“Se Trump quiser cumprir suas promessas, o caminho é a desvalorização do dólar”, diz Varoufakis
Economista aponta contradições na estratégia de Donald Trump e questiona a relação com a China e o papel hegemônico da moeda norte-americana
247 – Em publicação na plataforma X (antigo Twitter), o economista Yanis Varoufakis levantou questionamentos sobre como Donald Trump poderia retomar, em 2025, o crescimento da economia dos Estados Unidos sem abrir mão da hegemonia cambial do dólar. De acordo com Varoufakis, “Trump quer impulsionar as exportações, trazer de volta empregos americanos do exterior e reduzir o déficit comercial. Para isso, ele precisa de um dólar mais fraco”. Ao mesmo tempo, porém, “Trump também quer um dólar forte e não tolerará qualquer desafio ao seu quase monopólio sobre os pagamentos internacionais. Será que ele pode ter as duas coisas?”.
Segundo o economista, essa contradição está no cerne da estratégia de Trump para sustentar a economia americana. Como aponta Varoufakis, “As tarifas anunciadas por Trump provavelmente elevarão o valor do dólar por conta do aumento da incerteza global. Esse fortalecimento da moeda pode anular as pressões de queda sobre as importações e, assim, manter inalterado o déficit comercial dos EUA.” Já quanto aos cortes de impostos para os mais ricos, Varoufakis destaca: “Eles vão impulsionar a entrada de capital estrangeiro nos Estados Unidos, reforçando ainda mais o dólar e aprofundando o desequilíbrio entre poupança interna e investimento, raiz do déficit comercial do país.”
Outro ponto crucial levantado por Varoufakis é o papel de quase monopólio do dólar nas transações internacionais. “Sempre que a economia dos EUA enfrenta problemas, o dólar tende a se valorizar”, explica. Ele argumenta que, caso Trump realmente estivesse determinado a reduzir o déficit comercial e tornar as exportações mais atrativas, “teria de querer o fim da dominância global do dólar”. Entretanto, Varoufakis pondera: “Isso significaria o fim dos Estados Unidos como hegemonia global, algo que Trump não deseja ver acontecer em seu governo.”
O economista relembra ainda o episódio dos Plaza Accords, de 1985, em que Ronald Reagan pressionou o Japão a valorizar a própria moeda: “Talvez o que possa funcionar para Trump seja algo parecido com o que Ronald Reagan fez com o Japão naquela época: ele deu um ultimato para que eles apreciassem sua moeda de forma maciça, ou então enfrentariam tarifas pesadas sobre suas exportações.” Mas Varoufakis questiona se a mesma estratégia funcionaria com a China: “A China não é o Japão — eles não vão ceder tão facilmente.” Há ainda a possibilidade de o gigante asiático, em conjunto com os BRICS, “transformar o bloco em um sistema à la Bretton Woods, com o yuan no centro”, embora Pequim ainda não tenha decidido se seguirá por esse caminho.
Para Varoufakis, o desfecho dessa situação — em que se conciliam os interesses de Trump, o valor do dólar e a ascensão chinesa — dependerá das escolhas políticas e econômicas dos EUA e da China nos próximos anos. “Nos próximos meses ou anos, saberemos as respostas. Até lá, fiquem bem”, finaliza o economista. Confira:
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