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    Appio revela segredos sobre a Lava-Jato e denuncia "gestão secreta de bilhões"

    Ex-titular da 13ª Vara Federal de Curitiba fala sobre caixa-preta da Lava-Jato, desvios de recursos e triangulações financeiras envolvendo Petrobras e EUA

    (Foto: ABR)

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    247 – Em uma entrevista ao programa Dando a Real, da EBC, o juiz federal Eduardo Appio, ex-responsável pela 13ª Vara Federal de Curitiba, onde tramitavam os processos da Operação Lava-Jato, compartilhou informações inéditas e chocantes sobre o funcionamento da força-tarefa. Durante o programa, Appio detalhou as dificuldades enfrentadas durante sua curta e conturbada passagem pela Vara, abordando temas como corrupção judicial, ocultação de provas e a gestão de bilhões de reais em contas secretas.

    Eduardo Appio, que substituiu a juíza Gabriela Hardt e ocupou a posição antes ocupada por Sérgio Moro, trouxe à tona documentos e dados até então inacessíveis ao público. Segundo ele, “existem sim elementos que foram mantidos sob sigilo máximo e que a sociedade brasileira não conhece”. Ele descreveu a falta de colaboração por parte de servidores da Vara e afirmou que foi recebido com hostilidade ao tentar abrir a "caixa-preta" da Lava-Jato.

    A gestão bilionária secreta

    Uma das revelações mais impactantes de Appio foi a existência de uma conta bancária secreta, acumulando bilhões de reais provenientes de acordos de leniência e multas pagas pelas empresas envolvidas na Lava-Jato. Esse montante, que segundo ele chegou a R$ 5 bilhões, estava sob o controle discricionário de Sérgio Moro e Gabriela Hardt. "Esse dinheiro deveria ter sido recambiado aos cofres da União", explicou o juiz, "mas foi liberado de maneira indevida para a Petrobras, que, por sua vez, transferiu parte dos valores para o Departamento de Justiça dos Estados Unidos".

    O esquema, segundo Appio, era complexo e envolvia uma "triangulação de dinheiro", com a Petrobras repatriando recursos que, em teoria, deveriam beneficiar a população brasileira, mas que teriam sido destinados a uma fundação privada sob o controle dos procuradores da Lava-Jato. “O que se pretendia era criar uma fundação gerida pelos próprios membros da força-tarefa, sem qualquer fiscalização”, afirmou.

    Acusações de espionagem e grampos ilegais

    Outro ponto destacado na entrevista foi a questão das interceptações telefônicas. Appio afirmou que, ao assumir a 13ª Vara, encontrou diversas escutas sigilosas e documentos que indicavam possíveis práticas de espionagem política. Comparando a situação ao que ocorreu nos Estados Unidos sob a liderança de J. Edgar Hoover no FBI, Appio afirmou: “havia indícios concretos de espionagem política na 13ª Vara. Não consegui investigar tudo, pois fui removido antes de completar o trabalho.”

    Entre os episódios relatados, o juiz citou o caso do ex-deputado Tony Garcia, que teria atuado como agente infiltrado de Moro, gravando conversas com políticos e figuras influentes sem o conhecimento dos envolvidos. Esses áudios, segundo Garcia, eram enviados diretamente a Moro, mas não foram utilizados em processos judiciais, levantando a suspeita de uso indevido para outros fins.

    A polêmica com Tacla Duran

    O advogado Tacla Duran, que vive na Espanha e se recusa a voltar ao Brasil por medo de prisão, também foi mencionado. Duran alega que existia uma "indústria da delação" dentro da Lava-Jato, na qual advogados ligados a Moro e à operação exigiam pagamentos milionários para fechar acordos de delação. Eduardo Appio afirmou que tentou trazer Duran ao Brasil sob um salvo-conduto, mas uma ordem de prisão expedida por um desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Marcelo Malucelli, inviabilizou o depoimento.

    Essa ordem de prisão, segundo Appio, estava envolta em controvérsia, pois o filho do desembargador era sócio do escritório de advocacia de Moro. Appio revelou que chegou a telefonar para o filho de Malucelli para confirmar seu vínculo com Moro, em uma tentativa de expor o possível conflito de interesses. A ligação, que foi amplamente divulgada pela imprensa, levou ao seu afastamento da 13ª Vara.

    O desfecho

    Após quatro meses à frente da 13ª Vara, Eduardo Appio foi afastado do cargo sem o direito à ampla defesa, em um processo que ele descreve como uma "canelada" de Moro e seus aliados. "Faria tudo de novo", declarou o juiz, ao ser questionado se se arrependia de suas ações. "Minha missão era combater a corrupção, e fiz o que era necessário, mesmo sabendo que estava praticamente assinando um suicídio profissional."

    A entrevista revelou a complexidade e as controvérsias que cercam a Operação Lava-Jato, jogando luz sobre práticas questionáveis que, segundo Appio, ainda precisam ser investigadas mais profundamente, em suas suas palavras, “a Lava-Jato foi, de fato, uma árvore envenenada, cujos frutos estão se tornando cada vez mais amargos”.

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