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    Miguel Paiva

    Miguel Paiva é chargista e jornalista, criador de vários personagens e hoje faz parte do coletivo Jornalistas Pela Democracia

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    Socialismo de gênero

    'O verdadeiro socialismo vai ser quando todos os gêneros tiverem os mesmos direitos', escreve o colunista Miguel Paiva

    Ilustração de Miguel Paiva (Foto: Miguel Paiva)

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    Será que o mundo está caminhando para a direita mesmo? Será que Saturno retrógrado tem a ver com isso? Será que todas as conquistas sociais, sexuais, culturais e trabalhistas vão ser esquecidas? Será que as trevas da idade média nos aguardam? Muitas perguntas e muitas respostas também. Parte disso é verdade, parte é uma tendência e parte é temor mesmo. Certas conquistas dificilmente deixarão de existir, espero, mas a eleição do Trump e o assanhamento da direita no mundo acendem um sinal de alerta, claramente. O problema é que tudo não passa de uma questão de público e privado.

    Na minha humilde opinião acho que não devemos abandonar a pauta identitária de jeito nenhum. Mesmo que percamos espaço no equilíbrio político é importante manter a chama acesa. Afinal, essas conquistas foram feitas em períodos não necessariamente progressistas. Foram conquistas que a sociedade sentiu que era hora. Dizer que a esquerda esqueceu o trabalhador é esquecer também que a direita já fez um estrago enorme antes e que agora, para passar qualquer iniciativa mais progressista temos um congresso contrário e ativo.

    O mundo passa por uma transformação muito forte estimulada pelas big techs que visa acabar com qualquer iniciativa, ou ideologia coletiva. O que vale é a meritocracia, o esforço individual, o talento de cada um e deus por cima de tudo fazendo o seu papel. Isso é o que eles acreditam. A política foi demonizada, a sociedade isolada e as iniciativas identitárias jogadas para escanteio, vítimas do conservadorismo reacionário.

    Se formos aceitar isso como novos valores acabaremos com qualquer coisa que possa parecer social. Acabamos com o Estado, estigmatizamos o sindicato, o trabalho passou a ser uma iniciativa individual do trabalhador e do patrão ( ainda bem que temos a bela iniciativa da deputada Erika Hilton de querer derrubar a escala 6X1 no trabalho), a violência impera, as armas são livremente comercializadas, o crime organizado ocupa o lugar do estado e está armada a zona para que nunca mais nos aproximemos de alguma coisa parecida com democracia.

    Os entendidos dizem que Trump venceu porque os democratas abandonaram as questões econômicas para se dedicar às questões identitárias. Como se o mundo fosse só economia. As pessoas vivem, são segregadas, sofrem bulling, violência de gênero e racismo, entre outras coisas, mesmo a economia indo bem. Uma coisa não tem a ver com a outra. Nada garante, e a História mostra isso, que Trump fará alguma coisa pelos trabalhadores ou pelos pobres nos Estados Unidos. Aqui no Brasil a extrema direita do Bolsonaro e sua gente nunca fez também e nunca fará. Achar que as pautas identitárias atrapalham o desenvolvimento econômico é uma mentira carregada de preconceitos. Pelo contrário. Mais gente vivendo a verdadeira liberdade numa sociedade vai trazer um crescimento econômico junto, é claro. Pautas identitárias são coletivas e a economia neoliberal é privada, prevê o enriquecimento de cada um contra o crescimento coletivo.

    Trevas atraem trevas e proibir hábitos e pessoas de circularem livremente nunca trouxe crescimento algum. Esse é um papo da direita para fazer o gado dormir. Mas comigo não, violão. Continuarei defendendo as pautas identitárias e tudo aquilo que possa juntar mais gente em torno de um ideal. O verdadeiro socialismo vai ser quando todos os gêneros tiverem os mesmos direitos e não só quando a renda for dividida de modo mais justo. É isso aí.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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