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    Leonardo Attuch

    Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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    Por que defender Dilma Rousseff é e sempre será um imperativo moral

    Aceitar as mentiras contra Dilma é facilitar o sequestro do governo Lula 3 pelo neoliberalismo

    Presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), Dilma Rousseff. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

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    Quem assistiu ao Boa Noite 247 de ontem percebeu que meu sangue ferveu durante a entrevista do embaixador Rubens Ricupero, que utilizou nosso espaço para propagar a maior de todas as fake news: a de que a ex-presidente Dilma Rousseff teria sido responsável por uma das maiores crises econômicas da história do Brasil, com a recessão de 2015 e 2016. É uma mentira grosseira que figuras como Ricupero tentam transformar em verdade adotando o método nazista da repetição infinita – e que deve sempre ser rebatida com o vigor necessário.

    Dilma assumiu a presidência da República em janeiro de 2011 e governou até as eleições presidenciais de 2014, quando derrotou o "príncipe tucano" Aécio Neves. Naquele quadriênio, Dilma entregou uma média de crescimento econômico próxima a 2,5%, o pleno emprego, com uma taxa de desocupação ao redor de 4%, e o maior ciclo de investimentos em infraestrutura da história do Brasil, como nos aeroportos, que foram reformados para a Copa de 2014, e nos grandes projetos do setor elétrico, que foram retomados depois dos apagões do governo FHC.

    O governo Dilma terminou exatamente no dia 27 de outubro de 2014, quando ela superou Aécio, com 51,64% dos votos válidos, numa das eleições mais disputadas do País e num ano já marcado pela Lava Jato, operação policial que tinha como principal objetivo não o combate à corrupção, mas sim a alteração do destino do Brasil e do seu modelo de desenvolvimento, com a entrega das principais riquezas nacionais, a começar pelo petróleo, ao capital financeiro local e internacional. 

    Naquela mesma noite da vitória no segundo turno, as oligarquias políticas e econômicas do País decidiram que Dilma deveria ser derrubada. Os tucanos não aceitaram o resultado eleitoral, as manifestações fascistas iniciadas nas "jornadas de junho" de 2013 foram intensificadas, e o então presidente do PSDB, Alberto Goldman, afirmou que seria necessário adotar a política do "quanto pior, melhor", produzindo uma crise artificial na economia. O aliado ideal para a empreitada era o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do MDB, que vinha sendo acossado pelas investigações da Lava Jato. Assim nasceram as pautas-bomba no Congresso, que produziram a paralisia econômica de 2015 e a recessão, que já vinha sendo amplificada pela Lava Jato, operação que paralisou milhares de obras públicas, transformou engenheiros em motoristas de aplicativos e desempregou milhões de trabalhadores brasileiros. Se a economia nacional resistisse à guerra contra o Brasil que foi deflagrada por sua própria classe dominante, associada a interesses imperialistas, seria praticamente um milagre.

    Foi esse desconforto econômico produzido pelo PSDB e pelo MDB que criou as condições não apenas para a derrubada de Dilma, no dia 12 de maio de 2016, mas também para a ascensão da extrema-direita fascista, liderada por Jair Bolsonaro, que nadou de braçada nas fake news criadas pela mídia tucana.

    Entre maio e agosto de 2016, quando foi definitivamente afastada, tive a oportunidade de dialogar com Dilma, que tinha absoluta clareza sobre a tragédia que se abateria sobre o Brasil nos anos vindouros. Dilma sabia exatamente por que estava sendo derrubada. Ela era o alvo por ser a última barreira diante do choque neoliberal que se pretendia implantar no Brasil com a chamada "ponte para o futuro". Aliás, o próprio Michel Temer, que a sucedeu após o golpe de estado de 2016, já admitiu, em diversas entrevistas, que Dilma só caiu porque se negou a implantar tal programa.

    Dilma sabia que, sem ela, viriam a entrega de blocos do pré-sal, a nova política de preços da Petrobras, a precarização do trabalho, a independência do Banco Central e o ataque aos direitos sociais. Ela também sabia que a Lava Jato não iria parar enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não fosse retirado do jogo político-eleitoral, o que veio a ocorrer com suas condenações em primeira e segunda instância e a posterior prisão ilegal pela Guantanamo de Curitiba. 

    Tudo, exatamente tudo, que Dilma profetizou aconteceu. Não porque ela tivesse poderes divinatórios, mas porque, como presidente, tinha plena consciência dos interesses e das pressões que rondavam o Palácio do Planalto. E foi exatamente o choque neoliberal de Michel Temer que produziu a depressão econômica de 2016 – uma recessão que falsificadores da História, como Rubens Ricupero e tantos outros, tentam atribuir a Dilma, como se ela ainda fosse presidente do País naquele ano.

    O retrocesso foi tão grande que a "ponte para o futuro" produziu não apenas a recessão daquele ano, como a estagnação dos anos seguintes e crises sucessivas como a greve dos caminhoneiros, a volta do Brasil ao mapa da fome, a fila do osso, o avanço do rentismo e da concentração de renda e outras tragédias sociais causadas pela captura de grandes riquezas nacionais pelo capital financeiro local e internacional – o que se tornou mais visível na extorsiva política de preços e dividendos da Petrobras.

    Dilma, portanto, não foi responsável por recessão alguma. Nem em 2015 e muito menos em 2016, quando ela nem era mais presidente. Hoje, como líder do Novo Banco de Desenvolvimento, com apoio total da China, a economia mais dinâmica do mundo, ela está à frente da construção da nova ordem multipolar, que será essencial para que países situados na periferia do capitalismo, como o Brasil, fiquem menos expostos à extração de suas riquezas por países do centro do sistema ou, como diria Leonel Brizola, menos expostos às "perdas internacionais".

    Mas se Dilma vai bem, obrigado, por que é tão importante defendê-la? Em primeiro lugar, porque é necessário ter compromisso com a verdade histórica. As mentiras propagadas por figuras como o embaixador Rubens Ricupero são o esterco que faz florescer a extrema-direita fascista. Em segundo lugar, porque o ataque permanente a Dilma é também uma tentativa de capturar o governo Lula 3, que ainda não conseguiu se libertar completamente da "ponte para o futuro". Basta lembrar que a demissão de Jean Paul Prates, da Petrobras, foi motivada pela suposta demora em reverter o estrago causado por Michel Temer e Pedro Parente. Ou também notar a disputa recente do presidente Lula com o chefe do Banco Central, Roberto Campos Neto, que é uma herança maldita do golpe de estado de 2016. Se Dilma não tivesse sido derrubada, os brasileiros não teriam enfrentado a década perdida dos anos Temer-Bolsonaro, o Brasil já seria a quinta ou sexta maior economia do mundo e o Banco Central não estaria hoje sob o comando do mercado financeiro privado.

    É muito bom comemorar que, no atual governo, a taxa de desemprego é a menor em dez anos, embora ela ainda seja muito superior à que foi entregue por Dilma. É bom constatar que, aos trancos e barrancos, o presidente Lula vai desmontando as bombas deixadas pela "ponte para o futuro". Mas é impossível calar quando uma mentira tão grosseira, como a de que ela teria produzido a maior recessão da história do País, é dita num ambiente democrático e comprometido com a verdade histórica, como é a TV 247. Apenas lamento não ter estado presente no momento exato da agressão. Estava no carro e só pude intervir quando Ricupero, mentiroso e deselegante, não estava mais presente. Mexeu com Dilma, mexeu comigo. Vejam como foi:

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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