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    Confira como foi o balanço feito pelo presidente Lula de seus encontros no G7

    O presidente afirmou que um possível acordo 'será benéfico para a América do Sul e para os governos da União Europeia'. Também falou sobre a guerra na Ucrânia

    Lula (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

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    Planalto - Vocês querem fazer perguntas ou querem ouvir?

    É importante dizer para vocês o seguinte: nós, na conversa que nós tivemos com a presidente da Comissão Europeia (Ursula Von der Leyen), nós voltamos a discutir a questão do acordo União Europeia e Mercosul. E eu disse para ela que, depois de todas as tratativas que o Brasil fez para mudar o acordo, colocando as coisas que nós achávamos que era necessário colocar e tirando as coisas que nós achávamos que era necessário tirar, de que o Brasil está pronto para, na hora que a União Europeia quiser, assinar o acordo. Agora os problemas são deles, porque tiveram as eleições agora, ela deve ser indicada daqui a umas três semanas para ocupar o mesmo cargo que ela está hoje, de Presidência da Comissão Europeia. E o Macron (Emmanuel Macron, presidente da França) convocou eleições para a França, então, nós temos que aguardar também, porque até o companheiro Macron estava mais flexível quando se tratou de falar do acordo. “Deixa passar as eleições para a gente conversar”.

    Então eu volto com otimismo de que nós, do Mercosul, estamos prontos para assinar esse acordo e estamos certos de que o acordo será benéfico para a América do Sul, para o Mercosul e para os empresários e os governos da União Europeia.

    A segunda coisa que foi importante na conversa com os outros dirigentes, vocês sabem que, com a Alemanha, a gente tem uma parceria estratégica muito poderosa. O Olaf Scholz (chanceler da República Federativa da Alemanha) nos convidou para que a gente faça uma visita, ano que vem, na Feira de Vancouver, para que a gente possa participar com ele. E, ao mesmo tempo, eu pedi para ele me explicar um pouco o que aconteceu nas eleições da Alemanha, em que o SPD teve uma votação muito pequena, muito distante daquilo que, historicamente, tinha. Ele me explicou. Eu ouvi. E estou levando o ensinamento para a casa.

    Da mesma forma, perguntei para o Macron. “Macron, o que aconteceu na eleição para o parlamento europeu?”. Ele me explicou, eu entendi e vou levar o ensinamento para a casa.

    E eu conversei com outros dirigentes sobre outros assuntos. Com o Macron, nós também estabelecemos uma parceria muito forte e eu acho que Brasil e França vão mudar de patamar de negociação nos próximos anos.

    Com a presidenta da Suíça, presidenta Viola (presidenta da Confederação Suíça, Viola Amherd), ela foi a Genebra, conversar comigo, em um gesto de gentileza dela, pegou um avião e foi a Genebra, porque ela queria nos convidar para participar da reunião que está havendo, neste final de semana, para discutir a questão da paz. E eu disse para ela que o Brasil tinha tomado a decisão de não ir, porque o Brasil só participará de reunião para discutir a paz quando os dois lados em conflito estiverem sentados na mesa. Porque não é possível você ter uma briga entre dois e você achar que se reunindo só com um, você resolve o problema. 

    Como ainda há muita resistência, tanto do Zelensky (Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia), quanto do Putin (Vladimir Putin, presidente da Rússia), de conversar sobre paz, cada um tem a paz na sua cabeça, do jeito que quer, e nós estamos, depois de um documento assinado com a China, pelo Celso Amorim e pelo representante do Xi Jinping, nós estamos propondo que haja uma negociação efetiva. Que a gente coloque, definitivamente, a Rússia na mesa, o Zelensky na mesa, e vamos ver se é possível convencê-los de que a paz vai trazer melhor resultado do que a guerra. Na paz, ninguém precisa morrer, não precisa destruir nada. Não precisa vitimar soldados inocentes, sobretudo jovens, e pode haver um acordo. Quando os dois tiverem disposição, nós estamos prontos para discutir. 

