Galípolo afasta proposta de Alckmin de excluir alimentos e energia do cálculo da Selic
Presidente do Banco Central afirma que sugestão não se alinha à metodologia da instituição e cita que núcleos de inflação já estão acima da meta
247 - Em declaração feita nesta quinta-feira (27), o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, rejeitou a proposta do vice-presidente da República e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), de retirar os preços de alimentos e energia elétrica do cálculo da inflação usada para definição da taxa Selic.
Galípolo abordou o tema durante a apresentação do Relatório de Política Monetária, no qual o BC revisou para baixo a previsão de crescimento da economia brasileira em 2025, de 2,1% para 1,9%. Segundo ele, a ideia levantada por Alckmin “não dialoga” com a lógica operacional da autoridade monetária.
“Acho que ele [Alckmin] não está falando tanto do momento, porque se a gente olhar para o momento agora e pegar o núcleo, está acima da meta [de inflação] e em uma diferença relativamente baixa comparativamente à inflação cheia”, declarou Galípolo. “Acho que ele está olhando para cenários internacionais e práticas internacionais.”
O presidente do BC também reforçou que os núcleos da inflação — que excluem itens voláteis como alimentos e energia — já estão elevados, o que reforça a inadequação da proposta de alterar o cálculo. “Estou bastante satisfeito com a forma como estamos trabalhando a política monetária”, afirmou. Atualmente, a taxa básica de juros está em 14,25% ao ano.
A sugestão de Alckmin foi feita na segunda-feira (24), durante evento organizado pelo Valor Econômico. O vice-presidente argumentou que retirar alimentos e energia do cálculo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado pelo Banco Central como referência, seria “uma medida inteligente”.
“Ele [EUA] tira do cálculo da inflação o alimento, porque alimento é muito clima. Não adianta aumentar juros que não vai baixar o preço do barril de petróleo. Isso é guerra, é geopolítica”, sustentou Alckmin, citando o modelo norte-americano como exemplo.
A fala do vice-presidente ocorre em um momento em que os preços dos alimentos seguem pressionando a inflação. Também nesta quinta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o IPCA-15 — considerado a prévia da inflação oficial — que apontou alta de 1,09% nos preços dos alimentos em março. Destaques para o ovo de galinha, que subiu 19,44%, e o café moído, com alta de 8,53%.
Embora Alckmin tenha citado práticas internacionais, Galípolo sinalizou que alterar a composição do IPCA nesse sentido não condiz com a metodologia brasileira e poderia comprometer a credibilidade da política monetária. O debate evidencia a tensão entre áreas do governo em relação ao ritmo de queda dos juros e à condução da política econômica em um cenário de inflação ainda resistente.
(Com informações da Carta Capital)
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