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    Nísia sobrevive e sai fortalecida de visitas ao Congresso, avaliam governistas

    À frente de um dos ministérios mais importantes e de maior orçamento do governo, a ministra já havia sido sabatinada por deputados federais na semana passada.

    Ministra Nísia Trindade (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

    Brasil de Fato - Pressionada desde que assumiu o Ministério da Saúde – e ainda mais intensamente no último mês –, Nísia Trindade resistiu sem grandes arranhões a uma sequência de audiências no Congresso Nacional. No dia 16, ela atendeu ao convite do colegiado da Comissão de Assuntos Sociais (CSA) do Senado, e teve nova oportunidade de apresentar aos parlamentares os principais projetos, metas e projeções da sua gestão, além de rebater acusações e fortalecer sua posição na arena política.

    À frente de um dos ministérios mais importantes e de maior orçamento do governo, a ministra já havia sido sabatinada por deputados federais na semana passada. E não se deixou emparedar diante de questionamentos e acusações feitas por senadores da oposição – dos mais polidos, como se mostraram Alessandro Vieira (MDB) e Dr. Hiran (PP-RR), aos mais estridentes Eduardo Girão (Novo-CE) e Damares Alves (Republicanos-DF).

    Foi justamente em um embate com a ex-ministra de Jair Bolsonaro (PL) que Nísia demonstrou sua versão mais contundente ao ser confrontada com insinuações de fraqueza. "A senhora está sendo sabotada no seu ministério? Tem controle de tudo o que está acontecendo ali, ministra? Está confortável em continuar neste cargo?", havia provocado a senadora de extrema direita, tentando impor uma lógica de que os indicadores seriam "tão ruins ou piores" dos que os dos ministros bolsonaristas.

    "Eu me sinto honrada por ocupar esse ministério. Não há nenhuma hipótese de eu desistir desse trabalho. Quem é responsável pela minha nomeação é o presidente da República, que me convidou e, sempre que estiver nessa posição, estarei trabalhando pela missão maior do ministério, que é a defesa do SUS, a defesa dos cidadãos brasileiros, da sua saúde e das suas famílias", rebateu Nísia.

    Ministra emite sinais e ganha apoios

    A ministra reconheceu a dimensão de desafios como a extensão da crise sanitária no território Yanomami, a queda da cobertura vacinal e as campanhas de combate à dengue, e não se ateve apenas em mencionar as condições que encontrou e trabalha para reverter no Sistema Único de Saúde (SUS) e outros programas fundamentais. Também apresentou projetos de investimentos, novos programas, como o que visa ampliar o acesso a especialistas médicos, e explicou procedimentos amparados por sociedades científicas que seguem critérios técnicos.

    "Nós começamos um processo de reverter a queda nas coberturas de vacina que tem como uma das suas explicações o negacionismo do governo passado. Isso é dado, isso é fato, e que repercute inclusive na vacinação de dengue mencionada aqui pela senadora Damares", disse Nísia.

    Ela também aproveitou para dividir os louros do início da jornada no cargo: "Se não fosse a grandeza dos senadores e de todo Congresso Nacional que aprovou a PEC da Transição, nós não teríamos conseguido a retomada desses programas; alguns foram retomadas, e outros iniciam com inovações importantíssimas, como a estratégia do Complexo Econômico e Industrial da Saúde, lançada em setembro passado".

    Confrontada sobre um suposto erro no repasse a Cabo Frio (RJ), cidade onde seu filho é secretário municipal de Cultura, Nísia negou que tenha havido qualquer favorecimento ou direcionamento. "Vinha, desde janeiro, parecer da CIB (Comissão Intergestores Bipartite), aprovação dentro do ministério, e o que nós fizemos foi, não só em Cabo Frio, mas em todo Brasil, reparar danos históricos à saúde da população, independentemente do partido de seus governantes", ressaltou.

    Com qualidades exaltadas até por senadores de oposição, a ministra da Saúde teve sua participação aprovada por governistas, como a senadora Teresa Leitão (PT-PE). "O depoimento dela (Nísia) aqui hoje foi exemplar. Muita segurança, muita calma e transmitiu, de fato, sem nenhum efeito pirotécnico, o que está sendo feito, com um nível de conhecimento técnico muito grande, consciência das dificuldades, mas também um compromisso com a superação dessas dificuldades", exalta.

    Para o também petista Humberto Costa, que preside a Comissão de Assuntos Sociais e já liderou o ministério da Saúde, a ministra está sendo "absolutamente fiel" ao programa do governo e vem fazendo um bom trabalho. "Os que hoje fazem um movimento para a sua desestabilização não estão preocupados em melhorar a saúde da população brasileira, mas em ter controle político, especialmente sobre o Ministério da Saúde. E isso é inaceitável, então nosso apoio é integral", reafirma.

    O senador Jorge Kajuru (PSB-GO) também se solidarizou com Nísia, especialmente se comparada às escolhas "desastrosas" de Bolsonaro para a pasta. "Para mim, ela é a melhor ministra dentre todos que eu vi até hoje, desde os governos Fernando Henrique até agora no governo Lula, pelo seu preparo, pela sua seriedade, pela sua dedicação", disse o senador, que também contestou a própria finalidade dos seus pares na comissão. "Me preocupo quando aqui nas comissões marcam presença ministros diferenciados e que são maltratados e desrespeitados por senadores que não são de oposição ao governo Lula, são de oposição ao Brasil. Para eles, quanto pior melhor", acusou.

    Machismo sempre à espreita

    Bem-sucedida, doutora em Sociologia e mestre em Ciência Política, Nísia Trindade foi a primeira mulher a ser presidente da Fiocruz, onde chegou a ser condecorada por sua atuação durante a pandemia de covid-19. Em janeiro de 2023, tornou-se também a primeira mulher a assumir o cargo máximo do Ministério da Saúde.

    Discreta, tem sua trajetória como gestora pública e pesquisadora reconhecida internacionalmente e sua produção consta em algumas das principais revistas científicas. Porém, isso não a blinda de ser vítima de misoginia e outros golpes baixos, conforme aponta a senadora Teresa.

    "Não tenha dúvida de que, para nós mulheres, esses espaços são muito tóxicos. Eu acho que há uma carga, sem sombra de dúvida, de mal-querença, quando uma mulher assume um posto de comando. Eu acho que isso vai passar, porque isso também é mote, isso também é uma estratégia que a oposição tem usado. Na insuficiência política e na dificuldade de mostrar erros, tudo é amplificado. E quando se trata de uma mulher, mais amplificado ainda", constata.

    Humberto Costa também enxerga um traço de discriminação pela questão de gênero, mas avalia que a continuidade do trabalho de Nísia à frente da pasta vai romper quaisquer resistências. "Acredito que o tempo também vai fazer com que ela possa lidar melhor com algumas questões políticas. São muito mais pretextos para essa desestabilização do que propriamente em críticas que tenham fundamentos", conclui.

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