Poeta Antonio Cicero deixou carta e mencionou ida à Europa para “morrer com dignidade”

247 - Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), o poeta Antonio Cicero deixou uma carta de despedida em que explica a sua decisão de passar por um procedimento de morte assistida na Suíça. 

Os relatos foram divulgados por seu companheiro, o figurinista Marcelo Pies. O casal se encontrava em Zurique, para realizar o procedimento. Na carta, o artista mencionou a eutanásia, procedimento diferente do que ele passou.

Na eutanásia, uma equipe médica faz a prescrição e aplica a substância que induz o paciente à morte. Na morte assistida, o médico faz a prescrição e ajuda, mas o próprio paciente é que fica responsável por conduzir o ato.

Leia a íntegra: 

“Queridos amigos,

Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer.

Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem.

Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi.

Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia.

Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo.

Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação.

A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa – mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.

Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo.

Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade.

Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços!”