    Também nós tivemos uma discussão importante com os outros dirigentes, porque o Brasil vai fazer o G20 e nós queremos que eles participem ativamente do G20, participar, inclusive, em julho, agora, onde nós vamos fazer o lançamento do programa de combate à fome e à pobreza. Vai ser feita uma conferência. Vai ser onde, Mauro (Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores do Brasil)? No Rio de Janeiro. E vocês da imprensa estão convidados a participar.

    Por último, a conversa com a primeira-ministra Giorgia Meloni (Itália), uma conversa em que eu tentei mostrar para ela o histórico da relação do Brasil com a Itália. E a importância de ela visitar o Brasil e ter contato com os quase 30 milhões de italianos e descendentes de italianos que moram no Brasil. São 1.400 empresas que investem no Brasil. São a geração de mais de 150 mil empregos. E eu lembro de uma discussão que eu tive quando a gente estava brigando para realizar as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Que um delegado que tem voto no Comitê Internacional italiano foi conversar comigo e ele começou dizendo: “Olha, porque nós temos um problema no Brasil, porque o Brasil tem um problema de segurança, porque o Brasil tem um problema de muita favela”. Eu falei: “Ó, cara, deixa eu falar uma coisa para você. Eu não deveria nem estar falando com você, porque se um delegado tem obrigação de votar no Brasil é você. E não questionar. Por quê? Porque se Roma estivesse disputando, tudo bem que vocês quisessem trazer a Olimpíadas para Roma. Mas, como Roma não está disputando e o Brasil é o maior país italiano depois da Itália, você tem obrigação de garantir que os 30 milhões de italianos assistam às Olimpíadas”. Não sei se aconteceu, se ele mudou de posição, o dado concreto é que nós ganhamos e fizemos as Olimpíadas.

    Mas é importante, porque tem grande população italiana em São Paulo, tem população italiana no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina. E é importante. Nós vamos completar 150 anos de migração da Itália. E 200 anos da imigração da Alemanha. E nós também convidamos o governo alemão para se fazer presente na festa de comemoração dos 200 anos, que vai acontecer em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul.

    Bom, no final das conversas, nós tivemos uma reunião com a Enel. Uma empresa de energia que é responsável pela energia do Rio de Janeiro, de São Paulo e do Ceará. Aquela empresa que teve uma série de problemas que causou apagão em São Paulo, na capital; que causou apagão no Ceará, que causou apagão no Rio de Janeiro. E nós estamos conversando com eles para que a gente está disposto a renovar o acordo, se eles assumirem o compromisso de fazer investimento. E eles assumiram o compromisso. Em vez de investir 11 bilhões, eles vão investir 20 bilhões nos próximos três anos, prometendo que não haverá mais apagão em nenhum lugar em que eles forem responsáveis pela energia. Na semana que vem, o ministro de Minas e Energia [Alexandre Silveira] vai me levar uma proposta e nós vamos então saber se vamos fazer ou não para resolver esse problema energético, que São Paulo é muito importante e a gente não pode permitir que a capital mais importante do país fique sem energia.

    Por último, queria dizer para vocês que a reunião do G7, ela que discutiu o problema — vocês devem ter visto o discurso que eu fiz, um pequeno pronunciamento —, em que nós estamos discutindo há algum tempo já como é que você vai mudar o funcionamento das instituições multilaterais, sobretudo as instituições criadas do sistema financeiro, como é que você vai resolver o problema de países africanos que, muitas vezes, têm que pagar de de juros o que eles não têm para fazer de investimento interno. Então, é importante que os países ricos e os fundos contribuíssem, fazendo com que metade do que eles têm que pagar de juros, não precisaria ser pago. A obrigatoriedade de fazer investimento em infraestrutura com esse dinheiro. Na África, seja energia, seja rodovia, seja ferrovia. Ou seja, o que for necessário fazer para ver se a gente dá um salto de qualidade.

