As eleições da UE não mudam o cenário do conflito da Ucrânia
Continuamos a ter uma Europa neo-conservadora com as forças de extrema direita a aumentar ligeiramente seu espaço, enquanto as forças progressistas minguam
Mundo afora se constata uma certa euforia, entre os que se opõem à agressão da OTAN à Rússia no palco ucraniano, com os resultados da eleições para o Parlamento Europeu, como se os belicistas no bloco tivessem sofrido fragorosa derrota na medida do aumento das bancadas euro-céticos na banda direitista.
Vejo esse diagnóstico em total desencontro com a realidade política do continente. Em primeiro lugar, os partidos tradicionais continuam a dominar o cenário e são eles que se curvam ao ditado de Washington. É só contar. Num parlamento de 700 assentos, os tradicionais (democratas-cristãos, social-democratas e liberais) alcançaram 400 mandatos (Partido Popular Europeu com 186 lugares, S&D com 135 e Renova Europa com 79), enquanto a direita euro-cética (moderados e extremistas) ganhou no total 131 mandatos (73 dos Conservadores e Reformistas Europeus e 58 do ID). Ao belicismo dos partidos tradicionais, se juntam-se os Verdes, com 53 cadeiras. A esquerda de verdade fez apenas 36 cadeiras. Não é à toa que assistimos a uma Ursula Van Der Leyen toda sorridente. O massacre na Ucrânia continuará e os europeus lhe darão suporte até o último ucraniano.
É verdade que houve perdas entre social-democratas e liberais, mas houve ganhos entre os adeptos do Partido Popular Europeu. Houve ganhos, também, para os euro-céticos de direita (13 cadeiras). O equilíbrio de forças, porém, não mudou significativamente para os que apoiam a atuação da OTAN contra a Rússia. Na verdade, continuamos a ter uma Europa neo-conservadora com as forças de extrema direita a aumentar ligeiramente seu espaço, enquanto as forças progressistas minguam. Se a extrema direita, em parte, adota postura menos agressiva em relação à Rússia, a verdade é que também não chega a buscar solução do conflito fora da OTAN.
Está tudo como d’antes no Quartel de Abrantes e não há perspectiva para a paz fora da solução militar, enquanto a Europa e a OTAN não chegam à exaustão política. Mas isso, parece, está longe de acontecer.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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