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    “A esquerda já foi ao centro e perdeu”, afirma David Deccache

    Economista critica os impactos da agenda neoliberal e alerta para a urgência de uma esquerda autêntica na disputa política e econômica no Brasil

    (Foto: Divulgação)

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    247 - Em uma conversa no programa Brasil Agora, da TV 247, o economista David Deccache abordou o impacto das políticas neoliberais e sua visão sobre o papel da esquerda na atual conjuntura brasileira e global. Segundo ele, a ascensão de líderes de extrema direita, como Donald Trump e Jair Bolsonaro, é reflexo de uma profunda insatisfação popular gerada pelo “neoliberalismo brutal”, que, nas palavras de Deccache, “esgarçou o tecido social e deixou um vácuo ocupado pela direita”.

    De acordo com Deccache, o modelo neoliberal, cada vez mais agressivo, não tem sido devidamente confrontado pela esquerda, que tem se “brutalizado em sua ânsia de lucro, em um contexto de crise estrutural do capital”. Ele destaca que, enquanto a extrema direita capturou o ressentimento popular, a esquerda deixou de se opor radicalmente ao sistema e acabou agindo como mera “gestora” do modelo, sem oferecer uma alternativa clara. “A eleição de figuras como Trump e Bolsonaro é a manifestação desse esgarçamento do tecido social produzido pelo neoliberalismo, e a ausência de uma oposição de esquerda que canalize esse descontentamento é uma oportunidade perdida”, analisou.

    A armadilha do pragmatismo político

    Ao discutir o desempenho da esquerda nas eleições recentes, Deccache rejeita a ideia de que a derrota tenha ocorrido por falta de uma postura mais moderada. “Esse debate é falso”, afirma. Para ele, a esquerda já “foi ao centro e perdeu”, evidenciando que os eleitores esperam uma postura mais assertiva, que não se confunda com o status quo. A experiência nas eleições municipais em São Paulo, na qual Guilherme Boulos optou por um tom mais moderado, foi um exemplo claro desse erro estratégico, segundo Deccache. “A esquerda se aproximou do centro e foi um desastre em termos de mobilização popular. Em 2020, estávamos muito mais engajados; em 2024, tentamos nos aproximar do centro e colhemos um resultado negativo”, afirmou.

    A precarização dos trabalhadores e a necessidade de um novo contrato social

    Deccache critica também o Projeto de Lei de Política Nacional de Uberização, afirmando que a legislação não atenderia aos interesses dos trabalhadores. Ele aponta que, durante as discussões, muitos trabalhadores rejeitaram o projeto por oferecer garantias insuficientes e criar mais subordinação ao sistema. “O que o trabalhador quer é uma Previdência que lhe ofereça segurança real, e não uma reforma desastrosa que o faça trabalhar até morrer”, explicou.

    Para ele, o governo deveria lutar pela revisão das reformas trabalhista e previdenciária promovidas durante os governos Temer e Bolsonaro, em vez de aprofundar a precarização do trabalho. “Os trabalhadores estão lutando por direitos reais e melhores condições, mas a atual estrutura neoliberal não permite isso”, destaca Deccache, argumentando que a esquerda precisa focar em medidas estruturais para combater a precarização do trabalho e garantir direitos.

    Expansão fiscal e o impasse da política econômica

    Ao analisar o governo Lula, Deccache aponta uma contradição interna entre a agenda expansionista, que fortalece a massa salarial e reduz o desemprego, e as pressões fiscais impostas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para ele, o atual crescimento econômico é fruto de políticas automáticas de gasto, e o impasse está entre abandonar o teto de gastos ou comprometer direitos fundamentais. “A expansão fiscal é positiva, pois faz o desemprego cair, mas o teto de gastos representa um freio à inclusão social”, alertou.

    Segundo Deccache, Haddad tem defendido medidas que desprotegem constitucionalmente áreas essenciais como saúde e educação, o que, na visão de Deccache, significaria um retrocesso social. Ele acredita que, diante da escolha entre flexibilizar o teto de gastos e preservar direitos, a esquerda deve optar pelo último. “Ou abandonamos o teto ou abandonamos direitos, e a escolha deve ser clara”, afirmou Deccache.

    Para onde deve ir a esquerda?

    Deccache enfatiza que a esquerda precisa ser “uma figura de enfrentamento ao sistema de precarização” e não se confundir com os gestores do neoliberalismo, que ele vê como a causa dos problemas sociais atuais. Segundo ele, o caminho para recuperar o apoio popular é propor um projeto realmente alternativo, que proteja os trabalhadores e garanta direitos sociais.

    Para encerrar, Deccache reafirmou que a tarefa da esquerda é inspirar os eleitores e retomar a luta contra a exploração neoliberal. “A eleição é consequência. A esquerda deve ser esquerda e oferecer uma alternativa real ao modelo atual. Não podemos ser apenas uma outra versão da mesma estrutura que precariza o povo”, finalizou. 

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