Mercados se preparam para semana turbulenta com início das tarifas agressivas de Trump
Medidas protecionistas dos EUA provocam perdas trilionárias e acirram tensões globais
247 – Os mercados financeiros globais iniciam a semana em estado de alerta com a entrada em vigor das tarifas mais severas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo reportagem publicada originalmente pelo jornal The Guardian, os temores de uma recessão global se intensificaram após perdas expressivas nas bolsas de valores, que registraram uma queda de quase US$ 5 trilhões na última semana — um movimento comparável aos primeiros meses da pandemia de Covid-19.
Sem sinais de recuo por parte da Casa Branca, que apelidou a medida de “dia da libertação”, analistas preveem uma continuidade da volatilidade nos mercados e riscos crescentes de recessão nas economias dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia. “A volatilidade provavelmente continuará elevada à medida que avançamos na semana”, afirmou Roman Ziruk, analista sênior da empresa global de serviços financeiros Ebury. Ele destacou que, embora ainda exista alguma expectativa de adiamento ou flexibilização das tarifas contra China e UE, que entram em vigor na quarta-feira, “o perigo de uma escalada nas tensões comerciais não pode ser subestimado, especialmente diante da resposta mais agressiva da China”.
Casa Branca endurece o discurso
Altos funcionários do governo Trump reforçaram no domingo que não há previsão de recuo. Em entrevistas à televisão, o secretário de Comércio, Howard Lutnick, afirmou que o presidente pretende “reinicializar o comércio global”.
Entre as medidas já em vigor, destaca-se a tarifa de 25% sobre aço e automóveis britânicos, o que levou a Jaguar Land Rover a anunciar, no fim de semana, a suspensão das exportações para os EUA – um mercado que representa cerca de 25% das suas vendas anuais, estimadas em 400 mil veículos.
Embora o Reino Unido tenha sido incluído em uma tarifa de 10%, mais branda do que a aplicada à China (34%), Japão e Vietnã (ambos também considerados “infratores graves”), a ameaça econômica é significativa. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, prometeu proteger as empresas do país e deverá apresentar um pacote de medidas ainda nesta semana. Nos bastidores, especula-se que poderá rever a promessa trabalhista de não aumentar impostos como forma de preparar o país para uma desaceleração no comércio global.
Reações na Europa e na China
Líderes europeus ainda debatem como responder às ações dos Estados Unidos. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, propôs negociações, mas fontes em Bruxelas indicam que um pacote de tarifas retaliatórias já está sendo preparado e deve ser anunciado em meados de abril. Produtos simbólicos como suco de laranja, jeans e motocicletas Harley-Davidson estão entre os alvos prováveis.
Na França, o presidente Emmanuel Macron sugeriu que as empresas francesas evitem novos investimentos nos Estados Unidos. Enquanto isso, a China já reagiu com a imposição de tarifas equivalentes sobre produtos norte-americanos.
O economista George Magnus, especialista em China e ex-economista-chefe do banco UBS, vê riscos de longo prazo caso o confronto comercial se intensifique. “Nem Trump nem Xi Jinping querem uma guerra comercial total neste momento”, ponderou. “Trump precisa demonstrar que o uso de tarifas gera receita e vantagem estratégica, sem mergulhar a economia americana em uma recessão. Xi, por sua vez, enfrenta desafios econômicos internos e não deseja um embate externo que afete exportações e empregos.”
Para Magnus, a disputa atual representa um dilema global. “O mundo terá de escolher entre pagar agora a Trump, por meio de tarifas, ou pagar depois a Xi Jinping, com a perda de empregos e capacidade industrial.”
Previsões sombrias para o crescimento global
Economistas de instituições como Barclays e UniCredit revisaram para baixo as projeções de crescimento para EUA, Reino Unido e União Europeia. Erik F. Nielsen, conselheiro econômico-chefe do UniCredit, foi categórico: “Ainda é cedo para estimar o impacto dessas armas econômicas de destruição em massa. Mas será ruim – muito ruim – para o crescimento dos EUA e do restante do mundo. Uma recessão nos EUA, talvez até uma recessão global, tornou-se uma possibilidade real”.
O cenário global, segundo Darren Jones, ministro do Tesouro britânico, marca o fim de uma era. “A era da globalização chegou ao fim”, declarou à BBC, embora tenha dito que Londres ainda espera fechar um acordo comercial com Washington.
No campo empresarial, o bilionário Elon Musk, aliado de Trump, manifestou apoio à criação de uma zona de livre-comércio entre EUA e União Europeia. Durante um evento do partido de direita Liga, na Itália, Musk afirmou que preferiria ver o fim de todas as tarifas.
Contudo, com os novos tributos programados para entrarem em vigor um minuto após a meia-noite de quarta-feira, os mercados se preparam para mais uma semana de instabilidade, sob o impacto direto da política externa econômica mais agressiva vista desde os tempos da Guerra Fria. A possibilidade de retaliações em cadeia e o aumento do protecionismo indicam que o mundo caminha para um novo capítulo de tensão comercial – com consequências ainda imprevisíveis.
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