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      Entenda onde as baterias de carros elétricos renascem

      Empresa britânica aposta em inovação para reciclar baterias de veículos elétricos e transformar resíduos tóxicos em matérias-primas valiosas

      Ponto de recarga de carros elétricos no DF (Foto: Joel Rodrigues / Agência Brasília)
      Redação Brasil 247 avatar
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      247 – Com o avanço da eletrificação no mundo, cresce também o desafio: o que fazer com as baterias de veículos elétricos (EVs) quando chegam ao fim de sua vida útil? A resposta pode estar em um pequeno laboratório no interior da Inglaterra. A reportagem original da BBC Future mergulha na inovadora tecnologia da empresa Altilium, especializada na reciclagem de baterias, localizada na cidade de Tavistock, no sudoeste da Inglaterra.

      O processo começa com a "massa negra" — um pó escuro composto por resíduos triturados de baterias. Cada partícula tem menos de um milímetro e carrega em si metais preciosos como lítio, níquel, cobalto e grafite. São esses elementos que os técnicos da Altilium buscam recuperar e reutilizar na fabricação de novas baterias, fechando o ciclo e evitando o desperdício de recursos escassos.

      Da Covid à criação de uma economia circular

      A Altilium iniciou suas operações em 2020, mas o avanço foi retardado por dois anos devido à pandemia de Covid-19. Em 2022, a empresa assumiu o galpão em Tavistock — até então um espaço vazio — e o transformou em um centro de pesquisa e desenvolvimento de processos sustentáveis de reciclagem. Hoje, ela se prepara para inaugurar uma planta maior nos arredores de Plymouth.

      "Precisamos acabar com o mito de que baterias vão parar em aterros sanitários", afirma o CEO da Altilium, Kamran Marston. Para ele, reciclar baterias de EVs é uma questão não apenas ambiental, mas estratégica para os países que desejam garantir sua segurança energética e independência de insumos importados.

      Química de precisão para extrair o valor escondido

      O processo desenvolvido pela Altilium é baseado na hidrometalurgia, um método menos poluente do que a tradicional pirometalurgia. A massa negra é submersa em ácido sulfúrico, permitindo a separação de componentes como o grafite, que depois pode ser reinserido na cadeia produtiva. Metais menos valiosos, como alumínio e ferro, são eliminados por meio da alteração da acidez da solução, restando o material nobre.

      "A química das baterias está mudando rapidamente", explica Ben Wickham, diretor de tecnologia da empresa. Por isso, a estratégia é extrair individualmente cada metal — níquel, cobalto, manganês — e fornecê-los aos fabricantes com a composição exata de que necessitam para novos cátodos.

      O impacto da reciclagem na transição energética

      Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), quase 20% dos carros vendidos em 2023 foram elétricos — um salto de 35% em relação ao ano anterior. A expectativa é que, até meados do século, a reciclagem de minerais críticos reduza a necessidade de mineração em até 40%. A nova regulamentação da União Europeia sobre baterias, em vigor a partir de 2025, deverá acelerar essa transição, exigindo níveis mais altos de eficiência e reaproveitamento de materiais.

      A pesquisadora Xiaochu Wei, do Imperial College London, ressalta que o mercado ainda está em estágio inicial. "Estamos apenas começando a industrializar a reciclagem de baterias de íons de lítio", diz ela. A complexidade desses dispositivos, com seus componentes enrolados em espiral como um rocambole de metal e carbono, representa um obstáculo técnico relevante.

      Mas, mesmo com as dificuldades, as perspectivas são promissoras. Anna Hankin, também do Imperial College, lembra que todas as baterias eventualmente precisam ser desmanchadas: "Chegará um ponto em que regenerar componentes individuais deixará de ser viável. A única solução será triturar tudo."

      Geopolítica, soberania e o valor do lixo eletrônico

      Além da motivação ambiental, a questão é geopolítica. Em um mundo instável, em que cadeias de suprimento estão sujeitas a choques como o Brexit ou disputas comerciais, depender de importações de minerais críticos é um risco. "As economias do futuro serão as que controlarem os minerais essenciais", afirma Marston. E o Reino Unido, que não possui grandes reservas naturais desses materiais, precisa encontrá-los em seu próprio "lixo eletrônico".

      "Vemos as baterias que estão neste país como um ativo estratégico", declara o executivo. Ao reciclar localmente, o valor gerado permanece dentro do território nacional, criando empregos e reduzindo a dependência externa.

      Uma indústria em crescimento

      A Altilium aposta na escalabilidade do seu modelo. Se a nova planta funcionar como planejado, a empresa projeta instalar outras duas unidades ainda maiores. O objetivo é ousado: processar 150 mil baterias por ano, fornecendo materiais 20% mais baratos do que os disponíveis no mercado convencional.

      Esse avanço técnico e logístico pode ser crucial para alcançar um modelo econômico mais sustentável, menos dependente da mineração predatória e mais alinhado com as metas de neutralidade de carbono. Se tiver sucesso, a revolução da reciclagem de baterias pode não apenas resolver um problema ambiental urgente, mas também se tornar peça-chave na economia do século XXI.

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