Tarso Genro: "Precisamos aprender com os jovens e adequar o PT aos novos tempos"
Genro fala da importância de Zé Dirceu para o PT, critica estratégias antigas e enfatiza a urgência de uma comunicação mais conectada com a juventude
247 - Em entrevista concedida ao programa Boa Noite 247, o ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, falou sobre os desafios contemporâneos do Partido dos Trabalhadores (PT), a importância de figuras históricas como José Dirceu e a necessidade de modernizar a comunicação com as novas gerações. Com uma visão crítica e detalhada, Tarso abordou a trajetória de Zé Dirceu e o impacto do ex-ministro para o PT, destacando-o como “uma personalidade política importante dos governos do Lula e da esquerda latino-americana”. Segundo Genro, Dirceu continua a ser essencial no combate às forças de extrema direita no país.
Em tom reflexivo, Tarso Genro comentou as diferenças ideológicas entre ele e José Dirceu, mas ressaltou a união em torno da defesa da democracia e dos valores progressistas. “Sempre fui uma espécie de adversário dele dentro do partido, dentro das normas de debate político e civilizado, e também de questões ideológicas que articulávamos de formas diferentes. Mas Zé Dirceu foi uma personalidade política importante dos governos do Lula e é uma figura relevante da esquerda latino-americana”, declarou o ex-governador. Para ele, as divergências internas no partido não são um problema, desde que a unidade seja mantida em prol de causas maiores.
Outro ponto levantado por Genro foi a necessidade urgente de renovar as estratégias e formas de atuação política do partido para se adaptar ao contexto atual. Ele afirmou que o partido precisa “buscar as universalidades fundantes de uma nova época para que o PT se renove”. Segundo o ex-governador, as grandes narrativas que orientaram a política partidária em décadas passadas perderam espaço para demandas cotidianas que afetam diretamente a população, como a crise ambiental e a desigualdade social. Para Genro, a nova geração tem ferramentas e conhecimentos que precisam ser incorporados na atuação do PT. “Temos mais a aprender com eles do que a ensiná-los”, refletiu.
Genro também mencionou a importância de uma adaptação nas estruturas de comunicação para se alinhar às novas plataformas e estéticas que moldam o debate público. Ele citou a influência de redes sociais como TikTok entre os jovens, destacando que essas novas ferramentas são essenciais para uma comunicação eficaz e acessível: “As pessoas formam suas opiniões e conceitos éticos a partir dessas novas mídias, mas nossa política de comunicação ainda não se adaptou a essas novas estéticas e modos de vida.”
Ao comentar os desafios internos do PT, o ex-governador elogiou a liderança de Gleisi Hoffmann, presidente do partido, que, segundo ele, enfrenta desafios complexos na estruturação de alianças. Ele também criticou o “federalismo oligárquico” e o orçamento secreto, apontando a necessidade de combater práticas que perpetuam estruturas arcaicas no governo. “A grandeza desses problemas ainda não foi acompanhada por uma grandeza nas decisões políticas que o governo precisa tomar”, avaliou.
Sobre a crise climática, Tarso alertou para a urgência de políticas que promovam uma transição sustentável. Como exemplo, ele citou as ações do governo federal após uma catástrofe no Rio Grande do Sul. Embora o governo tenha dado uma resposta rápida às necessidades imediatas, ele considerou insuficiente a falta de medidas duradouras que enfrentem a questão climática. “O Rio Grande do Sul poderia ser um exemplo para o Brasil na questão climática, com uma recuperação não só material, mas também no imaginário popular, organizando a sociedade para enfrentar os desafios ambientais”, defendeu.
Genro também refletiu sobre o impacto das mudanças sociais e a fragmentação das classes, reforçando a necessidade de o PT se reinventar para manter sua relevância na sociedade brasileira. Segundo ele, o partido precisa se comunicar com setores que antes eram tradicionalmente alinhados à esquerda, como os trabalhadores autônomos e as camadas médias. A fragmentação do mundo do trabalho e o surgimento de novas demandas fazem com que a política tradicional não alcance mais esses grupos, o que, para Genro, representa um risco de afastamento entre o partido e a base popular. Ele mencionou, por exemplo, as dificuldades de diálogo com trabalhadores de aplicativos, que muitas vezes não se veem representados pelas estruturas sindicais tradicionais.
“É fundamental compreender essas mudanças para que possamos nos comunicar e atuar de forma mais eficaz”, afirmou Genro. Na conclusão de sua entrevista, ele enfatizou a importância de adaptar o PT aos novos tempos, renovando tanto suas estratégias quanto seus métodos de comunicação para que o partido possa seguir relevante e conectado com as demandas da sociedade brasileira.
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