A meta da inflação virou uma obsessão midiática. E os comentaristas, mesmo sem entender de economia, repetem como um mantra.

    Enquanto isso, a ortodoxia monetária sacrifica o desenvolvimento. A manutenção de taxas de juros exorbitantes não só dificulta a recuperação econômica, como aumenta a desigualdade social. Quem sai no lucro são os especuladores do mercado financeiro, que, com apoio da mídia, pressionam por políticas que favoreçam seus interesses corporativos em detrimento do bem-estar coletivo.

    ‘O boletim Focus, um relatório divulgado semanalmente pelo Banco Central, reflete essa lógica. Ele é baseado em projeções de 170 empresas e instituições, das quais apenas oito não pertencem ao setor financeiro. Esse relatório influencia as decisões econômicas, pois reforça constantemente a necessidade de manter os juros altos’.

    O último boletim Focus elevou a projeção do PIB para 3,05% em 2024 e a previsão da inflação para 4,5%. 

    Em vez de interpretar o fortalecimento da economia como um sinal positivo, o Banco Central encara esse crescimento como uma ameaça inflacionária, reforçando seu viés ultraconservador.

    Essas empresas consultadas pelo Boletim Focus formam núcleos de lobby para com o Boletim influenciar na tomada de decisão do BC. Esse esquema não tem transparência. 

    Roberto Campos Neto, ex-presidente do Banco Central e nomeado ainda durante o governo Bolsonaro, demonstrou em discursos e ações, nada discretas, que confirmam a existência desse esquema. O ex-presidente do BC, vendo a sua iminente perda de cargo, fincou sua política monetária contracionista no novo mandato, estendendo sua influência além do próprio período de gestão.

    Em 2023, por exemplo, o governo federal gastou R$718 bilhões em juros da dívida pública. Esse valor, nos 12 meses até julho de 2024, subiu para R$870 bilhões. Esse custo absurdo compromete recursos que poderiam ser destinados a políticas sociais e investimentos estruturantes.

    O Banco Central, treinado para agradar o fanatismo pró-mercado financeiro, vira o rosto à pressão inflacionária que não é por demanda, para justificar a alta dos juros.

    Com base em que é definida a meta e os limites de variação? A taxa pornográfica prevista para 2025 de 15% não combate a inflação, pelo contrário, é inflacionária, à medida que aumenta o custo do dinheiro.

    Cada ponto percentual da Selic adiciona R$ 50 bilhões à dívida pública, mas obviamente, os últimos a se preocuparem são banqueiros e investidores de alto escalão. 

    A função do BC precisa ser reavaliada, à luz da história recente e da Constituição Federal.

    Lutar por um Banco Central subordinado à prioridade do social, para a qual foi eleito o governo Lula, que foi expressa na sua reeleição pelo voto popular, reitera a necessidade da prioridade das políticas sociais e não as políticas do Banco Central, porque foram aquelas e não estas, que reelegeram Lula. 

    A independência do BC significa a dependência ao mercado financeiro!

    Essa briga não é só do Lula, é nossa, pois os prejuízos são de toda a sociedade.

    Movimentos sociais, sindicais, partidários, devem assumir essa bandeira. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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