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Brasil pode perder mercado de carne na Europa se não conseguir rastrear rebanho para evitar desmatamento ilegal

247 questionou ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, sobre providências que estão sendo tomadas para atender às regras ambientais que entram em vigor em janeiro na União Europeia

Carlos Henrique Fávaro (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)

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Por Joaquim de Carvalho, 247 - O Brasil poderá perder mercado da carne na Europa a partir de janeiro de 2025, quando as regras de desmatamento criadas pela União Europeia entrarão em vigor. Os países europeus querem a garantia de que o gado brasileiro não está sendo engordado em área de desmatamento ilegal, ou seja, em áreas de florestas, que devem ser protegidas.

Atualmente, o Brasil possui o monitoramento do rebanho cuja carne in natura vai para a Europa com 90 dias antes do abate, mas não do ciclo completo, como exige a legislação europeia.

“A transição que pedimos tem que ser equivalente ao ciclo de produção. O animal para a Europa é abatido, em média, com 30 meses de idade. Para a carne ser exportada para lá, o bezerro precisaria ter recebido brinco ou chip há quase dois anos e não temos isso”, disse o diretor de Sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Fernando Sampaio, durante uma mesa redonda realizada pelo Diálogo Agropolítico Brasil– Alemanha (APD), em parceria com a Universidade de Bonn e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em fevereiro.

Sampaio ressaltou, naquele encontro, que o pedido não é para postergar a entrada em vigor da lei, mas defendeu um "tempo de aprendizado" para estender a rastreabilidade já existente nas últimas etapas de criação do gado para o ciclo completo, com prazo determinado para chegar ao risco zero.

Nesta semana, quando o presidente Lula recebeu representantes da indústria da carne no Palácio do Planalto, o 247 questionou o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, sobre o que tem sido feito para atender à exigência da União Europeia. 

“Estamos fazendo juntos. É fundamental que para a segurança que esse setor contribua por uma produção sustentável no Brasil. É interesse do setor fazer isso. A imensa maioria dos nossos pecuaristas tem boas práticas. A própria ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil) tem dito isso. E menos de dois por cento do setor ainda insiste em práticas criminosas com o meio ambiente, com desmatamento ilegal, queimadas ilegais, invasão de terras públicas. Para esses, é comando e controle, é embargo, é Polícia Federal, é o Ministério da Justiça agindo para aqueles que transgridem as leis. A imensa maioria precisa de orientação, programas, sistema para adesão e para que possamos mostrar ao mundo a boa forma que o Brasil tem de produzir”, respondeu Carlos Fávaro.

Fernando Sampaio, diretor da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), por sua vez, comentou:

“O Ministério da Agricultura acabou de criar um grupo de trabalho onde está a Abiec, onde estão os produtores, para discutir a sustentabilidade. A gente está junto, participando disso, a gente entende que o papel do setor privado é justamente aprimorar os mecanismos de rastreabilidade, dissociar a produção da ilegalidade, do desmatamento ilegal e o governo fica com outro pedaço, que é o comando e controle, como o ministro comentou. O governo tem um plano de prevenção e controle do desmatamento da Amazônia, que está sendo colocado em prática, já está buscando resultado na queda do desmatamento, e a nossa convicção é que essa luta contra a ilegalidade precisa tanto do esforço do setor privado quanto do esforço do  setor público, do esforço dois lados, que já está acontecendo. Nossa indústria hoje na Amazônia, todas elas têm hoje um controle de onde estão comprando o gado, para garantir a legalidade do serviço.”

Veja o vídeo abaixo com a entrevistas

Nenhum dos dois falou sobre a rastreabilidade acima de 90 dias. Se não houver esse mecanismo de controle, o Brasil perderá mercado na Europa, que também sofrerá com a menor oferta de carne. Já houve restrição em 2008, por razões sanitárias, o que prejudicou as exportações brasileiras e o consumidor europeu, com preços elevados.

Se as restrições voltarem, agora por razões ambietais, todos perderão, inclusive quem colocou gado nas florestas, contando com a leniência do poder público, principalmente durante os anos do governo de Jair Bolsonaro, que tinha como ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, que expôs, durante reunião ministerial, o seu método de trabalho. Era preciso deixar passar a boiada.

O risco agora é que essa boiada não passe dos portos brasileiros.


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