    E também convidei todos para entrarem na briga contra a desigualdade, contra a fome e a pobreza. Não é possível que você tenha meia dúzia de pessoas que tenham mais dinheiro que o PIB da Inglaterra, que o PIB da Espanha, que o PIB de Portugal, que o PIB da Alemanha, juntos. Não é possível. Não é possível que tão poucos tenham tanto dinheiro e muitos tenham tão pouco dinheiro. É preciso dar um certo equilíbrio se a gente quiser acabar com a fome e se a gente quiser fazer justiça social neste país.

    E eu senti, também, um entusiasmo muito grande de todos eles em participar do G20. Eu acho que nós vamos fazer um grande G20. Vai ser uma experiência histórica para o nosso Brasil e eu espero que com muitos presidentes que forem ao Brasil – eu tenho convidado os presidentes dizendo para eles: “Olha, eu gostaria que vocês fossem ao Brasil e que você levasse muitos empresários para a gente juntar muitos empresários brasileiros e fazer negociações, porque é preciso aumentar a rentabilidade de cada país”. O comércio exterior, o fluxo da balança comercial. E quem trata disso é empresário, não é governo. O governo só abre a porta, mas quem vai fazer negócio são os empresários. Nós vamos ter muitos pedidos de bilaterais, nós não sabemos se tudo pode ser preenchido por ocasião do G20, mas o dado concreto é que, daqui para frente, já decidi, cada viagem que eu fizer vai ter um monte de empresário viajando para que a gente possa vender os produtos que o Brasil é capaz de produzir e comprar também aquilo que querem nos vender. 

    Então eu volto, regresso ao Brasil hoje, muito otimista com o que está acontecendo na nossa política internacional. Portanto, agora, eu estou à disposição de vocês. Perguntas inteligentes e respondíveis.

    Murilo Salviano (TV Globo): Oi, presidente, boa tarde já. Murilo Salviano da TV Globo. Presidente, em respeito aos colegas que estão aqui e vieram até a Puglia para cobrir o G7, eu vou fazer uma pergunta sobre o evento.

    Presidente Lula: Vem mais para a frente para falar, porque não estou ouvindo o som, estou vendo só você falando. 

    Murilo Salviano (TV Globo): Oi. Pronto. Agora sim. Vou fazer uma pergunta sobre o evento e, daqui a pouco, a gente entra em questões internas do Brasil, extremamente importantes. Presidente, os líderes do G7 nesse documento final foram explícitos em dizer que eles vão apoiar uma governança mais eficaz, inclusiva e igualitária nesses órgãos internacionais, que é um dos pilares do G20 no Brasil. Então, eles ressaltaram isso no documento, colocaram, inclusive, nas primeiras páginas do documento. Nessas conversas aqui, eu sei que o senhor já vem conversando um pouco para fazer acordos para que sejam anunciados no G20 do Brasil. Alguns desses líderes já deram sinalização positiva de que vai ter mudança na ONU até o G20 no Brasil? O senhor acha que o Brasil vai ser capaz de emplacar essa mudança até o G20? Que é um dos pilares, um dos tripés do G20 no Brasil?

    Presidente Lula: Olha, eu não te direi que nós somos capazes de emplacar no G20. O que eu posso te dizer é que nós nunca andamos tanto no caminho certo como nós estamos andando agora sobre a necessidade de mudança na governança mundial, em todos os aspectos. Desde a composição do Conselho de Segurança, desde a participação dos vários continentes até a questão do funcionamento das instituições de Bretton Woods, que hoje não funcionam. Hoje, o papel dessas instituições é sufocar os países. E nós queremos que essas instituições ajudem os países. 

