Contrabando de ovos cresce nos EUA diante de inflação e escassez

247 - A crise na oferta de ovos nos Estados Unidos provocou uma disparada nos preços e acendeu um alerta nas autoridades alfandegárias do país. De acordo com uma reportagem do Wall Street Journal, repercutida pela Folha de S. Paulo, o aumento das apreensões de ovos contrabandeados nas fronteiras com o México e o Canadá evidencia um fenômeno inusitado: consumidores tentando driblar a inflação recorrendo ao mercado informal.

Segundo dados da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP, na sigla em inglês), o número de tentativas de entrada irregular de ovos aumentou 36% no atual ano fiscal. Em algumas regiões do Texas, o crescimento foi ainda maior, alcançando 54%. Na cidade de San Diego, na Califórnia, os casos mais que dobraram.

A motivação para o aumento do contrabando é clara: o preço da dúzia de ovos grandes chegou a US$ 5,90 (cerca de R$ 33) em fevereiro deste ano — quase o dobro do valor médio registrado no mesmo período do ano anterior. Já nas cidades mexicanas próximas à fronteira, a mesma dúzia custa menos de US$ 2, tornando-se uma opção atrativa para quem busca economia.

A disparada nos preços é resultado direto da crise sanitária provocada pela gripe aviária. Desde o ressurgimento da doença nos EUA, em 2022, mais de 166 milhões de aves foram mortas ou abatidas preventivamente, o que reduziu drasticamente a oferta de ovos no mercado. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) proibiu a importação de ovos não inspecionados, temendo a propagação de doenças por meio de produtos não regulamentados.

Ainda assim, muitos consumidores atravessam a fronteira com caixas de ovos para uso pessoal. Segundo agentes da alfândega citados pelo Wall Street Journal, "a maioria das pessoas simplesmente não sabe que é proibido trazer ovos do México ou do Canadá". Quando questionados, os motoristas normalmente admitem que estão transportando o alimento. Em El Paso, por exemplo, 90 casos de tentativas de entrada ilegal foram registrados, com multas de até US$ 300 aplicadas a infratores não reincidentes. Os ovos apreendidos são incinerados pelas autoridades.

Um episódio recente ilustra o grau de tensão causado pela escassez: em Greencastle, na Pensilvânia, 100 mil ovos orgânicos foram roubados de uma instalação próxima à divisa com o estado de Maryland, o que chamou atenção das autoridades locais.

O governo americano anunciou medidas para conter a crise. O Usda afirmou que investirá até US$ 1 bilhão no enfrentamento dos altos custos do produto, sendo metade desse montante destinado a melhorias de biossegurança nas granjas. A secretária de Agricultura, Brooke Rollins, também revelou planos para ampliar as importações de ovos inspecionados como forma de aliviar a pressão sobre os consumidores.

Enquanto isso, o Brasil aproveita o cenário internacional para expandir sua presença no mercado global. Tradicionalmente voltado ao consumo interno — com 99% da produção mantida no país —, o setor avícola brasileiro elevou suas exportações em resposta à demanda externa. Nos dois primeiros meses deste ano, foram embarcadas 4.884 toneladas de ovos, um aumento de 38,2% em relação ao mesmo período de 2024. Somente em fevereiro, o volume exportado foi de 2.527 toneladas, alta de 57,5% frente ao mesmo mês do ano passado. Os principais destinos foram os Emirados Árabes Unidos e os próprios Estados Unidos, que adquiriram mais de 500 toneladas cada, segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

No Brasil, no entanto, também há sinais de pressão inflacionária: o preço dos ovos subiu 15,39% no mês passado, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A diferença é que, ao contrário dos EUA, o país ainda mantém controle sobre a produção e oferta internas, o que evita uma crise de desabastecimento.