Eleição de Trump não vai deter o boom de investimentos em descarbonização e energia limpa
Mesmo com estímulo ao petróleo, investidores apostam em empresas verdes; Ambipar se valoriza 27,2% com forte movimento de compra de estrangeiros
247 – A vitória de Donald Trump nas recentes eleições presidenciais dos Estados Unidos reacendeu debates sobre as possíveis mudanças nas políticas de energia, com a expectativa de uma guinada em direção ao aumento da produção de petróleo e gás. Contudo, especialistas afirmam que o impacto sobre o crescimento das energias renováveis deve ser limitado.
Uma das provas disso está no Brasil: a empresa Ambipar (AMBP3), uma referência em descarbonização e sustentabilidade, viu suas ações subirem 27,2%, de R$ 124,21 em 5 de outubro, dia da eleição, para R$ 158,00 na última sexta-feira, alimentada por um forte movimento de compra de investidores estrangeiros. Em menos de uma semana, a valorização dos papéis foi de 27,2%. Confira abaixo o desempenho:
A companhia, que recentemente se tornou a primeira empresa privada da América Latina a receber a certificação de “ação verde” pela B3 e pela Standard & Poor’s, ilustra o potencial e a resiliência do setor de descarbonização no Brasil e no mundo. Com apenas 0,02% das empresas globais listadas em bolsas possuindo essa distinção, a valorização da ação reflete uma tendência clara de investidores buscando ativos que contribuam para a sustentabilidade e combate às mudanças climáticas.
Mesmo com a promessa de Trump de estimular a exploração de combustíveis fósseis e diminuir regulações ambientais, especialistas consideram que uma reversão drástica na expansão das energias renováveis é improvável. Segundo reportagem da Reuters, o setor de renováveis nos EUA está respaldado por medidas como a Lei de Redução da Inflação (IRA), sancionada pelo presidente Joe Biden em 2022, que garante bilhões de dólares em subsídios para projetos de energia solar, eólica e outras tecnologias limpas pelos próximos anos. Essa legislação tem forte apoio em estados republicanos que já se beneficiam dos investimentos, tornando sua revogação praticamente inviável.
Ed Hirs, energy fellow da Universidade de Houston, afirmou: "Não acho que um presidente Trump consiga desacelerar a transição energética. Isso já está bem encaminhado". Essa opinião é reforçada por Carl Fleming, do escritório de advocacia McDermott Will & Emery, que ressaltou que muitos aliados de Trump têm participação em tecnologias limpas e que o impacto de ações administrativas poderia ser apenas marginal.
Embora Trump possa adotar medidas para restringir orçamentos e limitar a autonomia de agências federais em conceder subsídios e empréstimos vinculados à IRA, o mercado de energias renováveis já se mostra resiliente. A energia solar e eólica são hoje as fontes de energia que mais crescem nos EUA, beneficiadas por créditos fiscais federais, mandatos estaduais e avanços tecnológicos que reduziram os custos de produção.
Mesmo diante da possibilidade de cortes de orçamentos e restrições ao leasing de terras federais para projetos de energia limpa, as grandes empresas de petróleo e gás devem continuar a investir em descarbonização. Tony Dutzik, do think-tank Frontier Group, afirmou que a preferência pode se voltar para a extração de combustíveis fósseis em terras públicas, mas a maior parte dos projetos solares e eólicos em terra está localizada em propriedades privadas.
A transição energética não se limita à política governamental, mas é impulsionada por pressões de mercado e preferências dos consumidores. Jesse Jones, da Energy Aspects, destacou: “Presidentes podem fazer muito barulho sobre planos para o petróleo e gás dos EUA, mas, no fim, são indivíduos e empresas que respondem aos preços globais das commodities que decidem quando perfurar.”
Dan Eberhart, CEO da empresa de serviços petrolíferos Canary, LLC e doador de Trump, mencionou que o apoio a uma maior perfuração de petróleo e gás pode reduzir os preços de energia, mas admitiu que um retorno à retirada dos EUA de acordos climáticos internacionais, como o Acordo de Paris, seria controverso.
A combinação de forças de mercado, políticas já estabelecidas e avanços tecnológicos sugere que a transição energética global continuará a avançar, mesmo sob uma administração focada em combustíveis fósseis.
Entenda o que é descarbonização
A descarbonização é o processo de redução ou eliminação das emissões de dióxido de carbono (CO₂) e outros gases de efeito estufa na atmosfera, com o objetivo de mitigar os impactos das mudanças climáticas. Esse processo é parte fundamental das estratégias globais para combater o aquecimento global e suas consequências.
A principal fonte de emissões de CO₂ provém da queima de combustíveis fósseis, como petróleo, gás natural e carvão, utilizados para gerar energia, movimentar veículos e em processos industriais. A descarbonização busca a transição para fontes de energia mais limpas e sustentáveis, como solar, eólica, hidrelétrica e outras tecnologias que não produzem emissões significativas.
As medidas de descarbonização incluem:
- Transição para fontes de energia renovável: Substituição de usinas movidas a carvão e gás por alternativas limpas, como parques eólicos e solares.
- Eficiência energética: Implementação de tecnologias que aumentam a eficiência no uso de energia em indústrias, edifícios e transporte.
- Eletrificação do transporte: Promoção de veículos elétricos que utilizam energia de fontes renováveis, em vez de combustíveis fósseis.
- Captura e armazenamento de carbono (CCS): Tecnologias que capturam CO₂ diretamente das emissões industriais ou do ar e armazenam em locais seguros para impedir que cheguem à atmosfera.
- Mudanças no uso do solo: Reflorestamento e manejo sustentável de florestas para aumentar a absorção de CO₂.
O processo de descarbonização é central para cumprir as metas estabelecidas em acordos internacionais, como o Acordo de Paris, que visa limitar o aumento da temperatura global a bem abaixo de 2°C em comparação com os níveis pré-industriais, com esforços para restringi-lo a 1,5°C.
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