    Eu nunca tinha sentido tanta flexibilidade e tanta boa vontade como nós estamos ouvindo aqui. Até a questão da OMC (Organização Mundial do Comércio) voltou a entrar na pauta do G7. É importante lembrar que a última reunião importante, quase que decisiva, que nós fizemos na Organização Mundial do Comércio foi em 2008. Eu ainda estava na Presidência e a gente parou as negociações por causa das eleições do Obama, que o Bush pediu para parar. E também a eleição na Índia. E, depois, nunca mais a gente retomou a Organização Mundial do Comércio, ela perdeu força e não funcionou mais. Eles agora estão querendo que funcione, possivelmente para ver se conseguem colocar a China dentro. Para mim, seria muito interessante que funcionasse, porque nós temos que regular, com muito cuidado, a regra de comércio exterior para que não haja uma vantagem de um país sobre o outro. Porque a boa política, a boa política, é uma política de duas mãos. É como se fosse uma rodovia. Eu compro e eu vendo, eu compro e eu vendo. Para que a gente tenha oportunidade de crescer juntos. Se você só tiver déficit comercial, você não vai para lugar nenhum. Eu achei extremamente importante. Mas mais importante ainda, eu achei, nos companheiros dirigentes do G7, é que eles estão discutindo, inclusive, a questão da organização dos materiais críticos, que é uma das inovações do debate sobre o futuro da economia do mundo. A produção de minerais que ainda não são utilizados e que, agora, são necessários para que a gente faça a revolução energética. E o que eles estão decidindo já? Estão decidindo que eles estão dispostos a participar, ajudar os países que têm os minerais, mas que a transformação seja feita no país de origem. Ou seja, não é só você exportar minério de ferro ou só exportar bauxita. Não. É você fazer o processo de transformação no seu país para ele comprar os produtos, colocando valor agregado naquilo que a nossa capacidade de produzir. É uma inovação muito grande e isso é unânime no G7. É que eu acho que isso vai ajudar muito países. O Brasil, que tem um território muito grande, tem muitos minerais, mas vai ajudar, sobretudo, os países africanos, porque eles terão que financiar um processo de industrialização. 

    Me parece que, nesse primeiro quarto do século 21, as pessoas estão se dando conta de que a forma como foi organizada as coisas depois da segunda guerra mundial parou de funcionar. Inclusive a democracia, correndo o risco, com o surgimento de um extremismo de direita absurdo. Então eu acho que é um avanço. Eu estou consciente de que isso vai continuar avançando no G20. Estou consciente que aquilo que parecia impossível há algum tempo atrás, vai virar tudo possível. É só a gente ter paciência, a gente ser persistente e a gente ser convincente. Eu tenho certeza de que nós vamos conseguir esse processo democraticamente, que já tentamos desde 2008, na primeira reunião do G20, a gente já tentou mudar as instituições, ter mais gente participando do FMI, ter mais os países em desenvolvimento na direção, ter mais cargo, para que a gente possa fazer um bom uso das instituições. 

    Murilo Salviano (TV Globo): A mudança na ONU até o G20 é difícil?

    Presidente Lula: Eu acho que é difícil, eu acho que é difícil. Porque é aquele negócio, né? Quem chegou primeiro na festa quer ficar e não quer dar lugar para outro. E nós queremos mostrar que o que está acontecendo na Ucrânia, o que está acontecendo na Faixa de Gaza, é muito pela fragilidade do papel das Nações Unidas. Não existe veracidade nas conversas, porque se a ONU tivesse uma direção forte, se a ONU tivesse uma representatividade forte e se os países que compuseram o Conselho de Segurança tivessem, não assumindo o papel de um ou de outro, mas assumindo o papel da neutralidade em busca de um acordo, possivelmente a gente estaria em uma mesa de negociação, sentado, ouvindo o que cada um quer para a gente poder saber o que é possível para cada um. Eu acho que nós vamos chegar lá. É uma questão de tempo. 

