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Marcia Carmo

Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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Por que Milei quer “caixão” para Cristina Kirchner

Os fatos são: a economia não decola e a recessão é uma dura realidade

Presidente da Argentina Javier Milei 7/7/2024 (Foto: REUTERS/Anderson Coelho)

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O presidente da Argentina, Javier Milei, disse que quer colocar “o último prego no caixão do kirchnerismo e com Cristina Kirchner dentro”. As declarações de Milei foram feitas, no fim de semana, durante entrevista ao canal de televisão TN, de Buenos Aires. A ex-presidente reagiu, nesta segunda-feira: “Agora, você quer me matar?”. Cristina disse que mesmo que a matem, o governo argentino é “um fracasso” e Milei “gera vergonha alheia”.

A violência política – física, inclusive – e o dramatismo marcam a trajetória da Argentina, mesmo em tempos democráticos. E aquela imagem da arma apontada para o rosto da ex-presidente, quando era presidente do Senado e vice-presidente de Alberto Fernández, há dois anos, ainda a preocupa. O caso continua sendo investigado pela Justiça. Dez meses após a posse de Milei, sua popularidade está em baixa diante de um país com forte recessão – queda acima de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo previsão do Banco Mundial. E um forte incremento nos índices de pobreza. Quando Milei assumiu, a pobreza (que já era altíssima) afetava cerca de 40% da população. Agora, segundo dados oficiais, chega a quase 53% (52,9%). 

Seus ataques contra o kirchnerismo ocorreram depois dos insultos que ele fez contra os reitores das universidades públicas. Ele os chamou de “delinquentes” porque, na sua visão, não querem permitir que as entidades sejam auditadas. Os reitores negaram as acusações presidenciais. A agressividade está no DNA político de Milei, como ele demonstrou na entrevista à emissora TN, com novos ataques aos opositores e aos jornalistas. “Oitenta e cinco por cento do que os veículos de comunicação informam não passam de mentiras”, disse, levantando, como de costume, o tom de voz. 

No fim de semana, a ministra da pasta do Capital Humano, Sandra Pettovello, e o secretário de Educação, Carlos Torrendell, foram alvos de protestos num aeroporto de Buenos Aires. Em coro, os passageiros cantaram em defesa da empresa estatal: “Aerolíneas Argentinas não será vendida”. E também defenderam a universidade pública com cânticos e alguns palavrões. A ministra, amiga de Milei, retrucou: “Ganhamos a eleição. Aguentem a realidade”. O presidente tem dito que a queda da sua popularidade não o preocupa.

Os fatos são: a economia não decola e a recessão é uma dura realidade. As vendas nos supermercados desabaram 22% em setembro em comparação com o mesmo mês do ano passado. Mas ele responsabiliza a imprensa e não os dados econômicos e sociais. A Argentina, como observam analistas econômicos, está cara e com salários “baratos”. Esse choque de realidades provoca a queda na popularidade presidencial. Milei foi eleito, no segundo turno, com quase 56% da votação. E conta hoje com respaldo de cerca de 40% a 44%, dependendo da pesquisa de opinião. A atualidade leva Milei a intensificar sua metralhadora oratória, incluindo seu perigoso desejo de “sepultar” a oposição.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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