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    Marcia Tiburi

    Professora de Filosofia, escritora, artista visual

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    O homem-bomba

    "O pobre de direita acaba por se autodestruir quando vota, do mesmo modo que o homem-bomba de Brasília", analisa Marcia Tiburi

    Explosões são ouvidas perto do STF; prédio é evacuado, uma pessoa morreu Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

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    O Brasil agora tem o homem-bomba, assim como tem o pobre de direita. A expressão popular revela a contradição entre quem se é, e a ideologia que faz alguém não ser mais nada. Essa contradição ganha agora uma forma espetacular. 

    O que vem sendo chamado de “pobre de direita”, nada mais é do que o pobre-coitado de sempre, impotente, querendo atuar na política, querendo fazer justiça com as próprias mãos, querendo expressar sua raiva à instituição pela qual se sente humilhado, mas ele acaba apenas conseguindo acabar consigo mesmo. 

    Aquele que se auto explode com uma bomba na frente do STF é como o eleitor - trabalhador, precarizado, empresário de si mesmo - que, visando destruir a injustiça quando vota na direita com a qual se identifica subjetivamente, destrói apenas a si mesmo e seus iguais concretos. 

    A identificação com o opressor é um fato infeliz na vida de quem sofre e reage mal diante do próprio sofrimento. O pobre coitado mira numa sociedade que ele considera errada e acerta nele mesmo ao usar uma arma de um jeito inconsequente. O erro é completo, a começar pelo fato de que o sujeito que quer matar os outros, mata a si mesmo, mas antes disso, acredita que todos estão errados, menos ele. A paranoia não ajuda ninguém, nem mesmo o paranoico. Além disso, o “suicidado” foi levado a isso por agentes dos discurso e do delírio do poder que incitaram o 8 de janeiro e todo um ódio às instituições e poderes que só serve para destruir corações e mentes. O suicídio desse pobre é parte da escala do caráter suicidário dos fanáticos, só que os fanáticos ricos sobrevivem ao que eles mesmos plantam. 

    O pobre de direita acaba por se autodestruir quando vota, do mesmo modo que o homem-bomba de Brasília. Ele quer reagir ao sistema, ao que ele odeia, a quem ele sente como seu opositor e o que ele consegue é apenas destruir a si mesmo, a seus familiares - e talvez amigos - em choque com tamanha insensatez. 

    O homem-bomba esqueceu que é um sujeito de direitos porque o direito para ele é distante e inatingível e lhe revela apenas a sua própria impotência. A fantasia da explosão – do Congresso, do STF – passa ao ato por meio do desespero e da burrice. 

    O homem-bomba se projeta no espelho e explode sem ter tido tempo de refletir sobre a vida e seu lugar no espelho da vida. 

    Ele morre desesperado e nesse último gesto ele encontra o sem sentido de sua pobre vida inutilizada pela estupidez e pelo delírio que ele não escolheu livremente para si mesmo. 

    O agente do ato está morto, mas a responsabilidade certamente não é só dele. O fascismo certamente espera que mais e mais otários apareçam para cometer crimes e ferrarem a si mesmos sozinhos como os invasores do 8 de janeiro, como esse pobre imbecil que jogou a própria vida no nada de onde ele emerge sem heroísmo ou reconhecimento. 

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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