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      Luis Mauro Filho

      Luis Mauro Filho é jornalista e editor do Brasil 247.

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      Primeiro trimestre de Trump deteriora economia americana, reorganiza dinâmicas globais e acelera surgimento de ordem multipolar

      Trump sacode o mundo com tarifas, mas o primeiro a cair parece ser o mercado americano, diz Luis Mauro Filho

      Operadores na bolsa de Nova York (Foto: REUTERS/Brendan McDermid)

      A combinação de políticas protecionistas agressivas, realinhamentos geopolíticos disruptivos e deterioração econômica resume o primeiro trimestre de 2025 dos EUA e, consequentemente, de todo o mundo. 

      Enquanto o presidente americano reorganiza as relações internacionais através de tarifas punitivas e de uma abordagem agressiva na diplomacia, os indicadores econômicos domésticos pintam um quadro preocupante: as bolsas americanas acabam de fechar seu pior trimestre desde 2022, com S&P 500 recuando 4,6% e Nasdaq despencando 10,4% no primeiro trimestre de 2025. 

      Ainda há uma tendência de piora nestes dados econômicos, tendo em vista o pacote de tarifas que serão anunciadas nesta quarta-feira (2), o “dia da libertação” da economia norte-americana, nas palavras do próprio presidente. O mercado internacional espera mais detalhes sobre o tamanho e a agressividade do conjunto de medidas econômicas para dimensionar danos e, aí sim, refletir em indicadores. 

      O setor tecnológico, motor da economia americana nas últimas décadas, foi particularmente castigado: ações da Nvidia caíram 13,2%, Meta 13,7%, e a Tesla chegou a despencar 15,4% em um único dia após declarações ambíguas de Trump sobre a economia. 

      As tarifas sobre insumos críticos como aço e alumínio já pressionam os custos de produção, enquanto a ameaça de sobretaxar os "15 Sujos" - países considerados com piores práticas comerciais - cria um ambiente de paralisia decisória entre investidores. 

      Este cenário, somado às diversas ameaças que Donald Trump e seus assessores próximos vêm fazendo a países nos quatro cantos do mundo, vem afastando parceiros históricos dos EUA da dinâmica econômica ocidental, que nos habituamos a chamar de globalização. 

      A reunião entre China, Japão e Coreia do Sul em Tóquio, neste domingo (30), por exemplo, representa um sintoma claro desta nova realidade. As três gigantes economias asiáticas estão buscando aprofundar uma cooperação econômica regional, em conjunto, em busca de uma alternativa ao sistema ocidental. 

      Quando o chanceler japonês Takeshi Iwaya fala em "ponto de virada na história", em seu discurso na ocasião, refere-se ao reconhecimento de que a ordem liderada pelos EUA já não oferece a estabilidade de outrora. Portanto, é preciso olhar para os vizinhos como canais de cooperação econômica mais viáveis. 

      Já a União Europeia se vê forçada a repensar sua dependência econômica e estratégica de Washington. Sob o impacto de sobretaxas de 25% sobre veículos europeus e ameaças de medidas similares em outros setores, o bloco acelera planos para reduzir vulnerabilidades, desde incentivos à indústria local até a diversificação de parcerias comerciais com China e Mercosul. 

      Os primeiros meses do governo Trump 2.0 revelam uma contradição fundamental: enquanto suas políticas buscam reafirmar a hegemonia americana, seus efeitos imediatos minam as bases econômicas dessa mesma liderança. A OCDE já revisou para baixo as previsões de crescimento global, de 3,3% para 3,1% em 2025, citando justamente as "barreiras comerciais" e "incertezas políticas" geradas por Washington.

      Neste novo tabuleiro geopolítico, onde Trump trata soberanias como ativos negociáveis, os países são forçados a repensar suas alianças e estratégias. O risco é que, ao buscar fortalecer o poder americano através da força bruta econômica, a administração Trump acabe catalisando justamente o surgimento de uma ordem multipolar onde os EUA terão, no máximo, um assento à mesa - não a cadeira de comando.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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