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Coalizão inédita de organizações negras atua para fortalecer território da Pequena África

Projeto faz parte de plano de ação proposto pelo BNDES em grupo de trabalho com ministérios da Cultura e da Igualdade Racial

Tereza Campello, Anielle Franco e Marcelo Freixo (Foto: Túlio Thomé/BNDES/Divulgação)

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Agência BNDES - Pela primeira vez, uma coalizão de organizações negras vai atuar, de forma sistêmica e em conjunto, para fortalecer o território da Pequena África, na região central do Rio de Janeiro. A partir de suas áreas de atuação será realizada uma série de iniciativas para fortalecer as instituições de memória africana presentes na região. O ponto de partida é o que ela significa: território de riqueza cultural, social, arquitetônica e econômica que constroem não apenas a memória, mas também a permanência da colaboração da população negra para a identidade brasileira.

A assinatura do contrato de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o consórcio formado pelo Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP), pela PretaHub e pela Diaspora.Black, ocorreu nesta quarta-feira, 28. Participaram do evento, na sede do Banco no Rio, a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e o presidente da Embratur, Marcelo Freixo.

O BNDES, por meio da Área de Desenvolvimento Social e Gestão Pública, apoia a iniciativa “Viva Pequena África” com R$ 10 milhões não reembolsáveis oriundos de seu Fundo Cultural. O investimento total do projeto é da ordem de R$ 20 milhões e o restante será captado junto a doadores.

A iniciativa está inserida em um plano de ação proposto pelo BNDES no Grupo de Trabalho Interministerial, coordenado conjuntamente pelos ministérios da Cultura e da Igualdade Racial, e motivado pelo reconhecimento do sítio arqueológico Cais do Valongo como Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco em 2017. O Brasil recebeu cerca de quatro milhões de africanos escravizados, durante os mais de três séculos de duração do regime escravagista.

“Não basta só a gente assinar (o contrato), é a permanência, como que a gente cuida para que esses erros não sejam repetidos. Então um país que não tem memória está realmente pagado aqui, a cometer os mesmos erros. E é por isso que a gente tem trabalhado, não é fácil estar nesses espaços, não é fácil em quase um momento nenhum, lutar por algo que muitas pessoas insistem em dizer que a gente não precisa lutar”, disse a ministra Anielle Franco.

Valorização dos atores - A seleção do consórcio teve requisitos de equidade racial inéditos e envolveu, desde o início, a escuta ativa de instituições e atores já atuantes no território. Além da proposta de ações de fortalecimento da memória africana na região, o projeto vencedor do edital irá articular uma rede de instituições do território e mapear outros territórios representantes da memória e herança africanas no Brasil para futuras ações.

“Esse processo foi crucial nas nossas decisões. Em muitas intervenções, mesmo quando voltadas ao resgate histórico e valorização do espaço urbano, o resultado foi a exclusão e a gentrificação, com o encarecimento do custo de vida, expulsão dos antigos moradores e aprofundamento da segregação socioespacial. Exatamente porque não se buscou a participação, o empoderamento dos coletivos ali presentes. Isso é exatamente o que nós queremos evitar”, explicou a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello.

Segundo o conselheiro estratégico do CEAP e professor no PPGHC da UFRJ, Prof. Dr. Babalawô Ivanir dos Santos, o centro vem, desde a sua fundação, trabalhando com a promoção da cultura afro-brasileira e africana no Brasil. “Essa construção é hoje revelada através de um legado sólido, construído em nas quatro últimas décadas. Nesse momento traz conquistas extremamente importantes que só foram possíveis com o companheirismo e dedicação coletiva”, disse.

“Estamos à frente de um projeto que reescreve a nossa história, colocando a inventividade negra não apenas em uma narrativa de potência, mas na agência do desenvolvimento de um território que é nosso, que deve e precisa ser próspero para a gente”, comentou Adriana Barbosa, diretora-executiva da PretaHub e idealizadora do maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina, o Festival Feira Preta.

"Estamos muito felizes em compor esse consórcio e iniciativa pioneira, pois é uma oportunidade de ressaltar a importância da Pequena África não só como um local de memória e resistência, mas também como motor de desenvolvimento econômico sustentável para a população negra. Com a iniciativa, vamos consolidar o território como principal destino de afroturismo no mundo com o protagonismo da comunidade local”, afirmou Antonio Pita, cofundador e COO da Diaspora.Black.

Resgate do Centro - O território da Pequena África também está inserido em estudo estruturado pela Área de Soluções para Cidades do BNDES. O projeto, entregue à Prefeitura do Rio, em dezembro de 2023, inclui a revitalização de áreas do “Distrito da Vivência e Memória Africana no Rio de Janeiro”, que define os limites de sítio arqueológico e promove a segurança e a conservação das áreas do Centro Cultural José Bonifácio, Cemitério dos Pretos Novos (IPN), Cais do Valongo e da Imperatriz, Jardins do Valongo, Largo do Depósito e Pedra do Sal. A região faz parte dos distritos especiais previstos no “Reviver Centro”, plano de recuperação urbanística, cultural, social e econômica da região central do Rio, instituído por meio da Lei Complementar 229/2021.

Dez compromissos - Durante o evento, nesta quarta-feira, o Banco também assinou a adesão ao Movimento pela Equidade Racial (Mover) e ao Índice de Equidade Racial nas Empresas (Iere), da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial. Por meio deles, a instituição compromete-se a cumprir os dez compromissos com a igualdade racial e a implementação e ampliação de ações que tenham objetivo de superar o racismo e a discriminação no ambiente corporativo e em toda a sua cadeia de valor.

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