Venezuela: consequências da luta pela soberania de um país em disputa
O ponto central é o fato de a Venezuela possuir a maior reserva de petróleo do mundo, com 303 bilhões de barris (16,9% do total global)
Discutir a Venezuela exige atenção ao seu contexto político, econômico e geopolítico. A questão sobre ser uma democracia ou ditadura, a crise que provocou um êxodo massivo e a atuação de opositores como Juan Guaidó e Edmundo González, apontados como alinhados à ideologia golpista promovida pela mídia tradicional, deve ser analisada em um cenário mais amplo.
O ponto central é o fato de a Venezuela possuir a maior reserva de petróleo do mundo, com 303 bilhões de barris (16,9% do total global). As consequências econômicas das sanções impostas pelos Estados Unidos e as narrativas midiáticas hegemônicas colocam a "transição energética" quase como um eufemismo, dado o papel estratégico que o petróleo venezuelano desempenha no cenário geopolítico global.
A crise econômica e política da Venezuela não apenas gerou um êxodo populacional massivo, afetando países vizinhos, mas também aumentou as pressões internacionais por estabilidade e direitos humanos. As eleições no país, consideradas pouco transparentes, e a continuidade de Nicolás Maduro no poder desde a morte de Hugo Chávez, em 2013, agravaram o quadro de instabilidade. Maduro é apoiado por países como Cuba, Rússia, China e Irã, enquanto outros, como Estados Unidos, Argentina e Peru, reconheceram Edmundo González como presidente legítimo, intensificando as tensões geopolíticas na América do Sul.
No caso do Brasil, as relações se deterioraram após o veto à entrada da Venezuela nos BRICS, gerando um episódio de hostilidade pública. Uma publicação nas redes sociais venezuelanas exibiu uma imagem de Lula com a bandeira brasileira ao fundo e a frase em destaque: “#ElQueSeMetaConVenezuela SE SECA”, interpretada como uma ameaça velada.
Esse episódio reflete como a crise venezuelana é usada pela extrema-direita e pela mídia hegemônica para se posicionarem como defensores da democracia, ignorando o impacto das sanções norte-americanas e as eleições contestadas que sustentam o chavismo. Além disso, a dependência global de combustíveis fósseis reforça o papel central da Venezuela no tabuleiro geopolítico, ampliado por sua localização estratégica e recursos naturais abundantes.
A disputa pelo controle do petróleo coloca a Venezuela em um contexto de rivalidade entre os Estados Unidos e potências como Rússia e China, que intensificaram sua cooperação com o país em troca de acesso energético. Recentemente, o presidente da Duma Estatal da Rússia, Viacheslav Volodin, visitou a Venezuela com uma mensagem de Vladimir Putin, celebrando a aliança estratégica entre os dois países. Nicolás Maduro, por sua vez, destacou no Telegram:
"Fructífero encuentro con el presidente de la Duma Estatal de Rusia, Viacheslav Volodin, quien vino a nuestra patria con un mensaje del presidente Vladímir Putin, que ratifica la hermandad inquebrantable que existe entre Rusia y Venezuela. Celebramos la cooperación al más alto nivel de nuestras naciones" (12/01/2025).
As reações da extrema-direita latino-americana a esse cenário, incluindo declarações de Álvaro Uribe e Iván Duque pedindo intervenção na Venezuela, refletem alinhamentos globais pró-Estados Unidos. O tom belicoso de Maduro, ao declarar que está "pronto para pegar em armas" ao lado de aliados, evidencia a escalada das tensões. Figuras como Javier Milei e Edmundo González, com discursos alinhados ao imperialismo norte-americano, fortalecem o embate ideológico que permeia a região.
Nesse contexto, as derrotas recentes de líderes da extrema-direita, como Donald Trump nos EUA e Jair Bolsonaro no Brasil, resultaram em episódios de violência, como as invasões ao Capitólio e ao Palácio do Planalto, sinalizando um "estado de exceção" permanente, conforme descrito por Giorgio Agamben.
O século XXI, em seu primeiro quartel, dá mostras inquietantes de que as armas têm prevalecido sobre a estratégia e o diálogo – uma sombra tardia do Projeto Manhattan, que, em 1942, inaugurou a era da destruição em massa. Contudo, o equilíbrio global clama, com urgência, por um retorno à política como espaço de negociação e busca pela paz. Será que ainda há tempo para reverter essa marcha inexorável rumo ao abismo?
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