"A atuação militar contra a democracia é sistemática e historicamente impune", diz historiadora
Carla Teixeira aponta desafios históricos e estruturais no enfrentamento ao golpismo militar no Brasil
247 - A professora Carla Teixeira, em uma entrevista à TV 247, discutiu os desdobramentos da tentativa de golpe associada ao governo Jair Bolsonaro, incluindo revelações sobre planos de envenenamento contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Carla destacou como a história de golpismo militar no Brasil continua a impactar a democracia brasileira e o funcionamento das instituições.
"Não tem como falar sobre o golpe contra a democracia sem lembrar do apoio que os militares deram ao impeachment da Dilma Rousseff. Tudo começa ali", afirmou Carla. Para ela, a presença militar em ações golpistas remonta ao golpe de 2016 e se intensifica com a ascensão de Bolsonaro. A professora pontuou ainda que os militares se beneficiaram amplamente do governo Bolsonaro, ocupando cargos estratégicos e garantindo privilégios corporativos, como a exclusão da reforma da Previdência.
O histórico de tutela militar sobre a política brasileira
Carla abordou o envolvimento militar em diversos momentos-chave da história republicana, desde o suicídio de Getúlio Vargas em 1954, em meio a uma intensa campanha da Aeronáutica contra seu governo, até a tentativa de impedir a posse de João Goulart em 1961. "A atuação militar contra a democracia é sistemática e historicamente impune", argumentou.
A professora mencionou figuras como o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no governo Bolsonaro, e sua ligação com mentores que conspiraram contra governos democráticos em momentos cruciais. "O que vemos é uma continuidade histórica. Essas figuras se consideram acima da lei e agem com a certeza de que não enfrentarão consequências."
A falha estrutural no enfrentamento ao golpismo
Um dos pontos mais destacados por Carla foi a relutância do governo Lula em lidar com as Forças Armadas de forma mais incisiva. Para ela, a nomeação do ministro José Múcio para o Ministério da Defesa e a permanência do GSI demonstram a falta de disposição política para enfrentar essas questões. "O governo precisa acabar com o GSI. Ele foi capturado por interesses golpistas. Não há como mantê-lo", criticou.
Além disso, a professora enfatizou que o fortalecimento das Forças Armadas enquanto instituição deve passar por uma ampla reforma, incluindo mudanças na formação e na autonomia da reserva militar, hoje influenciada por ideologias conservadoras e retrógradas.
Justiça e responsabilidade coletiva
Carla defendeu que a responsabilização dos militares golpistas não pode ser limitada a indivíduos. "Essa história de separar CPF de CNPJ é conversa mole. A corporação como um todo precisa ser responsabilizada." Ela destacou a importância de levar os casos ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas também alertou para a tentativa de restringir julgamentos ao Superior Tribunal Militar (STM), o que poderia diluir a punição e enfraquecer o caráter pedagógico das decisões judiciais.
"É fundamental que o Brasil aproveite este momento único para reformar as Forças Armadas e garantir que jamais voltem a atuar contra a democracia", concluiu. Assista:
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