Marieta Severo volta à comédia e cobra governo Lula: “falta azeitar a cultura no Brasil”
Atriz celebra 60 anos de carreira com novo filme e afirma que, apesar de avanços, ainda faltam medidas efetivas para fortalecer o setor cultural
247 - A atriz Marieta Severo está celebrando seis décadas de carreira, mas não quer apenas festa. Em entrevista à Folha de S. Paulo, a atriz faz um apelo direto ao governo Lula por mais atenção à cultura, após os anos de desmonte promovidos por Jair Bolsonaro. “Há coisas muito positivas, e agora temos mecanismos mais efetivos, com a volta da Ancine, mas nem tudo está azeitado o suficiente”, afirma. “Queremos medidas mais efetivas, recursos, e atenção ao debate sobre a regularização das plataformas de streaming.”
A crítica vem no momento em que Marieta lança o longa Câncer com Ascendente em Virgem, uma comédia dramática que marca seu retorno ao humor — gênero que ela considera essencial para a alma brasileira. “O brasileiro se expressa por meio do deboche, do humor, da ironia. Faz parte da nossa identidade”, diz.
No filme, Marieta interpreta Leda, uma mulher supersticiosa e cheia de fé, que precisa apoiar a filha após um diagnóstico de câncer de mama. A história de superação e afeto entre mãe e filha ressoa com sua própria trajetória: Silvia Buarque, sua filha com Chico Buarque, também enfrentou a doença. “Passei pelo mesmo que minha personagem, mas sem precisar falar com Buda, Orixá ou Nossa Senhora Aparecida. Recorri a todas as forças que estão por aí e que nem sei quais são.”
Nos últimos anos, Marieta tem usado sua visibilidade para defender o audiovisual brasileiro. Durante o governo Bolsonaro, ela classificou o momento como “catastrófico, louco, medieval” — um período marcado pela extinção do Ministério da Cultura e ataques à Ancine. Agora, mesmo com a retomada institucional sob Lula, a atriz afirma que a reconstrução ainda está longe de completa. “Toda essa glória tem que gerar leis para solidificar a indústria. São vários os segmentos que ficaram sem atendimento nesses últimos anos.”
Além do novo filme, Marieta mantém viva outra frente de luta: o Teatro Poeira, fundado ao lado da amiga Andréa Beltrão, enfrenta dificuldades para captar recursos e manter a programação. “O dinheiro que mantém ele de pé sai do meu bolso e do da comadre. E vai ficando cada vez mais difícil”, lamenta.
A relação com Beltrão atravessa décadas — juntas atuaram em A Estrela do Lar, em 1989, depois em A Grande Família e mais recentemente na novela Um Lugar ao Sol. Para a colega, é impossível separar Marieta da história da dramaturgia nacional. “Ela não é uma estrategista da própria trajetória. E é por isso que Marieta é tão rica, porque deixa a vida levar”, diz Andréa.No cinema, a atriz segue ativa. Após Domingo à Noite — em que interpretou a esposa de um idoso com Alzheimer, papel que dialogava com sua vida pessoal durante a doença de Aderbal Freire Filho — Marieta volta à leveza com Câncer com Ascendente em Virgem. A diretora Rosane Svartman destaca sua entrega em cena: “Ela domina o set, mas traz frescor. É muito aberta ao jogo”.
Apesar do carinho pelo teatro e pela televisão, a atriz reconhece que não tem mais disposição para o ritmo intenso das novelas. “Não me vejo mais decorando texto de novela por um ano inteiro. Sei o quanto isso é custoso. Mas a televisão me deu facilidade com os movimentos de câmera, e isso me ajuda no cinema.”
Marieta não para: tem quatro novos filmes prontos e quer experimentar mais com streaming. Ao refletir sobre o passado, relembra a insegurança do início da carreira: “Lembro daquela menina cheia de angústia, achando que não tinha talento. Só tenho vontade de pedir para ela ficar calma, dizer que ela vai alcançar seu lugar.”
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