Necessidade de apresentar compensação é dos empresários e do Senado, diz Lula
Em reunião do Conselhão, presidente também falou em retomar o fortalecimento da indústria e sobre o controle da inflação
247 - O presidente Lula (PT) participou nesta quinta-feira (27) de reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o "Conselhão", e falou sobre a desoneração da folha de 17 setores da economia e sobre a necessidade de, segundo ele, "empresários e Senado" apresentarem uma proposta de compensação.
O presidente deixou claro, mais uma vez, que não cabe ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), encontrar a solução, já que a posição do governo foi de pôr fim à desoneração, medida derrubada pelo Congresso. "Eu não sou contra a desoneração. Na crise de 2008, os empresários mais velhos se lembram, eu fiz R$ 47 bilhões de desoneração. Qual era a diferença da minha desoneração e da de hoje? É que sentavam numa mesa os empresários, o ministro da Economia e os trabalhadores, e eu queria saber qual era a contrapartida para os trabalhadores. Se eu vou dar desoneração, vou aumentar a capacidade de você ter mais dinheiro, transforma isso na estabilidade pelo menos dos trabalhadores. Mas fazer por fazer? E veja que engraçado: eu vetei, foi derrubado meu veto, nós entramos na Suprema Corte. A Suprema Corte deu um prazo para que empresários, governo e Senado encontrassem uma alternativa. O Haddad pensou em uma alternativa. O Haddad tomou tanta porrada... Nunca pensei que esse moço bondoso seria tão achincalhado. E foi. Foi porque fez uma coisa que não era dele. Então eu falei: não fica nervoso não, Haddad. A necessidade de apresentar a compensação é dos empresários e do Senado. Se não apresentar, fica mantido o veto. Por que ficar nervoso com isso?".
Indústria
O presidente também abordou a necessidade de fortalecer a indústria, citando como exemplo as siderúrgicas, que sofrem com a competição externa e já procuraram o governo, segundo Lula, buscando uma taxação maior para os produtos chineses. "Outro dia eu recebi os companheiros empresários do aço, do setor siderúrgico. Eles vieram conversar comigo, apresentar uma proposta de investimento de R$ 100 bilhões - mas não disseram o que vão fazer. Mas qual era a grande encomenda deles? De que era preciso taxar a importação de aço da China porque está trazendo prejuízo ao aço brasileiro. É verdade, é preciso que a gente pense em uma tributação. Mas eu fiz questão de dizer: acho que vocês estão cometendo um problema. O problema não é só a China. A China, há pouco tempo, produzia quase que a mesma quantidade de aço do Brasil, 35 milhões de toneladas. O que aconteceu com a China? Eles avançaram para 1 bilhão de toneladas e nós continuamos com 35 milhões. Esse é o dado concreto".
"E eu fazia questão de lembrar aos companheiros do aço que quando eu deixei a Presidência, em 2010, a indústria automobilística vendia exatamente 3,8 milhões de carros nesse país. E quando eu voltei, em 2023, a indústria automobilística vendia apenas 1,8 milhão. Está aí o problema do aço. Se eu não produzo carro eu não uso aço. Esse país tem 86 mil trabalhadores na indústria naval, estava produzindo navios petroleiros enormes, plataformas, sondas. Parou. Está aí o problema do aço. Quantas casas foram feitas do Minha Casa, Minha Vida - ou do Cara Verde e Amarela que inventaram - durante os últimos seis anos? Nós voltamos para o governo e tinham 87 mil casas paralisadas. Está aí o problema do aço. Se a construção civil não cresce, se a indústria automobilística não cresce, se a indústria naval não cresce, vai ter um problema no aço", acrescentou.
Inflação
Rebatendo os críticos que acusam o governo de promover gastos excessivos sem supostamente se preocupar com a inflação - motivo que levaria o Banco Central a manter a taxa básica de juros (Selic) nas alturas, atualmente em 10,5% ao ano -, o presidente enfatizou que a inflação é um ponto de atenção permanente para sua gestão. "Se tem uma coisa que o governo deseja é que a inflação seja baixa, e eu quero que a inflação seja baixa porque eu fui operário de fábrica e eu vivi com inflação de 80% ao mês. Eu tinha que receber meu salário e correr no atacadista para comprar excesso de papel higiênico, de óleo de soja, porque eu só podia comprar o que não era perecível. Eu já vivi esse mundo. Então eu rogo, peço, trabalho para que a inflação seja baixa, mas eu também rogo e peço para que a gente possa melhorar a vida do povo mais pobre desse país. É muito fácil governar um país se você não olhar para todos".
Anteriormente, Lula tratou de seu objetivo de elevar o padrão de vida dos brasileiros ao de classe média: "qual é a sociedade que nós buscamos criar? É uma sociedade em que cada trabalhador ou trabalhadora possa consumir aquilo que produz. Não é Marx, é Henry Ford. Ele dizia textualmente: eu quero que os meus trabalhadores comprem os produtos que fabricam".
Microeconomia
O presidente também pediu mais atenção aos resultados da microeconomia, que vem apresentando bons indicadores, mas ainda abaixo do possível. "Meu otimismo não se dá apenas pela discussão macroeconômica. Muitas vezes a macroeconomia não representa tudo que acontece no país. Lembro que uma vez estava com o Guido Mantega e [Henrique] Meirelles fazendo um debate em Frankfurt, com quase 1,5 mil empresários alemães, e falaram muito da macroeconomia. E eu falei: eu acho engraçado que o Banco Central e o ministro da Fazenda esqueceram de uma coisa chamada microeconomia, que muitas vezes gera muitos empregos, muita oportunidade e uma produtividade extraordinária, que é o que a gente está fazendo nesse instante. É preciso que vocês estudem a macroeconomia mas saibam o que está acontecendo lá embaixo. Não na pessoa que tomou R$ 1 milhão emprestados, mas que tomou R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 500 mil. Essa economia está funcionando a todo vapor e está muito aquém daquilo que eu acho que tem que funcionar".
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