Musk derruba vendas e destrói valor da Tesla

247 – As vendas da Tesla despencaram para o menor patamar em três anos, revelando não apenas os desafios tecnológicos e comerciais da empresa, mas também os efeitos colaterais da imagem cada vez mais controversa de seu CEO, Elon Musk. A reportagem é da BBC, assinada por Lily Jamali, correspondente de tecnologia na América do Norte, com base em São Francisco.

No primeiro trimestre de 2025, a Tesla entregou aproximadamente 337 mil veículos elétricos — uma queda de 13% em comparação ao mesmo período do ano anterior. A reação do mercado foi imediata: as ações da companhia despencaram nas primeiras horas de negociação após a divulgação dos números.

Embora a empresa tenha atribuído a queda a uma transição na produção do Modelo Y, analistas e investidores apontam outro fator central: o envolvimento direto de Elon Musk no governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu segundo mandato. Musk atualmente lidera a iniciativa DOGE (Departamento de Eficiência Governamental), criada por Trump para reduzir gastos públicos e cortar o número de funcionários federais.

O impacto dessa atuação já é visível. "Esses números são péssimos", escreveu no X (antigo Twitter) o investidor Ross Gerber, da Gerber Kawasaki Wealth and Investment Management. “A marca está quebrada e talvez seja irreparável”, completou. Gerber foi um dos primeiros apoiadores de Musk, mas hoje defende que o bilionário seja afastado da presidência da Tesla.

A marca enfrenta uma onda de protestos e boicotes globais. Manifestações do movimento "Tesla Takedown" já ocorreram nos Estados Unidos e na Europa, e há relatos de vandalismo contra veículos da empresa. Em Roma, um incêndio em uma concessionária da Tesla destruiu 17 carros, levando o governo italiano a reforçar a segurança em pontos de venda da marca.

Segundo a Politico, Trump teria confidenciado a aliados que Musk deixará o governo nas próximas semanas. Logo após a publicação dessa informação, as ações da Tesla voltaram a subir brevemente. No entanto, a Casa Branca negou a notícia, classificando-a como "lixo". Por lei, Musk só pode ocupar cargos no governo por até 130 dias ao ano, o que poderia empurrar sua saída para junho.

As declarações do próprio Musk não ajudam a restaurar a confiança. Em uma entrevista recente, ele admitiu estar tocando suas empresas “com grande dificuldade” e afirmou: “Francamente, não acredito que ainda estou aqui fazendo isso”.

A Tesla perdeu mais de um quarto de seu valor de mercado desde o início de 2025. Para o analista Dan Ives, da Wedbush, o problema é claro: “Não vamos olhar para esses números com otimismo... eles foram um desastre em todas as métricas. Quanto mais político Musk se torna com o DOGE, mais a marca sofre — não há debate”.

A empresa, que não respondeu aos pedidos de comentário da BBC, destacou em um documento enviado à Comissão de Valores Mobiliários dos EUA que os dados divulgados representam “apenas duas métricas” e “não devem ser usados como indicadores dos resultados financeiros trimestrais”, previstos para 22 de abril.

Além disso, a produção do SUV Model Y foi temporariamente suspensa em janeiro, o que teria contribuído para o desempenho fraco.

A presidente da Federação Americana de Professores, Randi Weingarten, enviou uma carta a dezenas de fundos de pensão públicos alertando para o "desempenho desastroso" da Tesla. “Esses declínios parecem estar parcialmente ligados ao fato de Musk estar priorizando atividades políticas que entram em conflito com os interesses da empresa e de sua marca”, escreveu ela.

O controlador de contas da cidade de Nova York, Brad Lander, anunciou que pretende processar a Tesla em nome dos fundos de pensão públicos da cidade, que teriam perdido mais de US$ 300 milhões com a queda no valor das ações. “Elon Musk está tão distraído que está jogando a Tesla de um penhasco financeiro”, declarou Lander.

A crise atual acende um alerta sobre o futuro da Tesla e a capacidade de Elon Musk de conduzir o império que construiu — ou de evitar que ele desmorone.