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    Luís Costa Pinto

    Luis Costa Pinto, jornalista, editor especial do Brasil 247 e vice-presidente da ABMD, Associação Brasileira de Mídia Digital

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    São Paulo é um laboratório de erros do Psol e do PSB. Nunes virou favorito sem mérito algum

    Boulos deveria ter se convertido em liderança nacional, no Congresso, para chegar à disputa paulistana como nome imbatível, escreve Costa Pinto

    Guilherme Boulos e Ricardo Nunes (Foto: Brasil 247/Wikimedia)

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    Vencer ou perder a disputa pela Prefeitura de São Paulo, a maior, mais rica e mais populosa cidade do País, não catapulta ou demole a trajetória política de ninguém. Fernando Henrique Cardoso perdeu para Jânio Quadros em 1985 e menos de uma década depois foi presidente da República. Porém, a maneira como se ganha ou a forma como é processada a derrota na eleição determina o futuro de muitos dos contendores ao longo dos anos.

    Geraldo Alckmin foi o terceiro colocado em 1996, sequer passou ao segundo turno. Depois da derrota governou o estado por 14 anos tendo vencido três pleitos estaduais no período. Hoje é vice-presidente da República. Em 2016, João Doria se elegeu em primeiro turno e impôs ao então prefeito Fernando Haddad uma derrota humilhante. Seis anos depois, Doria amarga o ostracismo político. Renunciou até à disputa presidencial de 2022 depois de se ver abandonado e traído pelo próprio partido, o PSDB. O nome de Haddad, por sua vez, figura como aposta consistente quando são elencadas as melhores e mais promissoras biografias da cena política nacional.

    NO CONGRESSO, BOULOS NÃO VIROU LIDERANÇA NACIONAL

    Guilherme Boulos, do Psol, chegou à Câmara dos Deputados em fevereiro de 2023 na cauda de um cometa de votos esperançosos e ambiciosos que lhe foram confiados no pleito restaurador da Democracia em 2022. Forjado na luta política do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), importante articulação social das periferias das grandes cidades brasileiras, tem a verve e rapidez de ação naturais dos grandes líderes. Era esperado que se convertesse numa referência dentro do Parlamento, comprando ali dentro as brigas certas e vocalizando as posições de seu lado político – a centro-esquerda, basicamente a base do Governo Federal, a origem do presidente Lula (com quem Boulos já guardou mais semelhança de atuação). Se tivesse feito convergir para si a liderança das melhores causas no Congresso, os embates do lado sadio da sociedade civil contra os desatinos que a extrema-direita tenta nos impingir nos últimos tempos, o psolista estaria agora na condição de candidato único e evidente de todas as correntes de bom senso da política para assumir o timão da maior metrópole nacional e promover a necessária desintoxicação dos dutos que ligam o caixa da Prefeitura de São Paulo com várias correntes do crime – desde ao PCC até ao de empresas privadas beneficiadas com concessões e operações suspeitas. Mas, Boulos é uma chama tépida em Brasília. Não flameja. Não toca fogo nos debates, no plenário. Não se tornou o líder evidente das boas causas na Câmara. Deixou que o transformassem num engenheiro de pontes e viadutos que levam à construção das necessárias chapas eleitorais. Ou seja, virou um burocrata da disputa municipal, condenado a provar que é hábil. Ele até é hábil quando quer. Entretanto, não parece confortável nesse papel que pegou para si na pré-campanha. Erra ao desprezar o peso de sua atuação parlamentar. Olhando-se a campanha paulistana de 2024 com as lentes disponíveis no momento, Boulos é nome evidente para estar no 2º turno. Contudo, tem enorme dificuldade para vencer porque não conseguiu se converter numa causa.

