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    Tereza Cruvinel

    Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

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    O futuro do multilateralismo e os desafios globais na Cúpula do Futuro

    Países emergentes, como o Brasil, cobram maior apoio financeiro dos países ricos para a questão climática

    Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante abertura do Debate Geral da 78º Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

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    O multilateralismo,  a cooperação entre múltiplos países em prol de objetivos comuns, passará por um teste importante com a realização da Cúpula do Futuro promovida pela ONU a partir deste sábado, 21, encerrando-se na segunda-feira, 23. O evento ocorre em um cenário global cada vez mais complexo, onde desafios transnacionais como mudanças climáticas, pandemias, segurança cibernética e desigualdade socioeconômica demandam respostas conjuntas.

    O presidente Lula será um dos primeiros oradores a discursar neste domingo, quando falarão os principais chefes de Estado do mundo. O Brasil está sendo visto como um mediador importante na busca de resultados efetivos, por conta de sua liderança entre os emergentes e da boa relação com países antagônicos como Estados Unidos, China e Rússia.

    O sucesso da Cúpula do Futuro, que vem sendo preparada há meses, pode ser um sinal importante de que ainda há esperança para uma governança global efetiva e cooperativa, entendida como a capacidade das nações e organizações internacionais de trabalharem juntas para resolver problemas que afetam a todos. Já o seu fracasso será um sinal de fracasso do multilateralismo e de que o mundo caminha mesmo para o tempo de murici: aquele em que cada um cuida de si, que será o pior dos mundos para os mais pobres.

    Na véspera de seu início, entretanto, o encontro enfrenta dificuldades, como relatam os negociadores brasileiros nela envolvidos.  A desconfiança entre potências globais, o protecionismo econômico e a falta de consenso em questões como a transição energética podem limitar a efetividade das decisões tomadas. A Rússia, nas últimas horas, criou resistências a muitos pontos dos documentos que estão sendo negociados.

    O evento acontece em momento crítico. A guerra na Ucrânia, a agressividade cada vez maior de Israel, as tensões comerciais entre EUA e China e o aumento da instabilidade em diversas regiões são fatores que dificultam a aposta na cooperação.

    Os Três Acordos Globais em Negociação

    Três acordos globais preliminares estão no centro das negociações e podem moldar o futuro da cooperação internacional nas próximas décadas. São eles o Pacto para o Futuro, o Pacto Digital Global e a Declaração às Futuras Gerações.

    A crise climática, que vem afetando gravemente o Brasil, a exemplo das queimadas em curso e das enchentes no Rio Grande do Sul,  será ponto chave do Pacto para o Futuro e envolve compromissos globais mais ambiciosos para reduzir emissões de gases de efeito estufa e acelerar a transição para uma economia verde. O objetivo é estabelecer metas mais ambiciosas para o cumprimento do Acordo de Paris, fixando novas exigências de transparência e mecanismos de verificação.

    Países emergentes, como o Brasil,  cobram maior apoio financeiro dos países ricos. A promessa de US$ 100 bilhões anuais em financiamento climático, feita por nações ricas em anos anteriores, até hoje não foi cumprida.

    Outro ponto de destaque é a revolução digital. A cibersegurança, a regulação das big techs e o uso ético de tecnologias emergentes, como inteligência artificial, são questões centrais que exigem um arcabouço regulatório internacional. O desenvolvimento tecnológico é inevitável, mas, sem uma coordenação multilateral, como ocorre hoje, podem prevalecer seus efeitos nefastos, como o aumento das desigualdades e as ameaças à democracia.

    Por iniciativa do Brasil, o Pacto Digital Global deve incluir um compromisso global com a regulação das big techs e o combate às fakes news.  Busca-se também um acordo sobre a regulação responsável da inteligência artificial, de modo que seu uso respeite princípios éticos e os direitos humanos.

     Outro ponto importante é a cooperação em saúde para combater o risco de novas pandemias e evitar ataques de microorganismos.  Neste sentido, o Pacto, em sua versão deste momento (pois o texto final muda a toda hora em função das negociações), inclui propostas para fortalecer a Organização Mundial da Saúde e criar um sistema de distribuição equitativa de vacinas e medicamentos.

    O documento Declaração às Novas Gerações reconhecerá a importância de incluir as preocupações e aspirações dos jovens nas decisões globais, particularmente nas áreas de educação, emprego, mudanças climáticas e inclusão digital. O texto em negociação prevê a criação de uma plataforma para que as vozes e propostas da juventude sejam ouvidas nos fóruns internacionais.

    A participação de Lula reforça o compromisso do Brasil com o multilateralismo e com os grandes temas globais, como mudanças climáticas, governança digital e a inclusão social das futuras gerações. Embora Lula possa anunciar a redução do desmatamento na Amazônia, terá que falar dos incêndios que surpreenderam seu governo pela extensão, a intensidade e as evidências de ações criminosas, seja com objetivos ideológicos ou econômicos.

    A diplomacia brasileira espera também que o Brasil possa atuar como mediador  e construtor de pontes entre os países ricos e os emergentes, buscando garantir os interesses e pleitos destes últimos.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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