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    Sara Goes

    Sara Goes é âncora da TV247, comunicadora e nordestina antes de brasileira

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    Obrigada, Nísia. Obrigada, Izolda

    "Nísia e Izolda transformaram saúde e educação, mas enfrentaram os limites de um jogo político que não pode mais premiar competência e dedicação", pontua Goes

    Nisia Trindade e Izolda Cela (Foto: Jose Cruz/Agência Brasil / Luis Fortes/MEC )

    Nísia Trindade e Izolda Cela sempre estiveram onde era preciso estar.  Ambas, pioneiras em seus campos, ambas, mulheres que ousaram ocupar espaços historicamente reservados a homens. E, talvez por isso, ambas tenham enfrentado desafios que vão além da técnica e da competência: os desafios silenciosos, mas implacáveis, da política.

    Nísia chegou ao comando da Fiocruz e, depois, ao Ministério da Saúde, com um legado de pesquisa e gestão irrepreensível. Resgatou programas destruídos pelo negacionismo, garantiu vacinas, coordenou o enfrentamento da pandemia, anunciou a primeira vacina 100% nacional contra a dengue. Era uma ministra com resultados para mostrar. Mas, no jogo político, nem sempre o melhor desempenho é suficiente para manter uma peça no tabuleiro. Seu desligamento, conduzido sem o respeito que sua trajetória merecia, foi um daqueles momentos em que a política atropela a dignidade. Mesmo assim, Nísia não se escondeu. Apresentou seu legado de cabeça erguida, linda, como fazem as mulheres que não precisam de justificativas, apenas de resultados.

    Izolda Cela trilhou um caminho parecido. Psicóloga por formação, fez da educação seu campo de batalha. No Ceará, impulsionou uma revolução silenciosa, mas profunda, na alfabetização e na qualidade do ensino. Foi vice-governadora e, depois, governadora, a primeira mulher a liderar o estado. Mas, ao final de sua gestão, enfrentou um dilema conhecido por mulheres que chegam ao topo: a competência foi reconhecida, mas o direito de continuar, negado. Havia quem julgasse que seu "lugar" era outro, e a sucessão política a deixou de fora. Precisou lidar com uma campanha racista que tentava reduzir sua trajetória e negava aos nordestinos o direito ao mérito acadêmico. Como Nísia, Izolda também se despediu – não por falta de mérito, mas porque as regras do jogo nem sempre contemplam as melhores jogadoras.

    O Brasil deve muito a essas duas mulheres. A saúde e a educação pública carregam suas marcas, seus feitos e suas lutas. Se a política seguiu seu rumo, sem o tempo ou a generosidade para reconhecer suas contribuições, a história fará esse registro. Porque Nísia e Izolda não foram apenas gestoras, técnicas ou acadêmicas. Elas foram, e são, protagonistas de um país que ainda está aprendendo a reconhecer a força das mulheres no poder.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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