Uma doença política transmitida pelos adversários contagia a periferia da esquerda lulista
Por que há tantos lamentos ecoando a ladainha da mídia adversária?
Nesta fase do mandato de Lula, muitos de seus apoiadores parecem tomados por uma espécie de síndrome de alarma, tristeza e cansaço.
Irritados com o que enxergam como insuficiências do governo Lula, parecem contaminados com o discurso de seus adversários nas redes sociais e na mídia corporativa (Globo, Globo news, Folha, Estadão etc). É incrível como parcela importante se mostra caudataria desse discurso catastrofista, desse marketing da eterna crise abismal de um governo com emprego beirando recorde histórico, inflação em queda e salários em recuperação.
Por que há tantos lamentos ecoando a ladainha da mídia adversária?
Gente simpática a Lula reclama das flutuações baixistas nas pesquisas de aprovação de Lula. Dedicam-se a reclamar da falta de mobilização atribuindo ao governo um problema delas próprias. O inferno está nos outros. As queixas mais parecem ocultar ou desviar a própria passividade dos apoiadores do governo.
Para esse entorno dos simpatizantes da esquerda qualquer espirro dos bolsonaristas é enorme e apavorante, demandando resposta imediata. Já as tentativas ou vitórias do governo são nulas ou insuficientes.
A reação à sindrome é desorientada e irracional. Como quase tudo está errado para eles, surgem alternativas que na verdade, com alguma busca atenciosa, foram sopradas sem sutileza pelos "analistas" da mídia oposicionista.
O governo perdeu uma votação óbvia? Os sábios ansiosos dizem que é preciso trocar a articulação política. Ou pior: dizem que está na hora de nada menos que uma ampla reforma ministerial. As pesquisas apontam uma queda relativa na aprovação (esperada nessa altura do mandato)? Os espertos já têm a solução: demandam a demissão do ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta, como se o tema fosse resolvido por mera troca de nomes.
Há até quem veja poderes milagrosos num pronunciamento presidencial em rede nacional de rádio e TV.
A menção a Pimenta tampouco é em sua origem imparcial ou inocente. Ele está entre os mais combativos auxiliares do presidente, impermeável às pressões da mídia hegemônica.
Foi o polemista estadunidense H.L.Mencken o autor da conhecida definição para esta síndrome: "Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada".
As formas de fazer política e de o público se relacionar com ela seguem sofrendo profundas mudanças. A digitalização de todas as esferas da vida implica uma mutação nesse terreno.
A informalidade e o trabalho remoto agregam complexidade. A fragilização das entidades sindicais afeta o engajamento dos trabalhadores.
Há dificuldades de construir uma comunicação politicamente eficiente a partir do governo, sendo mais fácil fazê-lo da oposição.
O enraizamento da direita nesse mundo digital não é fenômeno exclusivamente brasileiro, ao contrário, sendo dominado pela extrema-direita em todo o planeta.
Quanto à reforma ministerial, nada poderia agradar mais aos adversários do que esse carimbo oficial de uma grave crise.
Nessa disputa, como quase sempre, não há que negar as dificuldades. Uma dose de serenidade e estudo faria bem neste momento. As ações de governo se desenvolvem em inúmeras frentes, os resultados já aparecem e vão se mostrar com ainda mais clareza na sequência do trabalho.
Vale anotar que a extrema-direita bolsonarista mergulha numa crise desde o trauma da derrota em 2022, sempre subestimada pela periferia do lulismo. Essa crise é agravada pela obrigação de fazer política, fazer alianças e concessões, o que é a própria negação da identidade fascista de existir impondo desânimo e divisões em seu campo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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