Líder brasileiro no Brics detalha prioridades e descarta moeda comum
Maurício Lyrio destaca agenda do Brasil no bloco, com foco em saúde, clima, comércio e inteligência artificial
247 – O Brasil definiu suas principais prioridades para sua presidência no Brics em 2025, com foco em saúde, mudança climática, comércio, inteligência artificial e fortalecimento institucional. Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (21), o embaixador Maurício Lyrio, sherpa do Brics pelo Brasil, destacou a relevância dessas pautas para o fortalecimento do grupo e desmentiu os rumores sobre a criação de uma moeda comum. Segundo Lyrio, o objetivo do bloco é reduzir custos e ampliar a cooperação econômica por meio do uso de moedas locais, sem avançar na criação de uma unidade monetária compartilhada.
O encontro com jornalistas antecede a Reunião de Sherpas do Brics, que ocorrerá nos dias 25 e 26 de fevereiro, em Brasília, onde serão alinhadas as prioridades até a Cúpula de Líderes, marcada para os dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá participar do evento no dia 26.
O Brics, atualmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, foi ampliado em 2024-2025 com a entrada de Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. Com essa expansão, o bloco representa 48,5% da população mundial e cerca de 40% do PIB global em paridade de poder de compra. Além disso, os países-membros são responsáveis por mais da metade do crescimento da economia mundial, superando a média global de 2,5% a 3%.
Maurício Lyrio destacou que o Brics não apenas fortalece os países em desenvolvimento, mas também impulsiona a economia global, incluindo os países ricos. Ele ressaltou que o bloco é fundamental para o comércio exterior do Brasil, que movimentou US$ 210 bilhões em 2023, sendo US$ 121 bilhões em exportações e US$ 88,8 bilhões em importações. O saldo comercial positivo com o Brics foi de US$ 33 bilhões, representando quase metade do superávit comercial total do Brasil.
As cinco prioridades do Brasil no Brics
Durante a coletiva, Lyrio detalhou os eixos principais da presidência brasileira no Brics para 2025:
- Cooperação em saúde – O Brasil pretende intensificar a colaboração na pesquisa e desenvolvimento de vacinas, com foco em doenças tropicais negligenciadas e socialmente determinadas, que afetam principalmente os países em desenvolvimento. O Centro de Pesquisa de Combate à Tuberculose do Brics será um dos pilares dessa iniciativa.
- Mudança do clima e financiamento – Diante dos resultados insatisfatórios da COP29, realizada no Azerbaijão, o Brasil buscará coordenar os países do Brics para pressionar por mais financiamento climático na COP30, que ocorrerá em Belém do Pará. Segundo Lyrio, o compromisso de US$ 100 bilhões anuais previstos pelo Acordo de Paris nunca foi plenamente cumprido, enquanto as necessidades reais ultrapassam US$ 1,3 trilhão ao ano.
- Comércio, investimento e finanças – A presidência brasileira no Brics buscará reduzir custos das transações comerciais e financeiras entre os membros do grupo, promovendo o uso de moedas locais. Além disso, será dada continuidade à Parceria Brics para a Nova Revolução Industrial (PartNIR), visando à diversificação e modernização da base industrial dos países do bloco.
- Governança da inteligência artificial – O Brasil defenderá a criação de um arcabouço global para regular a inteligência artificial, com a ONU no centro das discussões. A intenção é garantir um desenvolvimento tecnológico inclusivo, mitigando desafios como a disseminação de desinformação e os impactos sobre o emprego.
- Fortalecimento institucional do Brics – Com a ampliação do grupo para 11 membros e a criação de uma categoria de países parceiros, o Brasil buscará consolidar a estrutura do bloco, incluindo a revisão das regras de presidência rotativa e dos termos de referência.
Sem moeda comum, foco é o uso de moedas locais
Um dos pontos mais debatidos na coletiva foi a especulação sobre a criação de uma moeda comum do Brics. Lyrio foi categórico ao afirmar que essa proposta não está em discussão.
"Moeda do Brics não é um tema que está sendo discutido", declarou o embaixador. Segundo ele, o foco está na facilitação do comércio entre os países membros por meio do uso de moedas locais e na implementação de sistemas de pagamentos transfronteiriços entre os bancos centrais.
"O que está sendo discutido são formas de reduzir os custos das operações comerciais e financeiras entre os países do Brics", explicou Lyrio, afastando qualquer possibilidade de avanço imediato para a criação de uma moeda única.
Fortalecimento institucional e desafios da ampliação
Com a recente expansão do Brics, que passou de cinco para 11 membros, Lyrio reforçou a importância de consolidar sua estrutura institucional. A entrada dos novos países exige ajustes, como a definição da ordem de presidência rotativa e a revisão dos termos de referência do bloco.
"Há desafios do ponto de vista institucional que têm que ser resolvidos", afirmou o embaixador, mencionando também a necessidade de integrar os novos membros aos mecanismos financeiros do grupo, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).
Por fim, Lyrio enfatizou que a presidência brasileira no Brics será marcada por uma agenda ambiciosa, voltada para resultados práticos na economia, no comércio e na governança climática. Com a ampliação do grupo e os desafios globais em áreas como tecnologia e meio ambiente, o Brics se consolida como um dos principais atores no cenário internacional, com o Brasil desempenhando um papel de liderança estratégica.
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