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    Joaquim de Carvalho

    Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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    O dia em que Brizola apresentou Getúlio Vargas a Lula

    Como pode, se o ex-presidente trabalhista morreu quando o atual tinha 9 anos e uma vida tão pobre que era impossível um encontro desse tipo? Sobrenatural? Saiba

    Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola (Foto: Reprodução/Twitter/Lula)

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    O sol era forte na praça XV de Novembro, em São Borja, Rio Grande do Sul, quando Lula, no palanque, contou como conheceu Getúlio Vargas. Ele e Leonel Brizola haviam selado uma aliança para disputar as eleições presidenciais. Lula não disse a época, abril de 2018, mas provavelmente foi em 1998, quando os dois formaram uma chapa para disputar a presidência com Fernando Henrique Cardoso.

    Uma das condições que Brizola colocou a Lula para selar a aliança foi que ambos fizessem uma viagem para a cidade onde Getúlio Vargas foi enterrado, em 1954. O ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro levou Lula até o túmulo de Getúlio, no cemitério Jardim da Paz, e ali começou a conversar com o ex-presidente, que o lançou na política e de cujos ideais nunca se afastou.

    Brizola se referia a Getúlio como se ele estivesse vivo, e ali presente. Lula recordou de algumas palavras do ex-governador. “Brizola dizia: ‘Dr. Getúlio, eu vim aqui apresentar o Lula, que é um sindicalista autêntico, um líder operário, e pode fazer muito pelos trabalhadores do Brasil”. Terminada a conversa, Brizola disse a Lula: “Você quer dizer algumas palavras ao Dr. Getúlio?”.

    Lula, então, disse que concordava com o que Brizola havia dito. Lula conta que “conversou” pouco com Getúlio. Os dois foram embora, fizeram a campanha e, como parte do acordo, o PT apoiou o candidato brizolista no Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, que se elegeu. Lula seria eleito presidente quatro anos depois, com apoio de Brizola no segundo turno.

    No discurso em São Borja, Lula fez uma autocrítica. Disse que, quando foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, criticava o sindicalismo decorrente da chamada Era Vargas, por conta da CLT, que era inspirada na legislação trabalhista do regime fascista de Mussolini.

    Lula reconheceu que a CLT, apesar dessa inspiração, assegura direitos aos trabalhadores. Na época, MIchel Temer, que havia traído Dilma Rousseff e conspirado para derrubá-la, tinha conseguido aprovar mudanças na legislação trabalhista brasileira.

    O plano de Lula era voltar à presidência e fazer um governo para recuperar direitos que estavam sendo revogados. Na época, ele liderava as pesquisas, com o dobro de votos do segundo colocado, Jair Bolsonaro. 

    Uma semana depois desse ato em São Borja, Lula foi preso, não pôde disputar a Presidência, apesar da liminar do Comitê de Direitos Civis e Políticos da ONU determinar que o Brasil respeitasse o direito dele se candidatar. 

    Ficou 580 dias em uma prisão política, o que significava a tentativa de assassiná-lo politicamente, com a mídia hegemônica, cartelizada, deixando de cobrir o que se passava no entorno do cárcere, com o movimento Lula Livre.

    Lula poderia ter feito como Getúlio, mas preferiu viver, mesmo com esse cerco. Retornou à presidência, nos braços do povo. E hoje faz um governo que, sim, segue diretrizes lançadas por Getúlio, o chamado nacional-desenvolvimentismo, o único modelo testado aqui que garantiu prosperidade ao País.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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