Múcio mostra "desconhecimento histórico" ao defender culpa no 'CPF' e não no 'CNPJ' em caso de golpe de Estado, diz historiador
Chico Teixeira aponta que a história brasileira é marcada pela impunidade, fator que alimenta o golpismo
247 – O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou na quinta-feira (21), em entrevista à CNN, que é de interesse das Forças Armadas esclarecer as investigações sobre a possível participação de militares no planejamento de um golpe de Estado, com o objetivo de “colocar a culpa no CPF e não no CNPJ”.
Para o historiador e professor da UFRJ Francisco Carlos Teixeira, a declaração do ministro revela “desconhecimentos históricos importantes”, tanto no que diz respeito ao julgamento de instituições por crimes quanto à cultura de impunidade no Brasil.
“O ministro mostra dois desconhecimentos históricos importantes, um que se consolidou com o julgamento de Nuremberg e os crimes contra a humanidade, contra a paz, no qual os vencedores mostraram com clareza que não bastava julgar alguns indivíduos, que as instituições tinham que responder pelas ações dos indivíduos que as comandavam”, afirmou. “Assim, as SS, o Partido Nazista e a Gestapo foram julgadas como instituições, foram consideradas culpadas e foram dissolvidas”.
Segundo Francisco Carlos Teixeira, a história brasileira ainda é marcada pela impunidade, fator que alimenta o golpismo e está enraizado na cultura militar.
“A segunda coisa que desconhece o ministro José Múcio Monteiro é que a história do Brasil foi marcada pela impunidade. A impunidade é o elemento do qual viceja o golpismo, e esse golpismo está arraigado na cultura militar, onde se acredita que os militares, por serem os fundadores da nação em Guararapes e terem proclamado a República em 1889, têm uma tutela sobre a nação”, explicou. “Na verdade, é preciso que as instituições que serviram de berço, de incubadora do golpe e da intentona homicida no Brasil sejam julgadas. E me refiro especialmente ao Batalhão de Operações Especiais de Goiânia e ao Centro de Inteligência do Exército. Essas instituições não têm mais nada a contribuir para o Brasil”.
Golpe de Estado
A Polícia Federal (PF) indiciou, na quinta-feira (21), o ex-mandatário Jair Bolsonaro (PL) e ex-integrantes do governo bolsonarista por crimes relacionados à tentativa de golpe de Estado após a derrota na eleição de 2022. As acusações incluem abolição violenta do Estado democrático de direito, tentativa de golpe de Estado, além de organização criminosa.
Ao todo, 37 pessoas foram indiciadas, incluindo 25 militares.
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