"Apoiar e pressionar o governo são atitudes complementares", diz Breno Altman

247 - Em entrevista ao programa Bom Dia 247, o jornalista Breno Altman analisou o contexto político do governo Lula, destacando os desafios de uma gestão de frente ampla e a importância de equilibrar apoio e pressão interna. Segundo Altman, "apoiar o governo Lula contra a extrema direita de maneira incondicional e pressionar para que ele adote um programa mais contundente contra o capital financeiro não são atitudes contraditórias".

Altman explicou que a configuração de um governo de frente ampla, como o liderado por Lula, envolve forças contraditórias e, muitas vezes, antagônicas. “Esse governo foi formado para derrotar o bolsonarismo, mas inclui correntes vinculadas ao agronegócio e ao capital financeiro, que pressionam por um programa econômico que acelera a acumulação de capital e contraria os interesses das classes trabalhadoras”, pontuou.

Sobre a recente votação do pacote fiscal, Altman avaliou que o processo careceu de diálogo com setores populares que sustentam o governo. “Ninguém discutiu com o PT, sindicatos ou movimentos populares. O pacote veio do governo, mas foi modificado no Congresso com pouca participação dessas forças”, afirmou. Ele destacou a atuação de deputados como Natália Bonavides e Rui Falcão, que votaram contra medidas que impactam negativamente os trabalhadores.

Altman também criticou o impacto do novo pacote fiscal na política de valorização do salário mínimo, classificando a mudança como prejudicial em médio e longo prazo. “O salário mínimo reflete diretamente nos rendimentos de 79% dos trabalhadores do país. A nova política reduz o possível aumento, afetando não só os que recebem até um salário mínimo, mas toda a classe trabalhadora”, alertou.

O jornalista destacou a necessidade de enfrentar pressões do capital financeiro, que, segundo ele, têm direcionado políticas públicas em benefício de interesses privados. “O capital financeiro busca garantir que os recursos do Estado sejam destinados ao pagamento de juros da dívida, reduzindo investimentos públicos e abrindo espaço para o setor privado em áreas essenciais como educação”, analisou.

Em relação ao papel da mobilização popular, Altman argumentou que a falta de incentivo a esse tipo de ação compromete a capacidade de resposta do governo. “Governar não pode ser apenas operar instituições. É preciso mobilizar e organizar o povo como fator de poder, algo que está ausente da estratégia do governo petista desde 2003”, afirmou.

Ao final, Altman reforçou a necessidade de revisar a abordagem política para fortalecer a base social do governo e evitar que medidas impopulares beneficiem a extrema direita nas próximas eleições. "Sem a pressão pela esquerda, o governo Lula estará mais frágil nas negociações e pode perder apoio popular. É fundamental que a mobilização popular retorne ao horizonte estratégico", concluiu. Assista: