"Declaração de Kazan é o mapa de um mundo multilateral e equânime", diz Pepe Escobar
Com decisões estratégicas e simbólicas, os BRICS apontam novos caminhos para um sistema global mais justo, aponta o analista geopolítico
247 – A recente cúpula dos BRICS, realizada em Kazan, na Rússia, marcou um momento histórico para o bloco, com o compromisso de fortalecer a multipolaridade no cenário internacional. Em análise publicada em seu Pepe Café no YouTube, o analista geopolítico Pepe Escobar ressaltou a importância do evento, considerando a "Declaração de Kazan" como o guia para um futuro multilateral. "Esse documento é o mapa de um mundo mais justo e equânime", afirma Escobar, comparando-o ao impacto da Conferência de Bandung em 1955, que reuniu líderes do então chamado Terceiro Mundo em busca de uma ordem mundial descolonizada.
Escobar destacou o peso simbólico de Kazan como sede da cúpula, uma cidade marcada pela coexistência de muçulmanos tártaros e cristãos ortodoxos, refletindo a diversidade que os BRICS desejam promover em suas ações globais. A declaração final do encontro reflete o compromisso do grupo em atuar como uma alternativa à ordem hegemônica, com propostas para a reforma das principais instituições internacionais, incluindo a ONU e o FMI, e para uma nova estrutura econômica menos dependente do dólar americano.
Durante a plenária, líderes e representantes de mais de 30 países e seis organizações internacionais discutiram alternativas para um sistema de comércio internacional mais inclusivo. Nesse contexto, Escobar destacou a criação de novos corredores de conectividade, como a "Rota da Seda do Ártico" e o "Corredor Internacional Norte-Sul", ligando Rússia, Irã e Índia. "O que vimos aqui foi o início de um novo tabuleiro global", comentou Escobar, observando a importância dessas rotas para conectar nações de forma independente de influências ocidentais.
No evento, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, também fez um discurso contundente, questionando a eficácia da ONU diante de crises humanitárias, como a violência em Gaza. "Onde está a ONU enquanto vemos genocídios sendo perpetrados?", provocou Maduro, em uma fala que, segundo Escobar, "reduziu Guterres a um ratinho impotente diante da mesa". Para o analista, esses posicionamentos refletem uma demanda global por um sistema mais representativo, onde as vozes do Sul Global sejam de fato ouvidas e respeitadas.
Escobar ainda reforça que, ao contrário de blocos revolucionários, os BRICS seguem uma estratégia de gradualismo. Segundo ele, essa abordagem permite que o grupo avance com estabilidade, propondo mudanças sem romper drasticamente com o sistema atual. "Os BRICS não têm uma ideologia única; são um fórum de articulação entre civilizações que buscam desenvolvimento sustentável e independência", explica.
Com o Brasil na presidência do grupo em 2025, Escobar acredita que os próximos passos do bloco serão essenciais para consolidar as propostas de Kazan. Em sua visão, os BRICS estão agora como um "laboratório gigante" onde novas políticas e sistemas de pagamento alternativos ao SWIFT serão testados, representando uma ruptura potencial com a hegemonia do dólar nas transações internacionais. Assista:
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