    Eu digo para todo mundo: eu nunca tive experiência de guerra, mas eu tive muita experiência de greve. Então, numa greve, quando você começa ela, você começa achando que você pode tudo. Você chega a dizer: “Não, porque nós só vamos voltar a trabalhar quando atenderem as nossas reivindicações. Eu não volto a trabalhar, é tudo ou nada”. E muitas vezes a gente fica sem nada. Então, eu acho que essa guerra já está durando demais e não é necessária. Eu espero que o bom senso tome conta da cabeça dos dirigentes e que a gente possa fazer as mudanças que precisamos fazer.

    Laís Alegretti (BBC Brasil): Presidente, bom dia. Laís Alegretti da BBC Brasil. Eu queria fazer uma pergunta para o senhor que eu acredito que muitos brasileiros e brasileiras gostariam de fazer, porque é um assunto que levantou muito protesto do Brasil. Foi a aprovação pela Câmara dos Deputados do projeto que equipara aborto a homicídio. Gostaria de perguntar para o senhor, primeiro, o que o senhor acha da possibilidade desse projeto ser aprovado durante o governo do senhor e, segundo, se o senhor acredita que legislação que a gente tem sobre aborto no Brasil hoje precisa de alguma mudança. Obrigada.

    Presidente Lula: Veja, a primeira coisa que eu preciso dizer para vocês em alto e bom som – e não é a primeira vez, porque já fui candidato em 1989, 1994, 1998, 2002, 2006, fui candidato em 2022, ou seja – é que eu, Luiz Inácio Lula da Silva, fui casado, tive 5 filhos, 8 netos e uma bisneta. Eu sou contra o aborto. Entretanto, como o aborto é a realidade, a gente precisa tratar o aborto como uma questão de saúde pública. E eu acho que é insanidade alguém querer punir uma mulher com uma pena maior que o criminoso que fez o estupro. É, no mínimo, uma insanidade isso. Eu, sinceramente, a distância, não acompanhei os debates muito intensos no Brasil. Quando eu voltar, vou tomar ciência disso. Eu tenho certeza que o que tem na lei já garante que a gente aja de forma civilizada para tratar com respeito, para tratar com rigor, o estuprador. E para tratar com respeito a vítima. É isso que precisa ser feito. Quando alguém apresenta uma proposta de que a vítima tem que ser punida com mais rigor do que o estuprador, não é sério. Sinceramente, não é sério.

    Denise Odorissi (Record TV): Boa tarde, presidente. Denise Odorissi da Record TV. Sobre o discurso que o senhor fez ontem na sessão do G7, o senhor mencionou os conflitos e mencionou o conflito em Gaza. E aí o senhor falou uma frase que “o legítimo direito de defesa foi transformado em direito de vingança”. E o senhor não menciona diretamente nenhum dos dois lados, o senhor não menciona Israel. Então, eu gostaria de saber se isso foi uma escolha para amenizar o discurso aqui sobre esse assunto na Europa.

    Presidente Lula: Olha, deixa eu te falar uma coisa. Eu fico triste quando o óbvio não acontece. É triste, porque quando você faz política e você vê que uma coisa está acontecendo, você já vislumbra o que vai acontecer. O que eu falei na primeira entrevista que eu dei, na União Africana, sobre o que acontecia em Israel, eu mantenho 150% do que eu falei. Mantenho 150%. E aconteceu, porque o primeiro-ministro de Israel não quer resolver o problema, ele quer aniquilar os palestinos. Isso está possível em cada gesto dele, em cada ato dele. Vamos ver se ele vai cumprir a decisão do Tribunal Internacional. Vamos ver se ele vai cumprir a decisão tirada da ONU agora. Então, é por isso que nós defendemos uma mudança na ONU. Porque, quando a ONU tomar uma decisão, ela precisa ser cumprida. E eu quero dizer em alto e bom som: só será resolvido os conflitos no Oriente Médio, entre o governo de Israel e o povo palestino, no dia que a ONU tiver força para implementar a decisão que demarcou o território, em 1967. E deixar os palestinos construírem sua pátria livremente. E viver harmonicamente com o povo judeu. É isso que eu quero. É isso que eu sonho e é por isso que eu vou brigar a vida inteira. Não dá para a gente deixar de enxergar o que está acontecendo lá. Não dá. É efetivamente um genocídio contra mulheres e crianças o que está acontecendo. É triste, mas o tempo se encarregou de provar que eu tinha razão quando fiz a crítica no primeiro momento.

