Depois do Conselho Federal de Medicina, bolsonarismo busca ampliar espaços na OAB
Candidatos mobilizam discursos conservadores e críticas ao STF
247 - Após conquistar posições estratégicas no Conselho Federal de Medicina (CFM) neste ano, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) miram a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), utilizando discursos polarizados e acenos ao conservadorismo. As eleições para as seccionais da OAB, realizadas nos 26 estados e no Distrito Federal, começaram ontem e seguem até o dia 30. A informação é do jornal O Globo.
Com declarações diretas, Bolsonaro reforçou o tom político da disputa em entrevista a uma rádio paulista neste mês. Na ocasião, o ex-presidente pediu aos advogados que observassem os candidatos e evitassem "chapa ligada à esquerda". Para Bolsonaro, a postura da atual direção da OAB foi insuficiente na defesa de investigados e réus no Supremo Tribunal Federal (STF). “O advogado é um dos pilares da democracia. Se ele não pode falar, está amordaçado, adeus democracia”, declarou.
São Paulo como epicentro político
Na seccional paulista, Bolsonaro elogiou Alfredo Scaff, candidato cuja campanha se alinha ao discurso bolsonarista. Um de seus apoiadores, o advogado Tiago Pavinatto, já defendeu publicamente a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e classificou o Judiciário como um “poder ditatorial”. Outra chapa à direita, liderada por Caio Augusto Silva Santos, tem como candidata a vice Angela Gandra, filha de Ives Gandra Martins, jurista envolvido em controvérsia sobre intervenção militar.
O contraponto é liderado por Leonardo Sica, candidato situacionista que, apesar de ser sobrinho de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, tem se distanciado de pautas conservadoras.
Disputas nacionalizadas
Além de São Paulo, o extremista demonstrou apoio a candidatos em Santa Catarina e no Distrito Federal. Em SC, Rodrigo Curi usa uma foto ao lado de Bolsonaro para reforçar sua proximidade com o ex-presidente. Já no DF, Everardo Gueiros, conhecido como Vevé, afirmou que sua candidatura devolverá à OAB a função de “defender o direito do povo de ter um julgamento justo e legítimo”.
A politização também se reflete no Paraná, onde o vereador Eder Borges (PL) declarou apoio a Flávio Pansieri, apontado como defensor de pautas conservadoras. A crítica à polarização veio do advogado Luiz Fernando Casagrande Pereira, representante da chapa da situação: “Nunca houve essa mistura de política com a eleição da Ordem. A campanha virou só isso, pedir voto acusando os outros de serem de esquerda.”
Polarização no Rio de Janeiro
No Rio, as tensões também estão acirradas. Ana Tereza Basilio, candidata da situação, é apoiada por figuras de destaque tanto no campo conservador quanto no progressista, como o ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz. Já seu adversário, Marcello Oliveira, recebeu apoio do petista Marcelo Freixo.
Entre acusações mútuas de instrumentalização política, o advogado Rodrigo Mondego, aliado de Oliveira, criticou a guinada conservadora da OAB. “A mobilização desse ultraconservadorismo anti-constitucional vai empurrando a OAB para se tornar uma espécie de CFM”, afirmou.
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