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    Helder Barbalho

    Governador do Pará

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    SOS: a mudança climática bate à porta

    'Temos de avançar na transição energética e tirar proveito do maior diferencial do Brasil diante do planeta, a Amazônia', analisa o governador Helder Barbalho

    Amazônia (Foto: Divulgação (Orlando Júnior))

    Há não muito tempo, as mudanças climáticas pareciam algo distante: o derretimento da calota polar. Ninguém via, ninguém sabia onde era. Depois, veio a percepção do aumento do nível dos mares: e daí? As fotos de satélite do desmatamento na Amazônia, os dados de planilha do aumento de emissão de carbono na atmosfera. Tudo parecia longe. Mas agora o perigo e a necessidade real de olharmos para o planeta bate literalmente às nossas portas. Já passou da hora de encararmos a questão ambiental como deve ser.

    Na última semana, o estado mais rico do país, São Paulo, foi assolado por queimadas ciclópicas que devastaram áreas riquíssimas de produção do agro. As nuvens se espalharam por vários estados. Escolas fechadas em várias unidades da federação, nuvens negras se espalhando num cenário de fim de mundo, prejuízos, danos à saúde generalizados. No caso de São Paulo, mais de 1 bilhão de reais de riqueza incinerada, de trabalho árduo de décadas subitamente devastado, prejuízos materiais, emocionais, tudo irrecuperável. As queimadas ocorrem não muito tempo depois de outra tragédia, as enchentes, em outro estado pujante, o Rio Grande do Sul. Vidas, famílias, trabalho, riqueza duramente conquistada, tudo levado pelas águas.

    E o inquietante nesses dois episódios recentes e próximos do coração produtivo do país é: até quando vamos continuar pensando que as mudanças climáticas são algo distante? São distantes como o derretimento invisível aos olhos das calotas polares? Será que os sinais já não estão mais do que claros que a questão ambiental não é mais uma agenda, mas uma realidade que todos temos de encarar e, para isso, o próximo passo é reconhecer que o planeta está numa transformação climática sem precedentes desde que a civilização humana conquistou todos os avanços modernos.

    Mas na prática o que isso significa? Significa adotar e pôr em prática algumas políticas públicas e premissas sem as barreiras ideológicas, reconhecendo que o aumento de emissões de carbono é um fator que leva ao aumento da temperatura da Terra e que temos de atuar em duas frentes. Na primeira, avançar na transição energética, rumo a uma economia mais sustentável e com menores níveis de emissão. Isso implica em toda uma transformação na forma como consumimos energia, como utilizamos equipamentos, como construímos, como planejamos cidades, que precisam ser mais resilientes, ou seja, ambientalmente planejadas e preparadas para conviver melhor com a natureza. A lógica do concreto e do cimento não é mais lógica. É trágica.

    Ao mesmo tempo, temos de tirar proveito do maior diferencial que o Brasil possui diante do planeta, a nossa Amazônia, peça fundamental para que a transição ecológica global possa ser alcançada. E, para isso, a implementação de mecanismos de compensação pelas reduções de emissão, como são os créditos de carbono de alta integridade, pode ajudar o Brasil e o mundo nessa jornada. Estes ativos de carbono são a solução mais barata e ao mesmo tempo mais útil para que a região amazônica possa cumprir os objetivos socioambientais - preservar e criar uma rede de proteção social para os povos da floresta, além de estimular a bioeconomia, que nada mais é do que levar para o mundo os produtos com denominação de origem, agregando valor às extraordinárias e exclusivas iguarias que só existem na Amazônia, desenvolvidas de forma artesanal através de uma cultura ancestral.

    No capítulo dos créditos do carbono de alta integridade, o Pará está pronto para fazer uma das maiores captações de recursos utilizando estes títulos na história: serão 5 milhões de toneladas inicialmente utilizadas no processo. Contamos com uma forte redução do desmatamento e estamos avançando na conformidade com os mais elevados padrões internacionais viabilizando a emissão destes créditos jurisdicionais, garantida a participação dos povos tradicionais em todo o processo. Ao todo, nos próximos anos, o potencial supera a cifra de 10 bilhões de reais de recursos para serem utilizados na garantia do bem viver das comunidades, na transição rural sustentável e no combate ao desmatamento. Como dizia o slogan famoso da empresa de tecnologia, pense diferente. Os efeitos das mudanças já não estão num lugar distante: já estão literalmente na porta de nossas casas. Ou pensamos e agimos diferente ou o preço a pagar será cada vez maior. Agora não é discurso. É fato.

    * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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