    Repórter: Presidente, existe uma preocupação muito grande no Brasil, nessa semana ficou muito claro isso, com relação à questão fiscal. O ministro Haddad [ministro da Fazenda] — muita gente considerando que ele está isolado – tentando manter a disciplina fiscal. E ele falou, nessa semana, na necessidade de se rever os custos do governo. O senhor concorda com o corte de despesas do governo. Concorda, por exemplo, em desvincular os gastos com saúde e educação para resolver a questão fiscal? Muito obrigado.

    Presidente Lula: Deixa eu falar uma coisa para você. Vou dizer uma coisa com muita sinceridade para você. Eu aprendi economia com uma mulher. Vou repetir o que eu já falei 300 vezes, tá? Eu aprendi a fazer economia com a Dona Lindu, que era analfabeta. E ela pegava o envelope dos oito filhos e distribuía a tarefa de cada um. O dinheiro do ônibus, o dinheiro do pão, o dinheiro do cigarro, o dinheiro do leite. Se não sobrasse alguma coisa, não tinha para a farra, mas era assim que ela distribuía. No governo é a mesma coisa. No governo é a mesma coisa. Eu acho que tudo aquilo que a gente detectar que é gasto desnecessário, você não tem que fazer. Você não tem que fazer. Eu, 90% da minha vida, eu nunca tive uma dívida, porque eu nunca gostei de me endividar e fazer uma despesa maior do que o meu salário. E o que nós estamos fazendo é o seguinte: nós já fizemos o que ninguém esperava que precisava ser feito. Nós já fizemos a regulação do Marco Fiscal, já aprovamos a Reforma Tributária. Nós estamos demonstrando a nossa seriedade de garantir estabilidade jurídica, estabilidade política, estabilidade fiscal, estabilidade econômica e estabilidade social. Isso está garantido. Agora, o Haddad, ele jamais ficará enfraquecido enquanto eu for presidente da República, porque ele é o meu ministro da Fazenda, escolhido por mim e mantido por mim. Então, é o seguinte: se o Haddad tiver uma proposta, o que vai acontecer é que ele vai me procurar nessa semana e sentar para discutir a economia comigo. Eu quero antecipar, eu quero antecipar. A gente não vai fazer ajuste em cima dos pobres. Vou dizer em alto e bom som: a gente não vai fazer ajuste em cima dos pobres. Porque os que ficam criticando o déficit fiscal, os que ficam criticando o gasto do governo são os mesmos que foram para o Senado e aprovaram a desoneração de 17 grupos empresariais. São os mesmos. E que ficaram de fazer uma compensação para suprir o dinheiro da desoneração e não quiseram fazer. Então, eu disse para o Haddad: “Haddad, não é problema mais do governo, o problema agora é deles”. A decisão da Suprema Corte diz que, dentro de 45 dias, se não tiver o acordo, está válido o meu veto. Aí não vai ter a desoneração. Então, agora, os empresários se reúnam, discutam e apresentem para o ministro da Fazenda uma proposta de compensação. 

