Investigados em trama golpista dizem que estratégia de Bolsonaro é 'rifar' militares envolvidos
Manobra, no entanto, pode estimular os militares envolvidos a fechar acordos de delação premiada
247 - A estratégia de defesa de Jair Bolsonaro (PL) de se distanciar da tentativa de golpe de Estado e de transferir a responsabilidade para os militares pode resultar em complicações jurídicas ainda mais graves para o ex-mandatário. De acordo com fontes militares ouvidas pela coluna da jornalista Andréia Sadi, do g1, a reação de Bolsonaro reflete uma tentativa de salvar sua pele ao negar qualquer envolvimento direto nos planos golpistas.
"Bolsonaro está rifando os militares", afirmou um dos integrantes das Forças Armadas indiciados pela tentativa de golpe, que preferiu manter anonimato. A crítica ocorre em resposta à fala de Paulo Cunha Bueno, advogado de Bolsonaro, que, na sexta-feira (29), declarou ao programa Estúdio i, da GloboNews, que os principais beneficiários do golpe seriam os militares, com a criação de uma junta militar após a morte de líderes políticos, incluindo o presidente Lula (PT) e seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).
Cunha Bueno alegou que, conforme o plano de um dos generais envolvidos, Mário Fernandes, Bolsonaro não faria parte da junta e, portanto, não se beneficiaria do golpe. "Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mário Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do Plano Punhal Verde e Amarelo, e nessa junta não estava incluído o presidente Bolsonaro", afirmou o advogado, tentando isentar o ex-presidente da conspiração.
No entanto, fontes militares criticam essa versão, afirmando que, mesmo que Bolsonaro não estivesse formalmente incluído no gabinete de crise, o órgão, composto por generais como Braga Netto e Augusto Heleno, seria criado para assessorar uma autoridade, no caso, o próprio presidente. Eles destacam ainda que nenhum militar envolvido na trama teria interesse em derrubar Bolsonaro, já que muitos acreditavam no projeto de país que ele defendia.
Para advogados que analisam o caso, a estratégia de negar a autoria do golpe parece ser o último recurso de Bolsonaro, especialmente devido à forte evidência material que já foi coletada. Com os detalhes da trama já amplamente documentados, não restaria outra alternativa ao ex-presidente senão tentar desvincular-se do golpe. Contudo, essa postura pode acabar gerando uma reviravolta ainda mais danosa à sua defesa, uma vez que militares podem ser incentivados a fechar acordos de delação premiada.
Embora a Polícia Federal já tenha concluído seu inquérito, a Procuradoria-Geral da República (PGR) ainda não ofereceu a denúncia. Caso a denúncia seja apresentada, os militares envolvids poderiam se tornar delatores, expondo ainda mais o ex-mandatário.
“A preocupação é maior com os generais Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, que foi comandante de Operações Terrestres entre o final de março de 2022 ao final de novembro de 2023 e colocou suas tropas à disposição do golpe, segundo a PF; e o general de brigada Mário Fernandes”, destaca a reportagem. .
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