    MARQUETEIROS DERAM A NUNES A MISSÃO DE DEMONIZAR BOULOS

    Sendo assim, a mediocridade abaixo da média que é o prefeito Ricardo Nunes vai ganhando musculatura e vigor na maratona de natação contra a corrente. Parece um amontoado de rejeito boiando ao sabor (ou dissabor!) da corrente nas águas pútridas do Tietê. Como se sabe, o rio que corta parte da cidade de São Paulo é um dos raros casos de corrente fluvial endorreica – ou seja, não corre para o mar, mas, sim, para o interior e se torna importante contribuinte de outras bacias hidrográficas internas. Flutuar com naturalidade nas águas podres do Tietê, filiado ao MDB e colaborando para a ampliação e o endurecimento da extrema-direita bolsonarista no estado é uma metáfora perfeita para descrever Ricardo Nunes, prefeito de ocasião e por acidente da megalópole sul americana. Desprovido de fleuma, sem carisma, apartado de quaisquer qualidades que lhe confiram caráter ou nobreza para sentar na cadeira que já foi de Mário Covas, de Luíza Erundina, de Marta Suplicy, de José Serra, de Fernando Haddad, pragmaticamente focado na missão que lhe foi confiada pelos profissionais de marketing contratados a peso de ouro pelo saco de gatos de sua campanha – afastar a possibilidade de Tábata Amaral (PSB) ultrapassá-lo na primeira fase da corrida e inviabilizar a candidatura de Kim Kataguiri (União Brasil) – o repositório de deméritos Ricardo Nunes parece fadado a ser o antagonista de Guilherme Boulos no segundo turno. Caso o destino confirme o bate-chapa, nem ele nem seus estrategistas negam enxergar o deputado mais como sparring do que que com adversário. A estratégia no front emedebista comandado pelos extremistas de direita é apostar no niilismo aguado do prefeito no primeiro turno para, no segundo turno, açular os fantasmas no recôndito conservador da personalidade dos paulistanos médios: Boulos seria (o que, definitivamente não é nem nunca foi) um demônio saído dos delírios reacionários que promoveria invasões de prédios públicos e privados pela cidade, promoveria desapropriações e não teria equipe para governar. O receituário desse caos mentiroso e fabricado é antigo, não funcionou para evitar a ascensão de Luíza Erundina em 1988, porém, impediu-a de ter tranquilidade para governar. Em razão disso, as perturbações produzidas pelas usinas de fake news da época, instrumentalizadas pela mídia conservadora local que segue de vento em popa apesar das crises familiares e das insolvências dos herdeiros, não deixaram evidente o quão progressista, disruptiva (para usar uma palavra contemporaneamente em voga) e distributiva foi a gestão de Erundina. Caso não logre o êxito máximo de derrotá-lo no embate face a face, o envenenamento que Nunes e os bolsonaristas promovem contra Boulos fará com que o candidato do Psol enfrente a mesma tentativa de desconstrução das qual padeceu a gigantesca personalidade da paraibana Luíza Erundina.

    PREFEITO DO RECIFE TRABALHA CONTRA TÁBATA, QUE É SUA NOIVA

    No PSB, a energia da “gréia” (como os pernambucanos descrevem a galhofa, as brincadeiras galhofeiras) da persona de redes sociais criada pelo prefeito do Recife, João Campos, repercute como assunto sério em São Paulo e atrapalha sobremaneira a consolidação da candidatura da deputada Tábata Amaral à prefeitura. Tábata e Campos namoram desde os tempos em que eram colegas de Câmara dos Deputados, em Brasília. Determinado a se converter no terceiro integrante da dinastia Arraes-Campos a governar Pernambuco a partir de 2027, assegurando à família do avô e do pai o sexto mandato à frente do Governo local, o prefeito do Recife trabalha incansavelmente e implacavelmente para interromper os fluxos de viabilidade da governança de Raquel Lyra, do PSDB, eleita em 2022. Campos usa, para isso, até mesmo a tática de alugar os discursos misóginos de um político verborrágico e métodos coronelistas como o presidente da Assembleia Legislativa estadual, Álvaro Porto, adversário histórico do pai dele, Eduardo Campos (de quem Raquel Lyra foi secretária e era aliada). Usando com desfaçatez métodos tão antiquados quanto pretensamente “espertos”, João Campos terceiriza os ataques mais sórdidos à governadora e, por trás, vende-se como solução apaziguadora. Delegada federal e procuradora concursada de origem, Lyra pode ter a cintura um pouco dura para o jogo político, contudo não é ingênua e captou todas as evidências dessa postura politicamente misógina do noivo de Tábata. Em razão disso, por causa do comportamento do prefeito do Recife, o PSDB encontra dificuldade de sacramentar uma aliança paulistana com o PSB mesmo com a aversão absoluta da direção partidária ao bolsonarismo atávico dos tucanos locais que bateram em revoada do ninho para pousar nos galhos da selva de extrema-direita cultivada por Nunes. Carlos Siqueira, presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro, refém dos estratagemas do diretório pernambucano da sigla, não consegue olhar no olho de Campos e fazê-lo aceitar um acordo que pode lhe conferir alguma dignidade política fora da “gréia” com a qual protagoniza esquetes de redes sociais e a Tábata um tempo de TV capaz de transformá-la num nome a ser levado a sério na disputa em São Paulo.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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