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    BRICS devem reagir às ameaças de Trump e renminbi pode ser a saída, diz Sachs

    Jeffrey Sachs analisa tensões geopolíticas, protecionismo e o futuro da economia global

    (Foto: .REUTERS/Max Rossi)
    Redação Brasil 247 avatar
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    247 – A escalada de tensões geopolíticas entre Estados Unidos e China tem levantado dúvidas quanto à hegemonia do dólar e ao possível avanço do renminbi (ou yuan) em um cenário internacional cada vez mais volátil. Em entrevista disponível no YouTube, o economista Jeffrey Sachs, diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia, aprofunda sua análise sobre a conjuntura macroeconômica global e as possíveis respostas de Pequim às pressões de Washington.

    Logo de início, Sachs alerta para a estratégia norte-americana de “arma do dólar”, enfatizando que “se os Estados Unidos militarizarem o dólar, o que infelizmente já vêm fazendo, os BRICS precisam reagir; e o renminbi será fundamental nessa reação”. Em sua visão, a adoção de moedas digitais emitidas por Bancos Centrais pode se tornar inevitável, sobretudo caso sejam ampliadas as restrições unilaterais e sanções financeiras impostas pelo governo norte-americano.

    “O fato de Trump ameaçar retaliar se a China desvalorizar o renminbi é evidência de que essa política faz sentido do ponto de vista de mercado”, afirma Sachs, referindo-se às possíveis medidas protecionistas dos EUA.

    Para o economista, a China precisa buscar novos mercados de exportação, especialmente em países emergentes, e deixar de apostar na expansão de vendas para os Estados Unidos — um mercado que, em sua opinião, ruma para um protecionismo cada vez maior.

    A tensão comercial e o exemplo do Japão

    Sachs traça um paralelo entre a atual situação chinesa e o que ocorreu com o Japão no final dos anos 1980, quando Washington promoveu acordos e restrições que conteram significativamente o crescimento econômico japonês. O chamado “Plaza Accord” resultou na forte valorização do iene, reduzindo a competitividade das exportações nipônicas para o mercado norte-americano.

    Para Sachs, os Estados Unidos podem adotar postura semelhante em relação à China, visando conter seu avanço comercial. Nesse contexto, ele aconselha Pequim a evitar o “modelo japonês” de manter a moeda artificialmente forte e recorrer a amplos déficits orçamentários para estimular o consumo interno. A melhor estratégia, na visão do economista, seria aumentar investimentos em infraestrutura e em setores estratégicos — como energia limpa e tecnologia digital —, buscando ao mesmo tempo abrir novos mercados para os produtos chineses, apoiados por linhas de crédito de longo prazo.

    Renminbi digital e o novo sistema de pagamentos

    Outra recomendação de Sachs é que a China amplie o uso do renminbi digital para fomentar o comércio com seus parceiros, sobretudo aqueles afetados por sanções dos Estados Unidos. Segundo ele, a digitalização da moeda poderia servir de base para um novo sistema de pagamentos internacionais, menos dependente do dólar.

    “Acredito que um sistema de pagamentos alternativo seja absolutamente necessário”, defende. “Os Estados Unidos não só se tornam cada vez mais protecionistas, mas também utilizam o dólar como arma, bloqueando transações e confiscando reservas de países considerados adversários.”

    Em sua análise, a adoção de moedas digitais ou a criação de um sistema de pagamentos comum entre países do BRICS tende a ser uma consequência natural se Washington mantiver o caminho de sanções econômicas unilaterais, especialmente as chamadas “sanções secundárias”, que afetam empresas e instituições de terceiros países que negociam com nações sob embargo dos EUA.

    Investimentos e um futuro sustentável

    O professor da Universidade de Columbia também destaca a oportunidade de a China acelerar sua transição energética em meio a esse cenário, aproveitando sua capacidade de produzir em larga escala painéis solares, baterias, linhas de transmissão de alta voltagem e outras tecnologias essenciais para a descarbonização da economia.

    Segundo Sachs, esse movimento reforçaria a estabilidade macroeconômica chinesa e sua posição de liderança global em setores estratégicos. A meta, afirma, deve ser manter elevados índices de investimento e crescimento das exportações, mas agora direcionados a mercados na Ásia, África e América Latina em vez dos Estados Unidos.

    No fim das contas, a mensagem central de Jeffrey Sachs é que a China pode — e deve — reagir às pressões externas fortalecendo sua competitividade e liderança em inovação, enquanto se engaja ativamente na remodelação do sistema monetário internacional. Para o economista, o renminbi, sobretudo em sua forma digital, tem potencial para ocupar um espaço de destaque nesse novo arranjo global, especialmente se os BRICS se unirem na resposta às crescentes ameaças e sanções dos Estados Unidos. Assista:

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