    Mas deixa eu te falar uma coisa, eu às vezes fico incomodado, porque eu não sou presidente de um ano. Eu já vivi isso muitas vezes. Acontece que nós estamos, cada vez mais, reféns de um sistema financeiro que praticamente domina a imprensa brasileira. Ou seja, a questão do déficit fiscal aparece na primeira página, segunda página, na terceira página. Ou seja, ninguém fala da taxa de juros, de 10,25%, em um país com inflação de 4%. Ninguém fala. Pelo contrário, faz uma festa para o presidente do Banco Central, em São Paulo. Normalmente, os que foram na festa devem estar ganhando dinheiro com a taxa de juros. Normalmente. Então, eu acho que a discussão econômica é muito séria. Ela é mais séria. Nós temos que sentar e eu sento na mesa com todos os meus ministros para discutir com seriedade o que a gente tem que fazer. Agora, achar que nós temos que piorar a saúde, que nós temos que piorar a educação para melhorar, isso é feito há 500 anos no Brasil. Há 500 anos. Há 500 anos o povo brasil não participava do Orçamento. 

    Por isso que o Brasil foi um dos últimos países a ter uma universidade. Eu já falei isso também. Dizem que velho repete muito, mas eu não esqueço o que já falei. Então deixa eu lhe contar uma coisa: por isso é que o Brasil só foi ter sua primeira universidade, 1920, quando o Peru teve a primeira em 1554. 

    Então o povo pobre ficou esquecido. Se não tem dinheiro, vamos deixar o pobre para lá. Não, gente, não é possível. Eu quero acabar com a pobreza nesse país. Eu quero criar um país de classe média baixa, onde todas as pessoas possam trabalhar, estudar, comer e almoçar. Ir no restaurante no final de semana e ainda passear com a sua família. É possível construir esse país. E eu vou repetir uma máxima que muitos não gostam que eu fale: tem muito dinheiro na mão de poucos e pouco dinheiro na mão de muitos. Quando a gente reverter isso, você vai perceber como o Brasil vai melhorar de forma extraordinária. Todas as estabilidades — jurídica, política, social, econômica e fiscal. É isso.

    Presidente Lula: Mais uma. Faça mais uma pergunta. Não é possível que você veio de tão longe e não vai fazer uma pergunta.

    Michele Oliveira (Folha): Obrigada, presidente. Michele Oliveira da Folha. Falando um pouco de PL 1904, um pouco de economia. O líder do governo na Câmara essa semana, deputado José Guimarães, falou que vive com a faca no pescoço, disse que está faltando ao governo comando político e estratégico, centralizado. Que avaliação o senhor faz desse diagnóstico que vem dele e de onde precisa sair esse comando? Obrigada.

    Presidente Lula: Deixa eu te falar uma coisa. Como você tem 513 deputados, eu não posso ficar comentando cada fala de cada deputado. O que eu posso te dizer é o seguinte: nunca antes na história do país houve um presidente da República que tivesse a preocupação de cuidar do povo. E eu sei que isso incomoda. Os nossos cuidados com as trabalhadoras domésticas incomoda. O nosso trabalho do Bolsa Família, garantindo que as pessoas tenham mais, incomoda. O nosso trabalho de diminuir o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 — que é o que nós vamos fazer antes de terminar o meu mandato — incomoda. Nesse país, a Petrobras acaba de pagar R$ 45 bilhões para os acionistas como dividendos e não ficou R$ 1 de Imposto de Renda. Um real. O cidadão que tem uma herança paga menos Imposto de Renda do que o cara que ganha três salários mínimos. Então, é preciso fazer uma reversão, que a gente está tentando fazer. E a gente tem resistência, mas nós somos teimosos. As pessoas acham e sempre acharam que o Lula não vai ganhar as eleições para presidente, perdeu em 1989. “Acabou com o Lula”. Voltei em 1994, perdi outra vez. “Ah, o Lula acabou”. Aí veio 1998, me candidatei outra vez. “Ah, o Lula perdeu, o Lula acabou”. E eu não acabo, sabe por quê? Porque eu não sou eu, eu sou vocês. Eu sou uma parte das aspirações que o povo brasileiro tem. É isso. 

