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    Washington Araújo

    Jornalista, escritor, professor da UnB, tem 17 livros sobre mídia e direitos humanos. Autor do blog de jornalismo e cultura Cidadaodomundo.org

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    Racismo de Waack finalmente saiu do armário

    Entre aquele marujo do século 16 e William Waack, fluente também em alemão e inglês, do século 21, as distâncias são tremendamente curtas. Ambos zelosos guardiães da enfermidade conhecida como racismo. Doença habilmente camuflada ao longo de ferações assim como o herpes zóster, o seratocone e certo tipo de malária

    william Waack (Foto: Washington Araújo)

    O racismo está saindo do armário. E não era sem tempo. Racismo é regressão mais que social, é mental mesmo. É uma falha de caráter assim como roubar, mentir, iludir.

    O sujeito racista rouba a humanidade de sua vítima, o reduz a qualquer coisa entre o animal e o humano e pendando assim nada vê de anormal tratá-lo como subhumano, criatura nascida inferior pela cor da pele com que veio ao mundo.

    O sujeito racista mente quando projeta de si imagem falsa, irreal, a imagem que lhe faz ser bem aceito na família, no trabalho, na academia e no programa jornalístico e humorístico que apresenta.

    O sujeito racista ilude quando quer fazer passar batido sua natureza interior, aquela que discrimina, zomba, ridiculariza outro ser humano que tema pele alguns tons de conza a mais que a sua.

    O sujeito racista ocupando a posição de oráculo da principal canal de tevê aberto do Brasil é quem melhor desnuda a imensa teia de preconceito racial que aprisiona o país desde a primeira vez que um marujo da caravela de Pedro Álvares Cabral avistou um macaco e cismou que este tinha semelhança com um negro encontrado na África.

    Entre aquele marujo do século 16 e William Waack, fluente também em alemão e inglês, do século 21, as distâncias são tremendamente curtas. Ambos zelosos guardiães da enfermidade conhecida como racismo. Doença habilmente camuflada ao longo de ferações assim como o herpes zóster, o seratocone e certo tipo de malária.

    Até os anos 1980 e 1990 o que partilhava o mesmo espaço no armário com as roupas era a identidade sexual, ser homossexual masculino ou feminino tinha que ser fechado ante o olhar do público. Oscar Wilde deu nome a esse tipo de sentimento como "o amor que não ousa dizer o seu nome".

    Só que, saindo do armário a identidade de genêro, observou-se que havia outro 'alien', outro 'oitavo passageiro' que temia a luz dos holofotes: Era o racismo. E por mais que se cubra de pretensa inteligência acadêmica esse é o tipo de questão incômoda que costuma dar uma volta pelas ruas sem ninguém estar esperando. E é nessas voltas que os estragos são feitos: quem posa durante muitos anos com aquele imperturbável ar de bom moço, com aquele petulante arquear de sobrancelhas próprio de certos filósofos da modernidade vê-se logo reduzido a subnitrato de pó.

    E passa a nada valer sua palavra, seu comentário, sua opinião. E isso para quem viver de aparências e sobrevive lançando vereditos a torto e a direito, tem sempre o jeito de tiro fatal. E foi esse tiro que atingiu em cheio o colega William Waack.

    Mas quem acha que Waack não tem salvação está elipticamente enganado. Até porque há um Deus que tudo perdoa, e somente não perdoa um único pecado: colocar filho no mundo e não educá-lo. Portanto sugiro a William Waack alguns novos aprendizados, uma espécie de ressocialização a ser cumprida nos próximos cinco anos, tempo em que ele ao chegar aos 70 anos de idade terá:

    1. Decorado Navio Negreiro, Espumas Flutuantes, de Castro Alves
    2. Decorado todas as falas de Kunta Kinté, aquele personagem do seriado Roots, de Alex Halley
    3. Assistido 19 vezes cada um dos discursos em áudio ou vídeo feitos por Martin Luther King
    4. Vivido 6 meses em Kampala, na Uganda, auxiliando pessoas carentes a serem alfabetizadas
    6. Conhecer e fazer palestras em 95 escolas públicas do sul do Brasil sobre as vidas e ensinamentos de três grandes campeões da unidade racial: Enoch Olinga, Mahatma Gandhi e Louis Gregory
    7. Aprendido a ser bom percussionista no bloco Filhos de Gandhi, frequentando cinco vezes por semana a região soteropolitana do Pelourinho
    8. Feito pesquisa histórica de fôlego, 12 volumes pelo menos, sobre todos os casos de racismo noticiados no Brasil desde o século 16 até esta data

    Se fizer tudo isso no exíguo prazo de cinco anos, e nem um dia a mais!, Waack estaria, a meu ver, apto a voltar à Globo. Não como âncora ou apresentador dos telejornais da casa, mas sim - e apenas - como jurado do quadro 'Dança dos Famosos' do famigerado Fausto Silva em sua eterna falta do que fazer aqui conhecida como "Domingão do Faustão".

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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