O jogo é jogado e o lambari é pescado
Além dos parlamentares ciosos e dos extremados, há o tal “mercado financeiro”, cujos compromissos não tem nacionalidade
Hoje foi o meu primeiro dia de férias; não sabia o que fazer, pensei em cortar o cabelo, ou ir à Hípica encontrar os amigos e irritá-los bastante com opiniões com as quais eles não concordam (me divirto).
Penso que esse é o meu talento: criar inquietação, colocar as pessoas para pensar para além das obviedades, obscenidades cognitivas e mentiras, divulgadas pelo whatsApp, evidentemente não estou sempre certo, muito pelo contrário, e não sou imparcial, mas quem o é?
Peguei o CORREIO e fui tomar o café que a Celinha já tinha preparado (nada de mais: café com leite, pão com manteiga Aviação e banana nanica amassada com mel).
O CORREIO estampou na edição de 21 de dezembro uma manchete positiva na capa, relacionada à recuperação da economia; na página A4 o grande jornalista Edimarcio A. Monteiro informa que “O aumento da importação mostra basicamente a recuperação da economia. A indústria brasileira atingiu nesse ano 84,4% da sua capacidade produtiva...”, deveríamos comemorar.
Contrastando com a realidade da matéria jornalística, um artigo de opinião na página A3, decretou a falência do país, identificou os culpados, que teriam sido sentenciados à morte se o articulista pudesse, seguindo orientação de seu líder, que na campanha presidencial de 2018 disse “vamos fuzilar a petralhada”.
O desempate ficou por conta do sempre lúcido Estéfano Barioni na página A11, que, respondendo a pergunta de um leitor explicou: “O Brasil não quebrou, mas a situação é negativa” (referiu-se ao momento de falta de credibilidade do governo, frente ao mercado financeiro).
O mercado quer um pacote fiscal no padrão daquele que Milei impõe ao povo argentino, mas não podemos esquecer que “o que estava ruim ficou pior ainda” por lá; Milei elevou o número de argentinos que vivem abaixo da linha da pobreza, que chegou a 15,7 milhões de pessoas no primeiro semestre de 2024, além de viver forte crise econômica e social, com dívidas elevadas, câmbio deteriorado, reservas internacionais escassas e inflação na casa dos 236%.
Milei, que lembra Paulo Guedes - para eles a fome e a pobreza são “meras externalidades”, o importante é cuidar do mercado financeiro.
Li a matéria, o artigo e a coluna do Estéfano e decidi não cortar o cabelo ou ir à Hípica, resolvi escrever sobre o assunto.
Vamos lá.
O Brasil está longe de quebrar.
Os indicadores que importam: (a) desemprego baixo; (b) PIB crescente, (c) IED alto e o (d) consumo, estão muito bons, quase ótimos.
Mesmo a (e) inflação, que teima em bater no teto da meta, está, como dito, na meta; o que preocupa é a relação (f) Dívida líquida e Dívida bruta x PIB, que merece atenção (lembrando que essa relação está alta desde Dilma 2, mantendo-se em percentuais altos com Temer e Bolsonaro, ou seja, a culpa não é de Lula 3); (g) reservas cambiais elevadas.
Ressalva - A ata do Copom reflete um Banco Central a serviço dos interesses do mercado financeiro.
Recuperando a memória - Em 2003 Lula pegou o dólar subindo; inflação em 9,5%, desemprego em 12%; sem reserva cambiais; PIB ridículo e relação dívida x PIB alta (a dívida bruta em 72% do PIB e a dívida líquida em 60%).
Apesar disso, as “viúvas do PSDB” seguem repetindo que Lula pegou um país arrumado; como? Estávamos sem reservas, com inflação e desemprego alto e pendurados no FMI? Apesar dessas dificuldades, Lula entregou para Dilma a Dívida Bruta x PIB em 52% do PIB e a Dívida Líquida em 39%, com reservas altíssimas, inflação na meta, PIB em alta e com o FMI pago.
Antes dos ataques e movimentos que levaram ao golpe de 2016, Dilma tinha uma dívida bruta em 62% do PIB e a Dívida Líquida estava em 34,9%.
Ou seja, tanto Lula quanto Dilma foram zelosos na questão fiscal, apesar da propaganda desinformativa que o pessoal que não dorme faz.
Foram perfeitos? Evidentemente que não, afinal “a perfeição é uma meta”, como escreveu Gilberto Gil, contudo, o pobre entrou no orçamento da União pela primeira vez da história do país e o “mercado industrial” passou a ter vez e voz.
O que acontece hoje? - Lula e Alckmin enfrentam um congresso formado majoritariamente por parlamentares do centrão, ciosos pela sua reeleição e em atender seus “patrões”.
Há os deficientes éticos da extrema-direita, que representam, a meu juízo, o que de pior há na política brasileira.
Além dos parlamentares ciosos e dos extremados, há o tal “mercado financeiro”, cujos compromissos não têm nacionalidade.
Mas o governo existe para lidar com a realidade, até mesmo com o criminoso ataque especulativo como esse do dólar, pois, é “do jogo”.
Qual é o jogo? - (a) O mercado financeiro sempre vai pressionar pelo rigor fiscal, ele quer a divida pública sustentável, ou seja, “pagável”; (b) o congresso, com todas as suas vicissitudes, precisa ser respeitado; e (c) ao governo cabe equilibrar interesses, atendendo as demandas sociais e as demandas do “mercado produtivo” também;
O governo tem o dever de qualificar o gasto público e cuidar de reduzir o estoque da divida de curto e longo prazos, como Lula e Dilma fizeram entre 2003 e 2014. Depois virou bagunça na mão dos liberais (com Temer chegou a 82% do PIB e com Bolsonaro chegou a 86,9% do PIB, lembrando que isso ocorreu durante a pandemia).
Como dizia meu pai; “o jogo é jogado e o lambari é pescado”, por isso, deixem Lula e Alckmin governar; façam as críticas substantivas, mas não sejam levianos mentindo e surfando nas maldades como foi a especulação do dólar.
Essas são as reflexões.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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