    Então, eu vou continuar trabalhando para que haja uma ascensão social nesse país, capaz de a gente dar um salto de qualidade na vida do nosso povo. Eu vou provar isso. Então, tem gente que fala: “o Lula agora teve esse processo contra ele e acabou, agora é o fim dele”. E eu voltei. Voltei. E não me provoque mais, não me provoque mais. Porque o que eu quero é terminar o meu mandato com a maior decência possível, quero levar a economia brasileira para ser a sexta economia do mundo até o final do meu mandato. Presta atenção no que estou falando: quero fazer a economia voltar a ser a sexta economia do mundo. Nós chegamos a ser a sexta, em 2011. Agora, voltamos para a 12ª e agora estamos na 8ª. Eu, quando vejo as páginas dos jornais, “PIB vai crescer 0,8%”, “PIB vai crescer 0,7%.” E aí, quando cresce mais, as pessoas ficam com vergonha de publicar. Quando dá muito emprego, sabe, foram 2,2 milhões de empregos em 15 meses. E as coisas vão continuar acontecendo, presta atenção no que eu vou dizer para vocês. Presta atenção: a nossa economia vai crescer mais do que todas as previsões negativas, nós vamos continuar gerando emprego. O governo vai continuar fazendo parceria com o setor privado para fazer investimento, a gente vai continuar investindo em educação, a gente vai continuar investindo em saúde, porque a saúde não é uma coisa qualquer. A minha briga com a saúde é porque nós precisamos dar ao povo o respeito que o povo merece.

    Vocês e eu, quando estamos doente, a gente vai no médico e o médico detecta uma doença na gente e logo fala: “Você precisa procurar o doutor fulano de tal, que é especialista. Você vai no especialista. Você precisa fazer uma ressonância magnética”. Você faz a ressonância magnética. Tudo é mais fácil, agora para o povo pobre, ele vai em uma UPA, vai na UBS, recebe um diagnóstico e o médico fala que tem que procurar um especialista. Esse especialista demora 8 meses, 9 meses. Depois o especialista fala: “Muito bem, tá vivo depois de 9 meses, veio a mim, agora a gente precisa fazer uma ressonância magnética”. É mais 9 meses. A doença não para, que nem o basquete, quando para o jogo e para de correr o tempo. Não, a doença continua andando. Então, nós precisamos garantir ao povo os direitos elementares que ele tem direito. E eu acho que é possível fazer isso. É engraçado, porque eu vou repetir uma coisa que eu falo todo dia: a única coisa que não é tratada como gasto é o dinheiro que a gente paga de juros de uma dívida, por conta da alta da taxa de juros. Isso é gasto. Quanto de dinheiro a gente paga, todo ano, de juros, que poderia estar sendo investido em saúde, em educação, em mais universidades, em mais emprego, em mais desenvolvimento, em mais ferrovia, em mais rodovia.

    Então, meu caro, só para você saber: eu, antes de sair, falei para o companheiro Rui Costa [ministro da Casa Civil]: “Rui, quando eu voltar, semana que vem, prepare uma reunião do Conselho Orçamentário, porque eu quero fazer a discussão sobre Orçamento e quero discutir os gastos”. Porque, o que muita gente acha que é gasto, eu acho que é investimento. Sabe? E digo isso com a maior tranquilidade. Eu acho que nós precisamos dar ao Brasil a decência que o Brasil merece. Esse país nunca teve a chance de fazer o povo subir o segundo degrau. A gente sobe o primeiro, aí derrubam. Aí sobe mais uma vez e derrubam. Não, nós queremos subir o segundo, o terceiro, e ficar em um padrão de vida que eu acho que o Brasil pode garantir ao seu povo. 

    Então, gente, obrigado pela paciência de vocês. 

    Eu vou pegar um avião agora. 

    Um beijo no coração de vocês.

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