Lula lança Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza e apresenta soluções brasileiras, como o Bolsa Família e o Fome Zero
“Este será o nosso maior legado”, afirmou o presidente brasileiro diante de líderes do G20, nesta segunda-feira.
247 - O presidente Lula (PT) lançou durante a Cúpula do G20, no Rio de Janeiro, nesta segunda-feira (18), a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza. Em seu discurso, Lula destacou a experiência brasileira com programas sociais como o Bolsa Família e o Fome Zero, que já transformaram a vida de milhões de pessoas no país, e propôs levar essas soluções para uma escala global.
"A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais. A fome, como dizia o cientista e geógrafo brasileiro Josué de Castro, é a ‘expressão biológica dos males sociais’, é produto de decisões políticas que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade”, disse lula diante de líderes que representam 85% do PIB mundial,
Lula sublinhou que o mundo, apesar de produzir alimentos em abundância, continua a falhar em distribuir essa riqueza de forma equitativa. Segundo ele, o contingente de 733 milhões de pessoas subnutridas, conforme estimativa da FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura], reflete escolhas políticas equivocadas.
Ao apresentar a Aliança, Lula enfatizou que o Brasil se oferece como exemplo de que é possível superar a fome e a pobreza com políticas públicas eficazes. Ele relembrou que, em 2014, o país saiu do Mapa da Fome da FAO graças a iniciativas como o Bolsa Família e os investimentos na agricultura familiar. Entretanto, o retrocesso dos últimos anos trouxe novamente a fome para milhões de brasileiros.
“Foi com tristeza que, ao voltar ao governo, encontrei um país com 33 milhões de pessoas famintas. Em um ano e 11 meses, o retorno desses programas já retirou mais de 24,5 milhões de pessoas da extrema pobreza. Até 2026, novamente sairemos do Mapa da Fome, e com a aliança faremos muito mais”, afirmou o presidente.
A Aliança Global terá como foco a articulação de recomendações internacionais, financiamento e implementação de políticas públicas voltadas à inclusão social e segurança alimentar. Lula reforçou que essa iniciativa transcende a justiça social, sendo uma base fundamental para sociedades mais prósperas e pacíficas.
Lula também fez um diagnóstico sombrio do contexto mundial atual, mencionando o aumento de conflitos armados, os efeitos devastadores das mudanças climáticas e o agravamento das desigualdades sociais e de gênero. “Estive na primeira reunião de líderes do G20 convocada em Washington no contexto da crise financeira, em 2008. Dezesseis anos depois, constato com tristeza que o mundo está pior”, lamentou.
Ainda assim, o presidente brasileiro reforçou seu otimismo com a capacidade de ação conjunta dos países do G20, destacando a responsabilidade do grupo, que concentra dois terços da população mundial e a maior parte da riqueza e do comércio globais.
“Se assumirmos responsabilidade, poderemos ter sucesso em pouco tempo. A Aliança nasce no G20, mas seu destino é global. Que esta cúpula seja marcada pela coragem de agir”, concluiu Lula.
Leia a íntegra do discurso do presidente Lula:
"Caros Chefes de Estado e de Governo,
Dirigentes de Organizações Internacionais,
Demais Chefes de Delegação,
Minhas amigas e meus amigos,
Sejam bem-vindos ao G20.
Sejam bem-vindos ao Rio de Janeiro.
Esta cidade é a síntese dos contrastes que caracterizam o Brasil, a América Latina e o mundo.
De um lado, a beleza exuberante da natureza sob os braços abertos do Cristo Redentor.
Um povo diverso, vibrante, criativo e acolhedor.
De outro, injustiças sociais profundas.
O retrato vivo de desigualdades históricas persistentes.
Estive na primeira reunião de líderes do G20, convocada em Washington no contexto da crise financeira de 2008.
Dezesseis anos depois, constato com tristeza que o mundo está pior.
Temos o maior número de conflitos armados desde a Segunda Guerra Mundial e a maior quantidade de deslocamentos forçados já registrada.
Os fenômenos climáticos extremos mostram seus efeitos devastadores em todos os cantos do planeta.
As desigualdades sociais, raciais e de gênero se aprofundam, na esteira de uma pandemia que ceifou mais de 15 milhões de vidas.
O símbolo máximo na nossa tragédia coletiva é a fome e a pobreza.
Segundo a FAO, em 2024, convivemos com um contingente de 733 milhões de pessoas ainda subnutridas.
É como se as populações do Brasil, México, Alemanha, Reino Unido, África do Sul e Canadá, somadas, estivessem passando fome.
São mulheres, homens e crianças, cujo direito à vida e à educação, ao desenvolvimento e à alimentação são diariamente violados.
Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível.
Em um mundo cujos gastos militares chegam a 2,4 trilhões de dólares, isso é inaceitável.
A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais.
A fome, como dizia o cientista e geógrafo brasileiro Josué de Castro, “a fome é a expressão biológica dos males sociais”.
É produto de decisões políticas, que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade.
O G20 representa 85% dos 110 trilhões de dólares do PIB mundial.
Também responde por 75% dos 32 trilhões de dólares do comércio de bens e serviços e dois terços dos 8 bilhões de habitantes do planeta.
Compete aos que estão aqui em volta desta mesa a inadiável tarefa de acabar com essa chaga que envergonha a humanidade.
Por isso, colocamos como objetivo central da presidência brasileira no G20 o lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Este será o nosso maior legado.
Não se trata apenas de fazer justiça.
Essa é uma condição imprescindível para construir sociedades mais prósperas e um mundo de paz.
Não por acaso, esses são os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1 e 2 da Agenda 2030.
Com a Aliança, vamos articular recomendações internacionais, políticas públicas eficazes e fontes de financiamento.
O Brasil sabe que é possível.
Com a participação ativa da sociedade civil, concebemos e implementamos programas de inclusão social, de fomento da agricultura familiar e da segurança alimentar e nutricional, como o nosso Bolsa Família e o Programa Nacional de Alimentação Escolar.
Conseguimos sair do Mapa da Fome da FAO em 2014, para o qual voltamos em 2022, em um contexto de desarticulação do Estado de bem-estar social.
Foi com tristeza que, ao voltar ao governo, encontrei um país com 33 milhões de pessoas famintas.
Em um ano e onze meses, o retorno desses programas já retirou mais de 24, 5 milhões de pessoas da extrema pobreza.
Até 2026, novamente sairemos do Mapa da Fome.
E com a Aliança, faremos muito mais.
Aqueles que sempre foram invisíveis estarão ao centro da agenda internacional.
Já contamos com a adesão de 81 países, 26 organizações internacionais, 9 instituições financeiras e 31 fundações filantrópicas e organizações não-governamentais.
Meus agradecimentos a todos os envolvidos na concepção e no funcionamento desta iniciativa, que já anunciaram contribuições financeiras.
Foi um ano de trabalho intenso, mas este é apenas o começo.
A Aliança nasce no G20, mas seu destino é global.
Que esta cúpula seja marcada pela coragem de agir.
Por isso quero declarar oficialmente lançada a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Muito obrigado."
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