Que rei sou eu
A cultura de massas na mão de um vendedor é um encontro que produz milhões
A cultura de massas difundida pelos meios de comunicação e as redes sociais não se confunde com a chamada cultura popular. Ela é um negócio lucrativo, destinado a banalização de conteúdos culturais, picarescos ou típicos, com o objetivo de vender, acumular e enriquecer. Mesmo quando pasteuriza ou caricaturiza aspectos da cultura popular. Agora, quando se junta a produção desse tipo de cultura com um mercado, se produz um casamento vantajoso.
A cultura de massas na mão de um vendedor é um encontro que produz milhões. Mais ainda quando o negociante tem o costume de bajular os poderosos, sobretudo ditadores militares. Construir uma rede de televisão, durante uma ditadura militar, exige muito jogo de cintura ou flexibilidade. E o comerciante tem de sobra. Não importa a difusão da cultura, da educação ou da arte, interessa viabilizar o negócio.
Projeto bem sucedido, na base do toma lá, dá cá. Viabilizar uma rede de televisão às custas do talento de vendedor, fazer dela a vitrine de seus negócios, às custas da ilusão de milhões de espectadores de ganhar fortunas é um prodígio mas não torna o autor em rei da comunicação ou conhecedor da alma popular. Neste ponto, Chacina é mais representativo, ao explorar os elementos mais grotescos da cultura brasileira.
O grotesco como categoria estética. Captar esse elemento na alma do povo foi a virtude do velho guerreiro, que não era negociante ou vendedor, era um palhaço eletrônico que deu certo, embora não tenha ficado rico. Neste ponto é possível distinguir o grotesco da banalização feita pela cultura de massas e seu pseudo conhecimento da alma popular.
O vendedor do olho clínico do artista. No Brasil, ser rico e amigo dos poderosos, pode conceder títulos de realeza, mas não dá cultura popular, há um equívoco nessa identificação. A estética do grotesco não se confunde com o histrionismo de auditório, ávido por migalhas distribuídas pelo apresentador.
Chacrinha, como ninguém, conseguiu captar e reproduzir essa essência cultural, sem bajular ditadores ou transformar a televisão em balcão ou vitrine de negócios. Palhaço e camelô sáo coisas muito diferentes.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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