Pio XI e a coragem de enfrentar Hitler
Não faltou coragem à Igreja de Pio XI
Costumo dizer que os “meus Papas favoritos” são João XXIII e o Francisco, hoje vou falar sobre Pio XI, nascido Ambrogio Damiano Achille Ratti em 1857.
Pio XI normalizou as relações com o Estado italiano graças ao Tratado de Latrão, de 1929, que pôs fim à chamada "Questão Romana" e voltou a estreitar as relações entre a Itália e a Santa Sé.
Sob seu papado nasceu o Estado da Cidade do Vaticano, no qual o papa é, em tese, um governante absoluto.
Em 29 de Junho de 1931 ele promulgou uma das suas encíclicas, a “Non abbiamo bisogno” ("Nós Não Precisamos"), que possuía uma forte mensagem antifascista.
Como retaliação à sua publicação, o ditador Benito Mussolini ordenou que fossem dissolvidas as associações católicas de jovens na Itália.
Pio XI teria sido muito crítico sobre o papel da pessoa social imposto pelo capitalismo, tanto que em sua encíclica “Quadragesimo anno” de 1931, apelou para a urgência de reformas sociais, reiterou a condenação de todas as formas de liberalismo, socialismo e nazismo.Em 14 de março de 1937, o Papa Pio XI mostrou sua face política e publicou a Mit brennender Sorge (“Com ardente preocupação”), uma carta encíclica, documento pontifício dirigido aos bispos de todo o mundo e condenando a ideologia racista do nazismo.
A carta é considerada o primeiro comunicado de um chefe de Estado europeu a criticar o nazismo. Também foi a primeira carta encíclica escrita em alemão.
Em 1933, Pio XI havia negociado uma concordata com a Alemanha, assegurando os direitos dos católicos no país, Hitler não cumpriu o acordo.
Cópias da carta foram enviadas clandestinamente à Alemanha, para que não fossem apreendidas pela Gestapo e depois, foram distribuídas aos bispos, padres e capelãos, sob a ordem de que fossem lidas em todas as paróquias após a missa matutina do dia 21 de março de 1937, dia em que seria comemorada a festa de Domingo de Ramos. A data foi escolhida pela grande presença de fiéis, com o objetivo de aumentar ainda mais o impacto do discurso.
A leitura da encíclica foi uma surpresa para os fiéis, para as autoridades e para a polícia, todos se espantaram com a agressividade da retórica utilizada por Pio XI.
No dia seguinte à missa, as paróquias e escritórios das dioceses alemãs foram visitados por oficiais da Gestapo, que confiscaram as cópias do documento. O conteúdo da carta foi censurado e respondido com uma forte propaganda anticlerical.
Como reação, Hitler imediatamente aumentou a perseguição aos católicos alemães; em maio de 1937, 1100 padres e religiosos foram presos, e, em 1938, 304 sacerdotes católicos foram enviados ao campo de concentração de Dachau.
Até a queda do regime nazista, em 1945, estima-se que 11 mil sacerdotes foram afetados pelas medidas punitivas do governo alemão – muitos deles terminaram nos campos de concentração.
Esse episódio é bastante conhecido, mas há outro menos conhecido e diz respeito a fato que teria ocorrido em 1938, quando a Alemanha Nazista já havia anexado a Áustria e se preparava para avançar sobre a Europa.
O Papa Pio XI teria encomendado a três jesuítas a encíclica "Humani Generis Unitas" (Unidade do Gênero Humano), com a intenção de denunciar o Nazismo e o antissemitismo crescente.
Meses depois, Pio 11 morria sem ter chegado a assinar e divulgar a encíclica.
O Papa Pio XII, que o sucedeu, preferiu silenciar sobre ela.
O texto permaneceu desaparecido até bem pouco tempo, mas em 1995, Bernard Suchecky, historiador, e Geoges Passelacq, monge beneditino belga, descobriram o documento após uma longa pesquisa.
Há um livro "A Encíclica Escondida de Pio XI", traz todas as etapas dessa pesquisa e, em anexo, o texto integral da encíclica.
Se o Papa Pio XII não tivesse se omitido e dado publicidade à Encíclica de Pio XI, mortes poderiam ter sido evitadas; não estou escrevendo tolices, pois, em 1998 a Igreja deu publicidade ao documento intitulado "Nós Nos Recordamos - Uma Reflexão sobre a Shoah", no qual ela apresenta formalmente um ato de arrependimento pela posição de omissão que assumiu durante a II Guerra Mundial.
O "Nós Nos Recordamos - Uma Reflexão sobre a Shoah" foi uma espécie de pedido de desculpas, sessenta anos depois de seis milhões de judeus e 8 milhões de não-judeus serem mortos pelos nazistas em seus campos de concentração.
Não faltou coragem à Igreja de Pio XI, mas faltou a Pio XII. Não podemos nos omitir, essa é a conclusão que chego.
Essas são as reflexões.
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